Este é o décimo segundo artigo de uma série que discute a vida de Burrhus Frederic Skinner. Recomenda-se que o leitor interessado leia os artigos anteriores disponibilizados pelo Comporte-se, para que consiga compreender melhor o texto. Quem é o homem por trás da teoria que inspira tantas pessoas até hoje? O objetivo desta série é reconstruir o caminho percorrido por Skinner, apontando aspectos de sua vida pessoal que determinaram seu comportamento e, consequentemente, o de muitos outros. Espera-se que esta narrativa possa não apenas cativar o leitor, mas também tornar natural e humano aquilo que mais nos fascina.
Após a estrondosa repercussão pública do Beyond Freedom and Dignity (1971), Skinner pode se dedicar um pouco mais a sua vida acadêmica e pessoal. O autor era frequentemente convidado para dar palestras e receber prêmios honorários em universidades, mas agora o ritmo desses compromissos começava a comprometer sua saúde. No começo da década de 70, Skinner havia se voltado, principalmente, para dois novos projetos acadêmicos: a escrita de sua autobiografia e a escrita de um livro sobre o behaviorismo.
A autobiografia foi dividida em três volumes: Particulars of My Life em 1976, The Shaping of a Behaviorist em 1979 e A Matter of Consequences em 1983. Cada uma conta uma parte da vida de Skinner, desde sua infância em Susquehanna, até sua velhice em Cambridge. Juntas, as obras somam mais de 1.300 páginas, sendo, de longe, a maior obra de Skinner em termos de extensão. Ao longo dessas obras, Skinner recorre a muitos registros, como cartas e anotações, para contar particularidades da sua vida pessoal e profissional. Segundo o autor: “Ao traçar o que fiz na minha história ambiental em vez de atribuir a um misterioso processo criativo, abri mão da chance de ser chamado de Grande pensador” (Skinner, 1983, p.411).
Em paralelo, o autor também se dedicou a escrever um livro para esclarecer equívocos frequentes em relação à filosofia do behaviorismo radical. O livro aborda, em uma linguagem amistosa, aspectos centrais do behaviorismo como percepção, pensamento e motivação. Ao abordar essas questões, Skinner pretendia convencer o leitor de que suas críticas ao behaviorismo eram, críticas que eram fruto do desconhecimento da filosofia. Esta obra vinha para suprir uma lacuna que não havia sido preenchida por obras anteriores, principalmente em relação devido à grande exposição que o behaviorismo de Skinner teve quando o livro Beyond Freedom and Dignity foi publicado. A obra não conseguiu a mesma fama que seu polêmico predecessor teve e não conseguiu reverter a tendência do público geral de rejeitar as propostas do autor, popularidade e infâmia ainda coexistiam (Bjork, 1997). Um bom exemplo disso foi um dia em que Skinner foi ovacionado por uma plateia de seis mil estudantes na Universidade de Michigan e, no mesmo dia, duramente criticado em uma palestra na Universidade de Indiana. É interessante notar que essas palestras nas quais ele era muito questionado e criticado o ajudaram a escrever o livro Sobre o Behaviorismo, uma vez que ele sabia quais eram as ressalvas do público e estava motivado para persuadir o público.
Em 1974, no mesmo ano que o livro Sobre o Behaviorismo foi lançado, Skinner se aposentou da Universidade de Harvard. Contudo, assim como alguns outros acadêmicos de grande renome, Skinner manteve seu escritório na universidade e continuou indo quase diariamente lá para receber visitas e responder correspondências. Com isso, Skinner pôde se dedicar mais a sua família.
À esta altura, Skinner já tinha duas netas, filhas de Julie e Ernest Vargas (ambos behavioristas responsáveis pela criação e manutenção da B.F. Skinner Foundation), Lisa em 1966 e Justine em 1970. Skinner tirava grande proveito do convívio com as netas, com quem passava tardes de verão ao lado da piscina. A filha mais nova de Skinner, Deborah, morava em Londres e havia se casado com um economista chamado Barry Buzan. Deborah se dedicou ao estudo de Artes Plásticas e exibiu gravuras em museus da cidade, além de escrever críticas sobre restaurantes.
Desde que se mudaram para Harvard, Eve havia encontrado mais satisfação em sua vida. O casal ainda dormia separado, parcialmente porque ele gostava de acordar muito cedo e ela não. Em 1976, aos 65 anos, Eve começou a trabalhar como guia do Museu de Belas Artes de Boston. Para se preparar para tal função, Eve teve que estudar bastante história da arte. Eve adorava esse trabalho e continuou com ele por quase vinte anos. Em evento no museu, Eve contou para a filha com muito orgulho que Skinner foi apresentado para os colegas de trabalho de Eve como marido dela – e não o contrário.
Contudo, com o envelhecimento, diversos problemas de saúde de Skinner começaram a aparecer. Caberia a ele arranjar seu ambiente de forma que pudesse maximizar as contingências de reforçamento durante o tempo que lhe resta.
Ainda teremos mais um capítulo! Não perca!