Prevenção do abuso sexual infantil: O que funciona?

Uma das tarefas urgentes na área da prevenção de violência é conseguir identificar estratégias de intervenção que consigam proteger crianças de maneira confiável, eficaz e com custo-benefício. Porém, apesar da sua inegável importância, experiências isoladas têm sido verificadas, porém sem uma unificação teórica ou prática dessas estratégias. Com a pandemia de COVID-19, programas existentes foram descontinuados e muitas atividades foram interrompidas, o que causou grande impacto nas estratégias de prevenção e análise de resultados desses programas de prevenção (Katz et al., 2020).

Uma revisão de literatura tentou identificar quais seriam as principais características desses programas (Ferreira et al., 2022). Foi observado que o foco dos programas para crianças e adolescentes estava no fortalecimento de conhecimento, através da psicoeducação, e do ensino de comportamentos de autoproteção. Os artigos obtidos na busca indicavam consistência dos temas, mas com concentração das pesquisas em países desenvolvidos. A proteção de crianças tem sido discutida e sua importância ressaltada em aspectos políticos, é fundamental que pesquisadores e profissionais brasileiros podem buscar inspiração em experiências e evidências empíricas internacionais que entendem que a proteção de crianças deve ser objeto de atuação de toda a sociedade e não renegada por questões ideológicas.

As intervenções com adultos, que envolviam profissionais e estudantes, por sua vez, apresentavam muitas variações e diferenças de aplicação, mas foco em psicoeducação e intervenções breves. Contudo, as intervenções com adultos estão mais ligadas ao ensino de habilidades, com pouca interação e atividades que coloquem os profissionais em contato com situações simuladas de enfrentamento e prevenção do abuso. Essa limitação das pesquisas indica um caminho distinto para os programas de prevenção futuros com foco na prática e na possibilidade de generalização de comportamentos aprendidos para as situações reais. 

Em suma, as intervenções preventivas de abuso sexual infantil têm apostado em duas frentes: diretamente com as crianças e adolescentes e com profissionais que atuam com as crianças e adolescentes. Enquanto com as primeiras, há certa coesão teórica e temática, com os profissionais há uma variedade que impede verificar seu real impacto. Considerando o contexto brasileiro, profissionais que atuam na área de proteção de crianças devem focar em comportamentos de ambos os grupos que indiquem proteção, tal como apresentado por Soma e Williams (2019) que apresenta de forma precisa comportamentos protetivos de crianças em situação de risco para abuso sexual. A tarefa de proteger crianças e adolescentes de abuso sexual é de toda a sociedade e fortalecer esse debate de maneira científica é fundamental para o sucesso dessa empreitada.

Para saber mais:

Ferreira, E. R., Aznar-Blefari, C., Priolo Filho, S. R., & Ricardo Zibetti, M. (2022). Revisão Integrativa sobre a Efetividade de Intervenções Preventivas do Abuso Sexual Infantil. Psicologia: Teoria e Prática, 24(2). https://www.researchgate.net/publication/361592279_Revisao_integrativa_sobre_a_efetividade_de_intervencoes_preventivas_do_abuso_sexual_infantil

Katz, C., Priolo Filho, S. R., Korbin, J., Bérubé, A., Fouche, A., Haffejee, S., … & Varela, N. (2021). Child maltreatment in the time of the COVID-19 pandemic: A proposed global framework on research, policy and practice. Child Abuse & Neglect, 116, 104824. https://www.researchgate.net/publication/346258185_Child_maltreatment_in_the_time_of_the_COVID-19_pandemic_A_proposed_global_framework_on_research_policy_and_practice

Soma, S. M. P., & Williams, L. C. (2019). Livro infantil especializado como estratégia de prevenção do abuso sexual. Psicologia: teoria e prática, 21(1), 186-203.

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Escrito por Sidnei R. Priolo Filho

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba.

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