E quando amamos uma pessoa com desregulação emocional?

No último encontro falamos sobre a importância de reconhecer nossas emoções, identificar suas funções para melhor compreendê-las. Além disso, falamos que nem todas as pessoas possuem habilidades para regular suas emoções e lidar com elas de forma efetiva. Mas e quando temos um familiar com desregulação emocional (DE)? Filhos, pais, cônjuges, enfim, alguém que amamos, queremos bem, mas, apesar dos esforços, não conseguimos nos relacionar de modo saudável?

Muitas famílias chegam nesta situação ao consultório, angustiadas e perdidas, sem saber como reagir. Isto é compreensível, pois a família só consegue ajudar a partir do momento em que compreende o funcionamento e os comportamentos apresentados por seus familiares.

Na tentativa de ajudar, várias famílias, infelizmente, pioram a situação, reforçando comportamentos inadequados por acreditarem ser o único modo de reagir no momento. Além disso, deixam de reforçar comportamentos saudáveis justamente por se sentirem perdidas e não fazerem ideia da importância de tal ação. Muitas ainda, acabam cansando, desistindo, se isolando e passando uma mensagem que, muitas vezes não gostariam: a de que não se importam mais.

Pois bem, aqui percebemos que não só a pessoa que possui desregulação emocional necessita desenvolver habilidades, mas também seus familiares e pessoas próximas. A Terapia Comportamental Dialética (TCD), desenvolvida para tratar pacientes com Transtorno da Personalidade Borderline, tem se mostrado bastante efetiva também no tratamento de pacientes com DE. A TCD compreende em seu tratamento um grupo de habilidades voltado a familiares.

O grupo de familiares tem como objetivo psicoeducar seus membros e fazê-los vivenciar conceitos, como emoções, validação, compreender os momentos em que os comportamentos disfuncionais se manifestam e o porquê. Além disso, trabalha-se o conceito de reforço, aceitação, manejo de crises e, sobretudo, a importância dos limites pessoais.

Muitos de vocês podem estar pensando: e o papel da família no desenvolvimento de pessoas com DE? De fato muitos estudos apontam importantes aspectos, como a presença de um ambiente invalidante, que além de não cumprir o importante papel de validar as emoções, ainda ensina que elas e suas manifestações são erradas e inaceitáveis. Contudo é importante reconhecer que nem todos os ambientes familiares são tóxicos e causadores da DE. Algumas famílias podem até ter falhado, mas se estão à procura de ajuda cabe ao terapeuta não reproduzir seus erros, julgando-as, e sim psicoeducá-las, para que elas também possam ajudar aqueles que possuem DE.

PORR, Valerie. (2010). Overcoming Borderline Personality Disorder: A Family Guide for Healing and Change. Oxford University Press, 1st Edition.

 

 

 

Escrito por Lidiane Borba

Psicóloga (Unisinos); Mestre em Psiquiatria (UFRGS); Especialista em Terapias Cognitivo Comportamentais; Formação em Terapia de Casal e Família (INFAPA); Formação em Tratamentos Baseados em Evidências para o Transtorno da Personalidade Borderline (Fundación FORO - Argentina); Treinamento Intensivo em Terapia Comportamental Dialetica (Behavioral Tech - EUA); Professora do curso de Especialização em Terapia Sistêmica do InTCC; Pesquisadora no grupo de pesquisa em transtornos de ansiedade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (PROTAIA); Psicóloga na Cognitá - Clínica de Terapia Cognitivo-Comportamental; Integrante do grupo de estudo e pesquisa em Personalidade (GEP)

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