O período da adolescência, por si só, pode ser considerado um momento de intensas mudanças e conflitos que pode levar o adolescente a comportamentos agressivos, impulsivos e que ofereçam risco à vida Desta forma, é necessário distinguir entre comportamentos normativos desta fase e aspectos patológicos que podem oferecer risco de vida (RATHUS, WAGNER & MILLER, 2015).
A presença de pensamentos, ameaças, tentativas – ou até mesmo a concretização – de suicídio revela a falta de manejos adaptativos de situações que provocam mal-estar emocional (que podem estar presentes em qualquer idade). Neste contexto, pensar no desenvolvimento de formas de identificação, avaliação e tratamento destes mecanismos disfuncionais vem recebendo cada vez mais interesse da comunidade científica de todo o mundo (SWENSON, 2016).A Terapia Comportamental Dialética (DBT, do inglês Dialectical Behavior Therapy) é um tratamento baseado em evidências que propõe uma intervenção baseada em evidências e que possui diversos protocolos (manejo de suicídio, coaching telefônico, etc). Inicialmente, a DBT foi desenvolvida para o tratamento de pacientes diagnosticados com Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), com problemas comportamento suicida e Comportamentos Autolesivos Sem Intenção Suicida (CASIS). Posteriormente, foi estendida para outros casos de desregulação emocional e também para população adolescente (RATHUS, WAGNER & MILLER, 2015).
O desenvolvimento desses sintomas, tanto na adolescência quanto na vida adulta, é compreendido a partir da teoria Biossocial descrita por Marsha Linehan, destacando a presença de vulnerabilidade emocional que, somada a ambientes invalidantes, propicia o desenvolvimento do transtorno na vida adulta (BOGGIANO & GAGLIESI, 2018).
Embora os adolescentes, de modo geral, exibam algum grau de desregulação emocional devido à labilidade de humor razoavelmente benigna, é na adolescência que frequentemente ocorrem as primeiras tentativas de suicídio, comportamentos auto lesivos ou episódios depressivos (RATHUS, WAGNER & MILLER, 2015). Considerando que os adolescentes podem estar vivendo em ambientes invalidantes, e que frequentemente as interações com seus pais ou cuidadores surgem como importantes desencadeadores ou mantenedores de comportamentos de risco, a adaptação da Terapia Comportamental Dialética para adolescentes supre a necessidade de dar suporte aos pais que comumente se sentem estigmatizados e isolados por não saberem como lidar com a desregulação emocional dos filhos e os impactos disso no ambiente familiar (RATHUS & MILLER, 2015).
No modelo Standard, o tratamento em DBT para pacientes adolescentes possui a mesma estrutura, composta por diferentes modos de tratamento, cada uma com sua função específica a saber: 1)terapia individual semanal – tem como objetivo manter a motivação do paciente para mudança, entendendo que seus padrões disfuncionais vão ao longo do tempo se cronificando; 2) treinamento de habilidades – tem como objetivo ensinar habilidades para lidar com as situações desafiadoras e desencadeadoras de desregulação emocional (habilidade de regulação emocional, habilidades de consciência plena, habilidades de tolerância ao mal estar e habilidades de efetividade interpessoal); 3) coaching telefônico – objetiva assegurar a generalização dos aprendizados na terapia individual e do treinamento de habilidades, além de servir como um suporte extra do tratamento; 4) sessões familiares – objetivam estruturar o ambiente, ajudando a torná-lo menos invalidante; e 5) equipe de consultoria – uma reunião clínica, composta por terapeutas formados em DBT que se auxiliam na manutenção das habilidades do terapeuta e a sua motivação (RATHUS, WAGNER & MILLER, 2015).
A inserção das famílias no tratamento dos adolescentes é crucial para que haja reparação e melhora na qualidade das relações entre os familiares além do aumento do repertório de enfrentamento das situações desafiadoras que emergem da desregulação emocional, tanto por parte dos filhos como por parte dos familiares (MILLER, RATHUS & LINEHAN, 2017).
Os membros da família muitas vezes são acusados como os responsáveis pelo desenvolvimento e cronificação dos sintomas de seus filhos, sem que tenham tido a oportunidade de aprender modos mais efetivos de lidar com eles. Muitas vezes, os membros da família ficam invisíveis e sem voz, embora precisem falar sobre a frustração e o pânico que eles têm nessa jornada para lidar com e achar a ajuda para seus membros da família com forte desregulação emocional (PORR, 2010).
Ajudar aos familiares envolve treiná-los a serem mais efetivos com seus filhos, ensinando-os estratégias e encorajando-os a utilizá-las e direcionar seus filhos para que as utilize (RATHUS, 2007). E além disso significa ensiná-los a reconhecer e falar sobre o que sentem quando se vêem incapazes de acalmar o sofrimento dos seus filhos e de manter uma sensação de segurança e estabilidade em suas casas (PORR, 2010).
Familiares precisam, além de ferramentas, de uma ajuda que respeite e faça eco em suas experiências de longo prazo com a convivência com alguém forte desregulação emocional (HARVEY & PENZO, 2009).
Um bom ponto de partida está na psicoeducação sobre os sintomas e do possível diagnóstico a se configurar (MILLER, RATHUS & LINEHAN, 2007). O esclarecimento e entendimento das vulnerabilidades emocionais dos filhos e o impacto dos ambientes na desregulação emocional facilita o trabalho de prevenir crises, estabilizar sintomas e reforçar o uso estratégias efetivas de resolução de problemas que pode melhorar o funcionamento global do paciente e de suas relações, além de contribuir para a generalização das habilidades aprendidas no treinamento (RATHUS & MILLER, 2015).
A DBT para pacientes adolescentes com desregulação emocional tem mostrado resultados promissores com relação a comportamentos suicidas, ideação suicida, automutilação e problemas relacionados a desregulação emocional (RATHUS & MILLER, 2015). A minimização de atitudes parentais invalidantes por meio do ensinamento das estratégias de acolhimento aos pais pode ser o melhor caminho para que se mantenham ativos e esperançosos na busca por uma vida que vale a pena ser vivida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Boggiano J. P., Gagliesi P. (2018) Terapia Dialéctico Conductual, Introducción al Tratamiento de Consultantes con Desregulación Emocional. 1 ed. La Plata, Bs As, Argentina: EDULP.
Harvey P., I. Penzo. J. A. (2009) Parenting a child who has intensive emotions: dialectical behavior therapy skills to help your child regulate emotional outbursts & aggressive behaviors. Oakland, CA: New Harbinger Publications.
Miller A. L., Rathus J. H., Linehan, M. (2007) Dialectical Behavior Therapy with Suicidal Adolescents. New York: The Guilford.
Porr, Velerie (2010). Overcoming Borderline Personality Disorder: a family guide for healing and change. New York: Oxford University Press.