Psicoterapia, para quê e para quem?

A palavra Psicoterapia segundo o dicionário Google significa: s.f. qualquer das várias técnicas de tratamento de doenças e problemas psíquicos.


Segundo a Lei nº 4.119/1962 § 1º: Constitui função privativa do Psicólogo a utilização de métodos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento.


Ou seja, na cultura brasileira a função de psicólogo é regulamentada desde o ano de 1962 e são consideradas funções de um Psicólogo o que está descrito nos itens anteriores. Contudo, as descrições das funções de um profissional não descrevem exatamente as contingências nas quais atuamos e também não descrevem ao leitor o que é vivenciar um atendimento psicológico.


Segundo o IBGE (2019), 10,2% da população Brasileira foi diagnosticada com depressão por profissionais da saúde mental, e segundo o site do Conselho Federal de Psicologia (2022) a quantidade de psicólogos com registro no Conselho regional de Psicologia é de 425.476.


A Psicologia é uma profissão reconhecida no Brasil há cerca de 60 anos e já sofreu grandes mudanças no olhar social a estes profissionais. Comumente se escutava que o público alvo desta profissão seria “os loucos”, termo pejorativo que se referia a pessoas que apresentavam surtos psicóticos e que comumente seriam destinadas a instituições manicomiais.


Atualmente a atuação no campo da saúde mental foi ampliada na sociedade, vemos profissionais atuantes na educação, na saúde, na área social, em empresas e a atuação tradicional da clínica permanece também muito ativa. Com esta ampliação na atuação profissional houve também um maior conhecimento da sociedade sobre o trabalho ofertado por esta profissão, bem como os benefícios de contar com este em uma equipe de trabalho. Cada vez mais pessoas entendem que a forma de atuação não restringe a uma sala de consultório.


A atuação prática ocorrida após a regulamentação profissional vem elucidando o papel social desta profissão, para que a atuação não se restrinja ao caráter elitista e conquiste espaço no campo social.


No campo analítico comportamental é compreendido que o homem se constitui em suas relações de aprendizagem com o mundo. Sua bagagem genética contribui muito para isso, mas também surgem diversos aprendizados durante a vida social do indivíduo em suas diversas abrangências (Skinner, 1981).


A terapia de aceitação e compromisso (ACT) descreve que seu campo de atuação se dá no sofrimento humano, algo muito próximo do que podemos interpretar como “doenças ou problemas psíquicos”, que são parte da definição da palavra psicoterapia. Mas que estão mais próximos da função literal da atuação no campo emocional (Saban, 2015).


A psicoterapia tem como função o diagnóstico, mas sua principal atuação não está apenas em atribuir um nome a dificuldade vivida por seus pacientes/clientes. A atuação principal da psicoterapia está em auxiliar o seu público a desenvolver autoconhecimento e a partir deste aprender a estabelecer relações que sejam mais saudáveis e propiciem uma vida em que haja espaço aos diversos campos da dor e uma
relação saudável a ponto de compreender quais aprendizados da vida social não contribuem a construção de uma vida valiosa.


Na sociedade podemos aprender diversas coisas úteis a vida pessoal, sermos expostos a diversos tipos de exemplos de valores compatíveis a vida pessoal. Bem como o contrário está disponível a ocorrer. Por vezes, as exposições a estes diversos valores também podem estar perpassadas por cobranças, familiares, sociais e profissionais. Desvincular-se delas ou construir uma identidade pessoal que não esteja apenas atendendo a expectativa social pode ser difícil em uma sociedade em que a obediência infantil é tão reforçada.


Ainda para além destas funções estão as atuações no aprendizado as limitações pessoais acerca dos psicodiagnósticos. Mas sempre existirão desafios culturais e comportamentais que poderão ser observados e atingidos por estes profissionais no sofrimento humano em nossos diversos campos de atuação, mesmo não havendo neste um objetivo principal de psicodiagnóstico.


A psicoterapia pode ser entendida como uma atuação para promoção de saúde mental e para que possamos promover essa saúde podemos ter atuações com psicodiagnósticos e intervenções, em sua prevenção e no cuidado com a vida humana. Então hoje a atuação é para a sociedade em seus diversos campos e há os que contribuam em uma forte luta social para que esta atuação chegue para todos.

Referências:

CFP, 2022. Quantos Somos. Disponível em: http://www2.cfp.org.br/infografico/quantos-somos/. Acessado em: 30 mai 2022.

IBGE, 2019. Pesquisa Nacional de Saúde. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdfhttps://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdf Acessado em: 31 mai 2022.

SABAN, M. T. Introdução à terapia de aceitação e compromisso. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.

Skinner, B. F. Selection by Consequences. Science, 213, 501-504. 1981.

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

Breve guia sobre pensamentos nas intervenções analítico-comportamentais

Mas afinal, o que é aceitação? E para que serve?