Pare de Culpar a Testosterona

A Testosterona é um hormônio secretado tanto pelo organismo masculino, quanto pelo feminino, mas para os homens apresenta uma maior importância. Conhecida por fazer a diferenciação sexual e contribuir com questões relacionadas à sexualidade, a Testosterona é também frequentemente associada a comportamentos agressivos e impulsivos. O que é verdade, mas um comportamento não pode ser visto ou analisado apenas pelo viés biológico (filogenético).

O viés biológico dito no parágrafo anterior é descrito por Skinner, em sua obra, intitulada, “Can Psycology be a Science of Mind?”, e traduzida “Pode a Psicologia ser uma Ciência da Mente?”, como o primeiro nível de seleção, a filogênese. Pode-se relacionar este conceito a um outro, e ainda mais conhecido, “Seleção Natural”, que prepara o organismo minimamente para a sobrevivência dentro de seu habitat, levando em conta, a evolução de sua espécie. A ação de hormônios como a Testosterona é analisada dentro deste nível.

Skinner fala, ainda, sobre outros dois níveis de seleção, a ontogênese e a cultura. Enquanto os fatores ontogenéticos se relacionam com a história individual do sujeito, ou seja, aos comportamentos que foram reforçados e punidos ao longo de sua vida, que fará sua diferenciação enquanto “organismo único”, os aspectos culturais estão intimamente ligados ao aprendizado de modelos e funções do ambiente social.

Apesar da filogênese ser relevante para a compreensão do comportamento humano, a ontogênese e a cultura podem, em muitas situações, exercer mais poder sobre um organismo. Esta discussão é importante para que se dê espaço para reflexões acerca da responsabilização do indivíduo por seus próprios comportamentos. Muitas pessoas costumam justificar comportamentos socialmente indesejáveis emitidos por homens pela perspectiva biológica. “É muita Testosterona; os hormônios estão à flor da pele”. Estes são exemplos de frases que reforçam a responsabilização ou culpabilização impostas ao hormônio da Testosterona.

Culpar um hormônio pode ser uma tentativa de anular a própria responsabilidade na mudança de comportamento. Aprender novas formas de se comunicar e relacionar exige uma disposição ao esforço e engajamento deliberados. Discriminar como um comportamento impacta no relacionamento com outras pessoas e compreendê-lo a partir de uma ótica, não apenas filogenética, mas histórica e sociocultural, é um passo importante para o aprendizado de novos comportamentos e padrões.

Abrir mão de um padrão agressivo e impulsivo, pode ser um processo desafiador, exigindo variação comportamental e exposição a novos tipos de contingências, no entanto, olhar para si e repensar padrões de comportamentos, pode representar não somente um olhar sensível ao crescimento pessoal, mas algum nível de consideração por aqueles com quem se relaciona. Portanto, pare de culpar a Testosterona.

REFERÊNCIAS

SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. 10. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

Skinner, B. F. (1999). Can psychology be a science of mind? Cumulative Record – Definitive Edition. Acton, Mass.: Copley Publishing Group. Publicado originalmente em 1990, na American Psychologist, 45 (11): 1206-1210. Tradução disponível em http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/skinner/A_Psicologia_pode_ser_uma_ciencia_da_mente.pdf

5 3 votes
Article Rating
Avatar photo

Escrito por Lucas Barroso

Graduado em Psicologia Pelo Centro Universitário- UNDB (São Luís- MA);
Graduando em Análise do Comportamento Aplicada à Clínica pela Unyleya;
Formação em Preceptoria e Saúde pela UFMA Virtual;
Atua como psicoterapeuta analítico comportamental e preceptor de estágios na UNDB, Centro Universitário em que formou-se.

Autoajuda

Alexandre Tzermias e Tony DuBose

Entrevista com Tony DuBose, parte I: o futuro da DBT e os desafios do iniciante