Um grande número de pesquisas tem demonstrado que os homens interpretam os indicadores de potencial interesse sexual das mulheres de maneira equivocada do que elas tinham intenção de transmitir. Esse fenômeno é chamado de alarme falso, quando uma pessoa confunde comportamentos de ser agradável ou amigável por interesse sexual. O seu inverso é a perda (miss) que é não perceber interesse sexual quando este é presente. Esses dois erros de percepção levam a falhas para detectar parceiros potencialmente interessados, ou ainda, fazer com que uma pessoa continue a buscar um parceiro que já sinalizou não ter interesse.
Uma dificuldade dessas pesquisas é interpretar as diferenças observadas entre os sexos e investigar a fonte etiológica dessas diferenças. Isso porque, é importante destacar que o fato dos homens perceberem mais sinais de interesse não significa que eles estejam errados, outros fatores talvez façam com que as mulheres não apontem os mesmos dados, como vergonha de social de se mostrar interessada. Duas explicações têm sido utilizadas para explicar as diferenças entre homens e mulheres:
- Sensibilidade: os homens não percebem as diferenças entre dicas sutis de interesse e desinteresse por parte das mulheres, ou seja, não há uma discriminação refinada dos estímulos;
- Viés: homens precisam de menos dicas de interesse para nomear um comportamento como de interesse, ou seja, em termos comportamentais é mais eficiente insistir com parceiras não interessadas do que correr o risco de ter uma perda (miss).
Para verificar se esse padrão de comportamentos masculinos ocorre em diferentes idades e culturas Bendixen (2014) testou a percepção sexual de homens da Noruega, um dos países mais igualitários do mundo. As mulheres norueguesas relataram maior número de percepções equivocadas por parte dos homens, ou seja, mais homens confundiram comportamentos amigáveis por interesse sexual. Dessa maneira, uma cultura igualitária não apresentou dados mais parecidos sobre percepção sexual entre os sexos, indicando uma estabilidade independente dos aspectos culturais em que as pessoas estão inseridas.
Perilloux e Kurban (2014) buscaram compreender outro fato interessante sobre esse tema: como uma mulher avalia o interesse de outra? As participantes avaliaram quanto interesse sexual uma mulher apresentava e essa informação era verificada em comparação com o que a própria mulher havia dito sobre si. Os pesquisadores encontraram que ao avaliar o interesse sexual de outra mulher era apontado um valor maior do que o afirmado pelas primeiras participantes. De forma que, os autores afirmam que é possível que as mulheres subreportem suas intenções sexuais enquanto os homens acertam, além disso, que as mulheres sabem que outras mulheres subrelatam suas intenções sexuais, mas não quanto e em quais situações o interesse é de fato subreportado e quando ele é legítimo.
O fato das mulheres indicarem que os homens superestimam seu interesse sexual pode ser benéfico por diminuir contatos sexuais não desejados, encorajar os homens a mostrar outras habilidades e evitar uma reputação social indesejada. Para a maioria dos indivíduos, um erro sobre interesse sexual não extrapola uma situação momentânea de embaraço social. Contudo, para um grupo, aumenta a probabilidade de comportamentos sociais problemáticos como a coerção sexual. A ocorrência de um alarme falso pode ser um facilitador para homens que praticam violência sexual utilizarem um suposto interesse como justificativa para a violência. Por essa razão, o estudo da percepção sexual é importante. Somente conhecendo-se quais seriam os sinais de interesse sexual é possível o planejamento adequado de programas de prevenção para adolescentes e adultos em relação à violência sexual. Essa lacuna do conhecimento merece a atenção e deve ser explorada de maneira mais ampla pelas oportunidades de aplicação prática que possui.
Para saber mais:
Bendixen, M. (2014). Evidence of systematic bias in sexual over – and underperception of naturally occurring events: a direct replication of Haselton (2003) in a more gender-equal culture. Evolutionary Psychology, 12(5), 1004-1021.
Perilloux, C., & Kurzban, R. (2014). Do Men Overperceive Women’s Sexual Interest?. Psychological Science, 26(1), 70-77. doi:10.1177/0956797614555727