Seguindo em direção à liberdade

Autor: Benjamin Schoendorff
Tradutora: Karollane Sapucaia (karolsapucaia@gmail.com)
Revisora: Juliane de Moraes Mayer (julianamayer@msn.com)

Eu quero começar esta coluna agradecendo ao Comporte-se por estender o convite para escrever em seu site. Espero que isto sirva como um estímulo discriminativo para que eu escreva regularmente. Eu comecei um blog em francês alguns anos atrás, mas como passei a escrever livros, deixei-o de lado.
Com esta coluna, meu objetivo é apresentar uma maneira de aplicar os princípios comportamentais da terceira onda à sua vida profissional e pessoal. Esta coluna será, assim, baseada na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), uma das principais terapias comportamentais e cognitivas da terceira onda, mas também integrará princípios de outras abordagens cognitivas e comportamentais. Seu objetivo é ajudar a trazer mais liberdade a todas as áreas de sua vida através de um melhor reconhecimento dos comportamentos que o movem em direção à liberdade. Cada post terminará com um exercício que você poderá explorar e ver se faz alguma diferença para sua vida. Embora eu escreva para psicólogos, eu espero que seja útil para outros também, uma vez que ser útil é muito reforçador para mim.
B. F. Skinner, um dos psicólogos behavioristas mais influentes, pensou a liberdade como afastar-se do controle aversivo. Em “Para Além da Liberdade e Dignidade” (1972) ele escreveu: ”Quase todas as coisas vivas agem para libertar-se de contatos nocivos”. Mas isso apenas nos diz do que eles se afastam – aversivos. Tão importante quanto são as coisas para as quais quase todos os seres vivos seguem em direção – e estas podem ser chamadas de apetitivas.
O Behaviorismo tem como objetivo ser a ciência do comportamento humano. A ciência é um jogo que identifica os determinantes e as relações funcionais dos fenômenos estudados – em outras palavras o que controla os fenômenos. Assim, para o behaviorista, o comportamento livre de qualquer controle não pode ser parte da ciência. O Behaviorismo terá como objetivo olhar para o tipo de controle ao qual o comportamento se submete. A isso se segue que, em termos comportamentais, ser livre poderia ser pensado como ficar sob o controle das coisas às quais seguimos em direção ao invés de coisas de que nos afastamos. Em palavras mais técnicas, para o behaviorista, a liberdade é ficar sob o controle apetitivo.
Na vida, como na terapia, é importante saber do que estamos nos afastando, mas, se nosso objetivo é a liberdade, é ainda mais importante saber na direção do que estamos seguindo. Parece simples o bastante e todas as coisas vivas sabem instintivamente do que se afastar e do que se aproximar. Tire um tempo para observar um coelho em um campo e em breve você saberá o que é aversivo e o que é apetitivo para ele.
No entanto, quando se trata de nós, seres humanos, as coisas estão longe de ser tão simples quanto são para o nosso amigo peludo. Onde fica complicado é que nós não apenas nos movemos para perto e para longe das coisas, como cenouras gostosas ou lobos famintos, que podem ser percebidas com os nossos cinco sentidos no mundo lá fora. Nós também tentamos aproximar e afastar coisas que aparecem em nosso mundo interior, aspectos apetitivos ou aversivos de nossa experiência privada. Isto é o que Skinner chamou de a parte do universo que apenas uma pessoa pode observar. E quando nós, humanos verbalmente competentes, começamos a observar a parte do universo que só uma pessoa pode observar, coisas curiosas começam a acontecer.
Experiências interiores que foram relacionadas com experiências percebidas através dos nossos cinco sentidos começam a adquirir as mesmas funções que estas experiências no mundo lá fora. Assim, não só nos afastamos de predadores e outros perigos que percebemos através dos nossos cinco sentidos, nós também tentamos nos afastar da experiência interior evocada por esses perigos – sejam elas imagens, sentimentos ou pensamentos. De acordo com o modelo que fundamenta a terapia da aceitação e compromisso, esses esforços para se afastar da nossa experiência interior constituem uma das principais causas da psicopatologia, uma vez que essas ações podem facilmente desencorajar as ações que seguem em direção às coisas que são importantes para nós, resultando em uma vida que gradualmente se estreita e perde vitalidade e significado.
