O Luto e a Morte do Amigo Pet

Segundo o Dicionário Aurélio, luto é um sentimento de tristeza profundo pela morte de alguém, sendo um período muito pessoal, no qual cada indivíduo lida da maneira que sabe e pode com o luto. De acordo Vieira (2019), o luto pode ser caracterizado como um conjunto de respostas físicas, emocionais e comportamentais diante de uma perda significativa para o indivíduo, e que é fundamental vivenciar o luto para que o indivíduo consiga se reorganizar.

Conhecer e entender o processo do luto pode ajudar a compreender o turbilhão de emoções inerentes à perda.

Nos centros urbanos das sociedades contemporâneas, é possível constatar a existência de um número cada vez maior de animais de estimação, principalmente de cães e gatos, em lares de todas as classes sociais (Archer, 1997).

De acordo com Vieira, 2019, os dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (“Abinpet”, 2014), mostram que a população mundial de animais de estimação, em 2012, era de 1,51 bilhão. No quadro geral, o Brasil estava em quarto lugar, desde 2008, com 106,2 milhões.

O que nos leva a pensar o quanto os pets são parte importante da nossa vida e do nosso dia a dia.

Mas por que há tanto preconceito com a dor sofrida na perda de um pet?

A sociedade não aceita o pesar causado pela morte de animais de estimação, minimizando e menosprezando este luto. Isto ocorre pelo preconceito em aceitar que alguém chore pela morte do seu bicho como se fosse por uma pessoa. Os enlutados podem se sentir pessoas incompreendidas, suprimindo o seu luto.

A morte de um ente amado é uma das dores mais intensas que o indivíduo pode experimentar, e os sentimentos causados pela morte de um animal de estimação podem gerar sofrimento análogo à morte de uma pessoa querida, e por isso é possível analisar o luto pela morte do pet, de acordo com as fases do luto elaboradas por Kluber-Ross.

Fases do Luto (Kubler-Ross, 1969)

· Negação: Pode acontecer ainda quando o animal está vivo, em fase terminal, ou com risco de morte. O dono tem dificuldade em aceitar a morte do animal, podendo evoluir para um estado de choque quando a morte acontece. O dono tem dificuldade em entender que o animal já morreu, tem a sensação de que pode mudar a realidade e que seu animal de estimação voltará a viver.

· Raiva: Assim que o dono se dá conta da realidade, da perda de seu animal de estimação, ele pode se sentir raivoso. Esta raiva pode ser direcionada para o veterinário que não salvou a vida de seu animal, para os familiares que não respeitam sua dor, ou não expressam, como ele, sentimentos pelo pet, também ficar com raiva de Deus e até se sentir traído pelo próprio animal de estimação que o deixou.

· Culpa: Os donos se questionam a todo o momento se não poderiam ter feito diferente, se fizeram a escolha certa, se não deveriam ter procurado outro profissional. Nos casos de eutanásia o dono também passa pela culpa, mesmo quando ele aceita o processo, fica o questionamento se ele deveria ter insistido no tratamento, se deveria ter feito a eutanásia antes, se prolongou demais o sofrimento do seu pet ou se não se esforçou o suficiente para lhe garantir a vida.

· Depressão: Não há um tempo exato para esta tristeza passar. Partilhar este momento com outras pessoas que compreendem ou passam por essa dor, podem auxiliar.

· Aceitação: A aceitação é um momento marcado por calma e paz, em que o dono conseguirá encontrar um lugar adequado para seu animal de estimação em sua vida psicológica. Isso não significa esquecê-lo, mas sim significá-lo emocionalmente. Neste momento a morte do animal não mais “paralisará” o dono. (Kubler-Ross, 1969)

Como Lidar Então?

Segundo Angeli (2017), algumas atitudes podem ajudar a lidar melhor com o luto:

· Vivenciar o Luto: Fazer uma cerimônia de sepultamento em cemitério para animais ou em propriedade privada;

· Reunir amigos e familiares para uma doação a uma brigo Pet em memória do companheiro;

· Falar sobre a morte com amigos ou familiares que sabidamente se importam;

· Plantar uma flor ou árvore em memória do companheiro;

· Organizar um livro memorial com fotos;

· Escrever um obituário na internet;

· Buscar grupos de apoio ao luto;

· Adotar um outro companheiro.

Não esqueça que o processo de luto é único, cada indivíduo vai vivê-lo em seu tempo e da sua forma. Não existe certo e errado.

Quando procurar ajuda especializada?

Quando a pessoa sentir necessidade. Pode ser logo após a perda ou tempos depois. Muitas pessoas só veem necessidade de procurar um profissional quando sentem que o seu processo de luto está muito prolongado impossibilitando ou paralisando por muito tempo sua rotina, quando esta tristeza te impedir de seguir adiante, e te isolar por muito tempo do que fazia, talvez seja hora de procurar ajuda.

Referências

Archer, J. (1997). Why do people love their pets?. Evolution and Human Behavior, 18, 237-259. Recuperado a partir de http://pt.scribd.com/doc/54209409/ Archer-1997-Why-Do-People-Love-Their-Pets#scribd

Márcia Núbia Fonseca Vieira (2019)Quando morre o animal de estimação: um estudo sobre luto. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. 2019, vol.25, n.1, pp. 239-257. ISSN 1677-1168. http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2019v25n1p239-257.

Kubler-Ross E. On death and dying. New York: Scribner; 1969.

Angeli, Urnas, (2017) Disponível em: <https://www.urnasdeangeli.com.br/assunto/animais-de-estimacao/>

5 2 votes
Article Rating
Avatar photo

Escrito por Fernanda Cerqueira

Psicóloga Clínica. Mestre em Análise e Evolução do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Especializada em Terapia Analítico Comportamental Clínica pela Unijorge. Psicóloga, formada pela União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime) Salvador BA.
E-mail para contato:
nandacerqueira-@hotmail.com

Parte 4 – Possíveis Modelos de Registro Comportamental na Terapia Analítico Comportamental Infantil

Desvendando o Tratamento do TEPT no Brasil