Quanto a uma separação da AC do resto da psicologia, acho uma bobagem. Não quero ser chamado de behaviorologista! Sou psicólogo com muito orgulho. Temos nossa profissão regulamentada, o que os EEUU não tem. O que nos falta é melhor organização política dentro dos Conselhos, Sindicatos, Associações. Começar outra profissão do zero parece coisa de quem não tem o que fazer. A propósito, leiam Receita para ser feliz no meu blog.
Entrevista Exclusiva com J.C. Todorov
Em mais uma entrevista com grandes nomes da Análise do Comportamento, agora poderemos conhecer um pouco do ponto de vista de J.C. Todorov sobre algumas questões. Assim como Roberto Banaco e Roosevelt Starling, Todorov atenciosamente concedeu uma entrevista ao site Comporte-se, falando um pouco de sua experiência e sua visão a respeito de alguns temas em Psicologia e Análise do Comportamento.
As questões contidas nesta entrevista foram formuladas pelos membros da comunidade de Análise do Comportamento do Orkut, sendo de responsabilidade dos mesmos, o a escolha pelos assuntos abordados.
1 – Primeiramente, gostaria de saber como foi, para o senhor, tornar-se um Analista do Comportamento. Quando teve contato com a abordagem, o que te atraiu nela?
No terceiro ano do curso de psicologia da USP em 1962, na disciplina Psicologia Experimental. Vejam no meu site “Good Bye Teacher, Good Old Friend” no JEAB. Acho que foi a consistência de teoria e pratica.
2 – Poderia falar um pouco sobre sua experiência pessoal ao traduzir o Ciência e Comportamento Humano, tendo em vista o contexto político e histórico da Psicologia daquela época, bem como a fase de sua formação em que estava?
Tinha terminado o bacharelado e fazia licenciatura enquanto esperava a mudança para Brasília e a UnB. Tinha desistido da candidatura a presidente do Grêmio da Faculdade de Filosofia da USP depois de ser presidente interino durante a Greve do Terço da UNE pela participação dos alunos nos órgãos colegiados. Gostei do livro e recebi a tarefa de tradução da Profa. Carolina Bori.
Não traduzi porque gostei ou porque tinha relação com minha atuação política. Não tinha a menor idéia de qual seria a importância da tradução. Não mudou nada no ensino de analise do comportamento no pais porque antes de Brasília isso não existia. A UnB implantou de vez o behaviorismo no Brasil.
3 – Como o senhor avalia a organização da Psicologia brasileira nos dias de hoje, e a inserção da Análise do Comportamento neste contexto e nas ciências de modo geral?
Analistas do comportamento foram muito importantes para a organização da psicologia há 40 anos, vejam a historia da SBP. Agora e hora de organizar melhor a analise do comportamento. Nos reconhecemos como ciência natural, o que nos coloca separados de grande parte da psicologia brasileira, mas somos cada vez mais reconhecidos pela ciência em geral. Carolina Bori fez um excelente trabalho na SBPC.
Mesmo antes da vinda de Keller para a USP em 1961, Carolina Bori já trabalhava pela divulgação do uso do método experimental em psicologia e era participante de destaque da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, tendo ocupado vários cargos da diretoria, inclusive o de presidente. Ate dois anos a analise do comportamento não era formalmente estruturada no Brasil. Era mais uma metacontingencia bem sucedida, uma ação entre amigos para promover um encontro anual. A diretoria de Martha Hubner tem como missão formalizar a associação e estruturá-la em nível nacional.
Quanto a uma separação da AC do resto da psicologia, acho uma bobagem. Não quero ser chamado de behaviorologista! Sou psicólogo com muito orgulho. Temos nossa profissão regulamentada, o que os EEUU não tem. O que nos falta é melhor organização política dentro dos Conselhos, Sindicatos, Associações. Começar outra profissão do zero parece coisa de quem não tem o que fazer. A propósito, leiam Receita para ser feliz no meu blog.