Mas as funções não apenas se transferem e transformam dos cinco sentidos para a experiência interior, elas também se transferem de experiência interior a experiência interior, nos incentivando a tentar nos afastar de pensamentos, como exemplo dos pensamentos de perigo, e de sentimentos como os ‘maus’ sentimentos, etc. Presos em um ciclo onde tentamos desesperadamente nos afastar de experiências interiores indesejadas, é assim que a vida pode estreitar-se rapidamente e se tornar limitada às ações dedicadas ao serviço de se afastar daquilo que não queremos sentir ou pensar. O truque aqui é que é ao mesmo tempo perfeitamente natural querer afastar-se da experiência indesejada, e potencialmente muito perigoso tentar afastar-se da experiência interior indesejada. Chamamos isso de armadilha da luta. Quando presos nessa armadilha, nos empenhamos em um grande número de ações cujo objetivo principal é afastar (ou modificar em algum sentido) a nossa experiência interior.
No entanto, quando olhamos para a parte do universo que somente uma pessoa pode ver, nós também vemos coisas que valem à pena se aproximar. Estas são as direções importantes nas quais gostaríamos de conduzir nossas vidas. Tecnicamente, elas são apetitivos construídos verbalmente. Na ACT, também os chamamos de valores. Os valores são aquelas coisas que são reforçadoras para nós quando nos movemos em direção a elas. Que ações representam aproximar-se do que é importante? Esse tipo de pergunta só pode ser respondida por cada um de nós pessoalmente, e no momento. Eu estou escrevendo esta postagem porque, para mim, é importante compartilhar esta abordagem que trouxe um significado muito rico à minha vida e a de meus clientes e estagiários. Eu também poderia estar fazendo isto sob controle de outras contingências (por exemplo, não me sentir culpado ou porque eu gosto de ver meu nome impresso), mas apenas uma pessoa pode dizer como eu me comprometi com aquela ação, e essa pessoa sou eu. Vou admitir que não me sentir culpado por parar de escrever no blog e gostar de ver meu nome impresso estão de certa forma presentes enquanto eu desempenho o comportamento de escrever neste blog. Ainda assim, eu escolho escrevê-lo a serviço do que é realmente importante para mim, que é fazer-me útil compartilhando esta abordagem. Da mesma forma, só você pode perceber quando você desempenha ações para buscar o que é importante para você, e quando as desempenha para afastar-se do que você não quer sentir ou pensar.
Para tornar-se mais livre, pode então tornar-se importante aprender a discriminar se agimos para nos afastar de experiências interiores indesejadas ou se agimos para nos aproximar do que é importante para nós.
Aqui está um exercício para os próximos sete dias: veja se você pode simplesmente observar as ações que faz para se afastar, e ações que faz para se aproximar. Se você gostar do exercício ou desejar explorá-lo mais profundamente, veja se você consegue manter anotações dessas ações, que pensamentos e emoções apareceram e como se sentiu ao fazê-las. Depois de ter feito isso, talvez você seja capaz de perceber que as ações que você executa para se aproximar do que é importante relacionam-se com um sentimento diferente em relação às ações que você executa para se afastar do que não quer sentir, mesmo quando essas ações fazem com que você se sinta melhor, como quando fazem uma sensação de desconforto temporariamente desaparecer. O que você terá aprendido a reconhecer é o gosto peculiar de liberdade, ou como se sente ao ficar sob controle apetitivo. Nem sempre se sente bem, mas sempre se sente livre.
A ACT é, portanto, uma abordagem que leva a liberdade muito a sério. Ela promove a nossa capacidade de identificar o que é importante e avançar em direção de nossos valores através de ações, enquanto percebemos que as ações envolvidas no serviço de afastar a experiência interior indesejada é o que nos impede de fazer o que nós escolheríamos livremente fazer caso não estivéssemos tentando fugir da nossa experiência interior.


Texto original em inglês.
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