Cada paciente é diferente! Um alerta para terapeutas

Quando um paciente chega ao seu consultório, é natural que você tenha primeiras impressões e por vezes até um olhar apressado de “quem já sabe onde aquilo vai levar”. Afinal, no nosso cotidiano profissional as queixas tendem a se repetir em muitas esferas, como dificuldade em lidar com os próprios pensamentos ou emoções, inabilidades comportamentais ou ainda “crises” conjugais, laborais ou pessoais.

Só que aqui tem um primeiro alerta que desejo fazer que faz toda a diferença: a queixa NÃO é o ponto principal do seu trabalho, ela é na verdade um ponto de partida que te permitirá acessar mais dados de contingências daquele paciente. Em outras palavras, ela te ajudará a ganhar perspectiva e compreender a diferença entre topografia (forma) e função naquele caso. “A topografia de uma resposta pode ser entendida como o produto da atividade motora de um organismo em um dado momento. Enquanto que a função de uma resposta é o sentido atribuído a esses movimentos” (Lopes, 2008).

Se fixamos o nosso olhar na topografia, um choro, um riso, um silêncio ou uma ironia trazem consigo valências pré-determinadas de como devemos agir diante de tal comportamento. Só que ao olharmos para a função um choro pode significar muito além de uma expressão emocional, podendo ser esquiva, consolidação de vínculo terapêutico ou ainda um comportamento “manipulativo” para com o terapeuta. Por isso, é preciso saber descrever o que aquela expressão tem a ver com aquele caso em específico. E para isso é necessário ter dados acerca da história de vida atual e da história de vida pregressa desse paciente.

E aqui trago um segundo alerta que contribuirá para uma prática mais efetiva: não tenha pressa nos seus atendimentos! Não se apresse para compreender todo o caso, nem para intervir, nem para consolidar o seu vínculo com o paciente. Esses são processos que exigem do terapeuta paciência e tempo.

Um terceiro e último alerta que gostaria de deixar se refere a forma como você terapeuta lidará ao se ver enredado nas duas primeiras armadilhas (apego a queixa ou pressa para lidar com o caso). Afinal, “os terapeutas também são suscetíveis a “ir embora” (checking out) em resposta a um conteúdo emocional doloroso, fadiga, enredamento com solução de problema clínico e um profusão de outros fatores. Uma boa regra é: “Quando em dúvida, primeiro fique centrado!” (Hayes, Strosahl & Wilson, 2021, pág. 174). Ou seja, um excelente aliado do terapeuta é a sua capacidade de efetivamente exercitar aquilo que se mostra disponível a ensinar a seus pacientes, especialmente o pilar de atenção ao momento presente. Se efetivamente você estiver com o seu paciente, no aqui e agora da sessão, o olhar pré-determinado e apressado acerca do caso ou ainda a pressa para que o caso “ande” não ganham tanto espaço, e você passa a ser um terapeuta mais atento e conectado àquela demanda que está diante de você. Não se cobre perfeição, apenas se proponha a exercitar a leveza de uma relação mais genuína, presente e atenta com o seu paciente.

Referências Bibliográficas

Lopes, C.E. (2008). Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo radical. Revista Brasileira de terapias comportamentais e cognitivas vol. 10, nº1. São Paulo

Hayes, S.C., Strosahl, K.D., Wilson, K.G. (2021). Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. Porto Alegre: Artmed

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Escrito por Mariana Poubel

Graduada em Psicologia pela UFRJ (2012) e mestre em Saúde Mental pelo IPUB/UFRJ (2015). Fez curso de formação em Terapia Cognitivo Comportamental para adultos e infanto juvenil, curso de capacitação em análise do comportamento e formação em terapias contextuais.
Atua como terapeuta, supervisora e mentora.

Email para contato: marianapoubel@gmail.com

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