O acompanhamento terapêutico (AT) é uma modalidade de intervenção em ambiente natural que visa desenvolver e/ou aprimorar repertórios e habilidades de comportamentos básicos em indivíduos que sofrem por apresentar algum tipo de prejuízo emocional, cognitivo ou comportamental relacionado a psicopatologias ou doenças orgânicas.
Geralmente este serviço é prestado por alunos estagiários, recém-formados, tutores e técnicos de diversas áreas, e acompanhado/supervisionado por pelo menos um profissional responsável pelo atendimento. Quando o AT é solicitado por algum profissional, é possível que o planejamento da intervenção já tenha sido realizado – isto não impede que o AT complemente a análise com informações obtidas a partir de observação direta e registros em ambiente natural. Desta forma o AT e demais profissionais que estiverem envolvidos na rede de apoio podem a qualquer momento discutir e redefinir as estratégias interventivas.
Há também casos em que o próprio psicólogo clínico pode desenvolver parte de sua intervenção em ambiente extraconsultório. Seja qual for o caso, é importante que o profissional, enquanto AT, tenha conhecimento teórico e prático suficientes para planejar e desenvolver estratégias mais adequadas e específicas para cada caso.
Quando o cliente é indicado por um psiquiatra para o serviço de acompanhamento terapêutico, fornecendo dados prévios sobre a sua visão global do caso, da mesma forma que o terapeuta analítico-comportamental, o AT também deve elencar estratégias para o planejamento de uma intervenção. Leonardi, Borges, & Cassas (2012), ressaltam que o analista do comportamento deve partir da sua principal ferramenta de análise, realizando uma avaliação funcional do caso para: (1) identificar condições mantenedoras dos comportamentos-alvo – a partir de características idiossincráticas e de eventos relevantes; (2) planejar a intervenção – a partir de hierarquização de características do cliente em princípios comportamentais, a fim de promover mudança nas relações funcionais relacionadas à queixa; (3) observar efeitos da intervenção e (4) avaliar eficácia da intervenção – caso os objetivos não sejam alcançados, o profissional deverá rever a avaliação funcional e a proposta de intervenção.
Com o planejamento de intervenção realizado, o AT vai a campo para testar hipóteses levantadas, e promover alterações de possíveis relações nas variáveis mantenedoras do comportamento-problema. Nesta etapa do procedimento é muito importante que o AT dê suporte e recursos (seja para desenvolver ou aprimorar habilidades) para o cliente se comportar de modo a produzir consequências menos aversivas, e que possam principalmente vir a se tornar reforçadoras. Além disso, quando o AT está em ambiente natural pode observar diretamente se informações relatadas previamente em uma entrevista, têm ou não concordância com os comportamentos e interações do cliente. Oliveira e Borges (2007) ressaltam que, como estratégia, o AT pode dispor de registros comportamentais e observacionais que servirão para embasar a análise funcional. Estas estratégias devem ser definidas previamente entre o AT e o profissional responsável do atendimento, direcionando de maneira mais segura o manejo da intervenção.
Encontros iniciais
Atualmente o AT pode atuar sozinho ou em equipe multiprofissional em vários contextos, tais como em domicilio, contexto escolar, clínica-escola, serviço de saúde, clínicas de internação, etc. Quando o atendimento é encaminhado por um profissional, geralmente o cliente e sua família já foram informados dos objetivos e serviços que serão prestados. No primeiro encontro com o cliente e/ou responsável, além de garantir o vínculo terapêutico através da empatia, audiência não punitiva e acolhimento da queixa, é muito importante que o AT retome seus objetivos de trabalho, estabeleça contrato de honorários, fale sobre periodicidade dos encontros, combine sobre faltas e reposições, esclareça dúvidas e garanta o sigilo do atendimento.
Deve-se levantar o maior número de informações possíveis a respeito da história de vida do cliente e isso inclui, se necessário, entrevistar pessoas que façam parte do seu convívio: pais, irmãos, parceiros, auxiliares e profissionais antigos e atuais do caso. É importante também saber questionar se o cliente faz ou já fez uso de medicação e quais profissionais frequenta/ frequentou.
Manejo de contingências
De acordo com Savoia e Sampaio (2010) o papel fundamental do AT é intervir no ambiente natural do cliente, de modo a rearranjar as contingencias de reforço e utilizar a própria relação terapêutica para auxiliar na modelagem de repertórios. Desta forma é imprescindível que o AT esteja sensível às contingências presentes na própria relação com o cliente, e tenha domínio sobre os conceitos comportamentais (reforçadores naturais, regras, reforçadores arbitrários, etc) e faça uso de procedimentos (modelagem, fading, reforçamento diferencial, exposição com prevenção de respostas, etc) para alcançar os objetivos pretendidos.
Avaliação de resultados
A intervenção em ambiente natural produz resultados que podem ser imediatamente observados, e geralmente são mais evidentes do que aqueles obtidos em contexto clínico tradicional, o que coloca o AT em constante situação de avaliação de resultados. Se for necessário, é possível que o AT tenha que refazer suas estratégias de intervenção, e com isso, rever sua análise funcional do atendimento – isso pode acontecer a qualquer momento da intervenção, quando as hipóteses não são confirmadas em ambiente natural. Em outros casos, o procedimento deve ser atualizado, à medida que o cliente vai “cumprindo” a hierarquização de objetivos-alvo estabelecidos previamente pelo AT e/ou equipe.
Os resultados e objetivos alcançados por esta modalidade de atendimento, vem ganhando cada vez mais reconhecimento e destaque na área da saúde mental. O trabalho desempenhado pelo AT pode contribuir positivamente para alcançar resultados esperados que ficaria restrito se atendidos apenas em setting clínico, e desta forma, a procura por este tipo de serviço é cada vez mais frequente e pode ser solicitado por diversos tipos de profissionais para atender demandas de casos específicos e/ou de difícil manejo.
Referências bibliográficas
Leonardi, J. L., Borges, N. B. & Cassas, F. A. (2012). Avaliação funcional como ferramenta norteadora da prática clínica. Em N. B. Borges & F. A. Cassas (Orgs.), Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 105-109). Porto Alegre: Artmed.
Savoia, M. G., & Sampaio, T. P. A. (2010). Técnicas cognitivocomportamentais: considerações sobre o repertório do AT. Em: I. Londero et al. (Org.) Acompanhamento Terapêutico: Teoria e Técnica na Terapia Comportamental e Cognitivo-Comportamental. São Paulo: Santos, 2010, p. 37-49.
Silveira, J. M. (2012). A apresentação do clínico, o contrato e a estrutura dos encontros iniciais na clínica analítico-comportamental. Em N. B. Borges & F. A. Cassas (Orgs.), Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 110-118). Porto Alegre: Artmed.
VILAS BOAS, D. L. O.; Borges, N. B. O ambiente natural como fonte de dados para a avaliação inicial e a avaliação de resultados: suplantando o relato verbal. In: Denis Roberto Zamignani; Roberto Kovac; Joana Singer Vermes. (Org.). A Clínica de Portas Abertas: Experiências e fundamentação do acompanhamento terapêutico e da prática clínica em ambiente extraconsultório. Santo André, SP: ASETec Editores Associados, 2007, v. , p. 77-100.