Contribuições da Psicologia para pacientes com endometriose

A endometriose (EDM) é uma doença inflamatória de natureza progressiva caracterizada pelo crescimento desordenado do tecido que reveste o útero, chamado de endométrio. Esse quadro clínico atinge 1 em cada 10 mulheres e, mesmo com esse quantitativo alto o diagnóstico costuma ser bem tardio, sendo bem comum em idade fértil. Os sintomas mais comuns relatados são: cólicas incapacitantes, dor durante a relação sexual, fadiga, dor e sangramento ao urinar/evacuar e dificuldade de engravidar (Ministério da Saúde, 2022).

Apesar de ser muito associada apenas a ginecologia, a endometriose demanda um tratamento multiprofissional, com profissionais da nutrição, fisioterapia, osteopatia e psicologia além do médico ginecologista. Partindo de um olhar integral e individualizado da mulher, uma vez não havendo cura, deve-se identificar e mapear os sintomas consequentes da EDM e buscar estratégias e tratamentos possíveis e isso também se aplica ao aspecto emocional.

Assim, indicar e encaminhar a mulher para um acompanhamento psicoterapêutico pode não só auxiliar a lidar com as consequências emocionais relacionada à EDM, como também na adesão ao tratamento (Ministério da Saúde, 2022). Ou seja, a psicóloga pode trabalhar as inseguranças, medos e dificuldades nas terapêuticas médicas adotadas buscando explorar o emocional da mulher e identificar estratégias de enfrentamento e adesão que favoreçam esse processo.

Além disso, a própria doença já implica em algumas mudanças cotidianas, por exemplo as cólicas incapacitantes – sintoma principal e mais conhecido da EDM – que pode levar a mulher a faltar ou diminuir o desempenho no trabalho ou não conseguir ir à compromissos sociais. Outra consequência é a mudança na alimentação, esse quadro clínico requer uma dieta anti-inflamatória e algumas pessoas podem sentir muita dificuldade nessa adaptação.

Outro ponto relevante é a fertilidade, até 50% dos diagnósticos de infertilidade são relacionados a EDM (Associação Brasileira de Reprodução Assistida, n.p.). Sabe-se que a maternidade é algo culturalmente associado a feminilidade e ao estereótipo do que é ser mulher, logo, ter essa capacidade fisiológica ameaçada, pode ser algo muito aversivo. E, ao longo do processo psicoterapêutico questões como essas devem ser acolhidas, validadas e exploradas quando trazidas como algo relevante pra mulher.

Por fim, cabe também lembrar que o aspecto amoroso e/ou sexual da mulher pode sofrer bastante impacto. Quando há um(a) parceiro(a) fixo(a) algumas “DR’s” (discussão de relacionamento) podem envolver as alterações de cotidiano citadas anteriormente e, quando se trata de relacionamento heterossexual, abordar as questões sobre dor durante a penetração (transtorno da dor gênito-pélvica) e possíveis adaptações nesse quesito.

Já quando a paciente não está em um relacionamento, pode ter que lidar com a ansiedade de contar para a pessoa sobre o diagnóstico, precisar falar das adaptações e limitações (ainda que temporárias) durante a relação sexual e outros mitos e estereótipos que podem ser levantados em um primeiro contato efetivo com esse quadro clínico.

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Escrito por gabriellamonteiro

Psicóloga que atua sob enfoque da Análise do Comportamento na clínica e tem como foco de estudos saúde da mulher, endometriose e outros quadros relacionados.

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