4 – Em seu blog (link aqui) e em sua apresentação na JAC – USP, o senhor realizou algumas críticas aos nomes de alguns conceitos da Análise do Comportamento. Poderia falar um pouco mais a respeito? Tem sugestões de mudança?
Nossa herança maldita são os termos pavlovianos usados por Skinner para falar de aprendizagem operante. Seria perfeitamente possível falar de analise do comportamento operante sem os termos estimulo, resposta, reforço e condicionamento, que seria usados apenas para respondentes. Mas vai ser difícil mudar isso. Também acho enganoso e complicador falar em behaviorismo radical. Não faz mais sentido hoje. Tem uma postagem sobre isso no meu blog.
5 – Pensando na complexidade dos fenômenos sociais em contraste com as condições do nascedouro da Análise do comportamento – o laboratório operante animal –, como o senhor avalia o diálogo entre a pesquisa básica e os contextos de aplicação da Análise do Comportamento? Neste sentido, quais são os principais desafios da abordagem?
Só recentemente começamos a desenvolver conceitos para estudar alguns fenômenos sociais. Como a analise do comportamento só abordava comportamentos individuais ou de duas pessoas em interações passiveis de descrição enquanto comportamentos individuais, os colegas que trabalham com organizações, grupos ou comunidades normalmente usam alguma teoria compatível com o behaviorismo, como a teoria dos sistemas. Nosso desafio e ampliar a teoria para abarcar fenômenos sociais, e estamos trabalhando nisso com conceitos como macro e metacontingencia. Mas isso e muito pouco.
Há muito a aprender com a Teoria dos Jogos, com Tversky, com o conceito de representação social, etc. etc.
7 – Skinner afirma que “há excelentes razões para começar com casos simples e só passar adiante quando o poder de análise o permitir”. No mesmo texto, um pouco adiante, afirma: “esta é a direção – do simples ao complexo – em que a ciência segue. Mas aplica-se o sistema removendo-se os limites tão depressa quanto possível e trabalhando diretamente com o comportamento humano” (Sobre o Behaviorismo, 1982). Embora seja característica comum entre as ciências, por motivos claros, o uso de animais em pesquisas de base, fica a questão: a análise experimental do comportamento tem o “poder de análise” o suficiente – pensando em termos de princípios básicos – para abandonar o uso de animais em pesquisas e estudar o comportamento usando apenas seres humanos?
Não acho. Veja nos últimos 50 anos quanto progresso foi feito para analise do comportamento humano partindo de muito trabalho em pesquisa básica com animais. As razões para isso estão muito bem explicadas por Skinner em O Comportamento dos Organismos (1938) e Ciência e Comportamento Humano (1953), e por Keller e Schoenfeld em Princípios de Psicologia (1950). Por outro lado, analise do comportamento não e só analise experimental do comportamento de indivíduos. Vejam em Behavior & Social Issues de dezembro de 2009 meu artigo sobre isso (no meu site – e link para o blog).
8 – Poderia discorrer um pouco a respeito da aplicação do conceito de metacontingência na prática clínica do Analista do Comportamento?
Como pergunta de uma entrevista e complicado. O Roberto Banaco falou sobre isso muito bem na SBP de Goiânia. Peçam a ele que mostre o PowerPoint sobre o assunto. Metacontingencia e conceito que se aplica sempre que for detectada a existência de contingências comportamentais entrelaçadas que produzem um produto agregado, o qual e selecionado pelo ambiente cultural e tende a se repetir. E de fácil observação em famílias, como mostram os trabalhos da Profa. Laercia Vasconcelos e seus alunos na UnB.
9 – Poderia deixar alguma dica para os iniciantes em Análise do Comportamento?
Analise do comportamento é bom mas vicia. Para não ficar metido a besta ainda na graduação aconselho estudar psicologia de um modo geral antes de ficar lendo só Skinner!