Entre os dias 04 e 08 de dezembro de 2017 aconteceu, em São Paulo, a segunda etapa do II DBT Intensive Training Brasil (leia aqui sobre como foi a primeira etapa). Nesta fase, as reuniões foram focadas na apresentação e discussão do trabalho que os alunos do curso desenvolveram junto às suas equipes de consultoria ao longo dos sete meses de treinamento. Tudo isso foi feito em uma estrutura de Consultoria Expandida em que cada grupo apresentou seu programa de DBT, o caso de um paciente individual e suas dúvidas, para, em seguida, receber consultoria de um dos professores – Tony DuBose, Pablo Gagliesi e Vinícius Dornelles –, dos mentores – Erika Duran, Edela Nicoletti, Diego Alano, Igor Finger, Vinícius Dornelles, Ester Spach, Eduardo Martinho e Mauro Medeiros – e dos demais participantes do treinamento. Para cada consultoria, as seguintes perguntas precisavam ser respondidas pelos grupos:
1) Que avaliações adicionais são necessárias para responder às questões da equipe [em consultoria]?
2) Que soluções adicionais podemos oferecer [enquanto participantes da consultoria expandida]?
3) Quais as implicações para o meu trabalho com meus clientes/ pacientes, minha equipe, meu programa de DBT?
Essas perguntas não apenas direcionavam o olhar dos participantes do curso para aspectos relevantes da consultoria da equipe que se apresentava, mas, também, criavam condições para que cada aluno treinasse a formulação para navegar dentro de um tratamento baseado em princípios, observasse modelos de avaliação e intervenção e refletisse sobre a própria prática como Terapeutas Comportamentais Dialéticos, e claro, recebessem feedbacks dos treinadores em relação às próprias dúvidas e percepções.
Os modelos de avaliação e intervenção eram oferecidos especialmente pelos incríveis Rolle Plays protagonizados pelos treinadores. As dramatizações eram focadas no cliente específico apresentado pela equipe em consultoria. Nelas, o terapeuta responsável pelo caso representava o cliente – demonstrando seus padrões comportamentais problemáticos –, e o treinador, demonstrava algumas das soluções que a DBT poderia oferecer para as dificuldades enfrentadas na condução do tratamento. Nestas encenações, via de regra, ficava bastante claro o equilíbrio dialético entre as estratégias de mudança e aceitação, mesmo nas situações mais improváveis – por exemplo, em intervenções bastante diretivas e duras, mas realizadas de maneira extremamente afetiva, acolhedora e validante.
Após os Rolle Plays os participantes do treinamento precisavam responder a uma quarta questão: “que estratégias foram utilizadas pelo terapeuta?”. Cada grupo tinha um tempo para pensar na resposta, e, posteriormente, compartilhar com os treinadores e o grupo maior; que, em conjunto, modelava a identificação das estratégias da Terapia Comportamental Dialética. Obviamente, dúvidas surgiam. E, quando o próprio grupo não respondia, os treinadores ou os mentores apresentavam aulas breves, mas bastante didáticas, respondendo a estas questões.
Outro ponto de partida para as “aulas breves” foram as dúvidas que os participantes tiveram em relação a um “Exame de DBT” que fizeram em casa no período entre as partes 1 e 2 do curso e em relação a aspectos mais gerais do trabalho em Terapia Comportamental Dialética – aqueles aspectos relacionados ao programa de DBT e aos casos atendidos eram respondidos nas próprias consultorias com os treinadores.
Algumas das dúvidas sobre aspectos gerais do trabalho em DBT, foram: como o terapeuta comportamental dialético deve conduzir o tratamento dos transtornos de ansiedade, como lidar com pacientes que não estão dispostos a participar do treinamento de habilidades, como integrar a hospitalização à Terapia Comportamental Dialética, como manejar alvos secundários, como observar limites pessoais na terapia, entre outros. Cada uma delas foi cuidadosamente respondida, e em muitos casos, atividades práticas eram sugeridas para serem feitas ali mesmo, durante o treinamento, para desenvolver as habilidades necessárias para resolver os problemas relacionados às perguntas.
Aliás, esta foi a principal característica da segunda etapa: ela foi prática! E, talvez, seja isso que a tornou tão sensacional. Foi possível ver e vivenciar muito da DBT. Em várias ocasiões, procedimentos de intervenção da DBT foram utilizados para ajudar os participantes do curso a se desenvolverem como terapeutas. E, como enfatizou Pablo Gagliesi, um dos professores, é desta forma que deve funcionar uma equipe de consultoria. Os participantes devem aplicar uns nos outros os procedimentos de DBT para contemplar as funções do grupo, que são manter a motivação do terapeuta e garantir a adesão de seu trabalho aos princípios da abordagem.
Aprendemos muita coisa! Seria impossível descrever todas elas aqui, por mais que eu desejasse. Mas esse aprendizado não foi fácil. Foram oito meses de estudo intenso, prática, reflexão e discussões em consultoria. Obviamente, cada participante do curso aproveitou o quanto conseguiu, e o grau esse aproveitamento, está diretamente ligado ao quanto pôde se dedicar. O DBT Intensive Training não é para qualquer um. É um curso para aqueles que realmente desejam oferecer o melhor para seus pacientes, para aqueles realmente interessados em aprender a ajudar pessoas que sofrem intensamente a construírem vidas valiosas.
A próxima turma já está confirmada, ainda que a data não tenha sido definida. Em todo caso, quem desejar participar já pode iniciar os preparativos. Algumas leituras essenciais, para antes da primeira etapa, são o livro Terapia Cognitivo Comportamental para o Transtorno da Personalidade Borderline, Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Terapeuta e Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de Terapia Comportamental Dialética para o Paciente, todos com edição em português, publicados e comercializados pela Artmed (Grupo A). Além disso, acompanhe aqui os artigos sobre Terapia Comportamental Dialética publicados por nossa equipe de colunistas. Através deles você pode, também, compreender muito dos conceitos e recursos que a abordagem oferece para o atendimento clínico.