O Behaviorismo Radical, filosofia que embasa a análise do comportamento de Skinner, é radical por negar radicalmente o dualismo, ou mentalismo, que entende e separa o homem como corpo e mente. Isto quer dizer que não se deve atribuir a termos dualistas as causas de nossos comportamentos, atribuindo ao comportamento causas especiais e inacessíveis. Não temos a necessidade de supor que comportamentos encobertos sejam especiais. Relatamos eventos internos de acordo com o que aprendemos sobre eles, ou seja, as pessoas ao nosso redor podem compreender o que sentimos através de nosso relato, que por sua vez foi modelado desde a nossa infância, quando nossos pais iam aos poucos modelando nosso comportamento de dizer o que estávamos sentindo. Porém o relato nem sempre pode ser fidedigno, seja pela ausência de palavras que definam claramente o que ocorre em nosso corpo, ou por manipulação do relato. As explicações dualistas aos comportamentos encobertos são superficiais, pouco precisos e não chegam de fato à raiz do problema. Não só a descrição ou hipóteses são o bastante. Comportamentos encobertos, assim como outros comportamentos, continuam sendo comportamentos e a dificuldade de acesso a esses comportamentos que são o ponto crítico da situação (ou eram, mesmo que parcialmente). Com o desenvolvimento das tecnologias, as barreiras de acesso ao comportamento encoberto aos poucos estão sendo vencidas. Estetoscópios e medidores de frequência cardíaca são exemplos da transposição de tais barreiras.
O biofeedback é um aparelho desenvolvido para amplificar ou ampliar (monitorar) respostas internas que normalmente não são de fácil observação direta (comportamentos que seguem/acompanham essas respostas internas podem ser observadas até certo nível por um observador experiente). O conceito de biofeedback foi introduzido na década de 1960 e desde então seu desenvolvimento tem acelerado em diversas áreas. Biofeedback é basicamente o processo em que podemos ensinar as pessoas como compreender e lidar com a influência de aspectos fisiológicos sobre seu comportamento. Podem ser de dois tipos: comportamentos que não estão necessariamente sob controle, que acontecem de forma involuntária, ou comportamentos voluntários, mas que sua regulação passou a ser falha por algum motivo.
Nos esportes, o biofeedback como ferramenta de intervenção passou a ser utilizado no começo da década de 1980 e as pesquisas aplicadas passaram a identificar a relação entre funcionamento fisiológico e aumento de performance.
Os aparelhos de biofeedback são de diversos tipos e são utilizados para mensurar diferentes comportamentos e respostas fisiológicas (que também são comportamentos), mas que de modo geral representam um conjunto de alterações corporais as quais indicam determinados estados emocionais, como aumento da frequência cardíaca, aumento da frequência respiratória e aumento da condutividade elétrica da pele (respostas galvânicas), presentes nos estados de ansiedade. Outros aparelhos da mesma modalidade, como o neurofeedback, são capazes de mensurar ondas cerebrais e regiões do cérebro que são ativadas de acordo com o tipo e intensidade de estimulação. Por exemplo, compreender quais áreas do cérebro de um atleta são ativadas e a intensidade das ondas cerebrais ao assistir uma gravação de uma derrota ou má performance competitiva. Nessas circunstâncias reside um dos pontos de partida para a utilização do biofeedback ou neurofeedback para melhora do desempenho esportivo, a Linha de Base.
A utilização do biofeedback e o que será ensinado ao atleta depende da modalidade esportiva em questão. Diferentes modalidades exigem preparos e estados fisiológicos diferentes. As modalidades de tiro ao alvo ou arco e flecha, por exemplo, exigem alto nível de concentração e controle voluntário da frequência cardíaca e frequência (e regularidade) respiratória, onde é ensinado ao atleta a diminuir os níveis de ansiedade. Nessas modalidades o atleta é ensinado a disparar nos intervalos dos batimentos cardíacos, em uma tentativa de isolar ao máximo a interferência de variáveis diversas na efetividade do tiro.
Já em modalidades mais dinâmicas, como as lutas, um dos pontos de trabalho pode ser voltado para o momento de intervalo entre os rounds de um combate. Neste intervalo de tempo, que varia entre um ou dois minutos, é exigido do atleta que diminua voluntariamente a frequência cardíaca em 30 segundos e nos 30 segundos restantes consiga estar atento ás instruções do seu técnico. Melhor explicando, os experimentos aplicados que envolvem o trabalho com essa tecnologia resultaram em scripts que servem como ponto de partida para o trabalho dos psicólogos do esporte em várias modalidades.
O ensino da Auto regulação e a melhora nos processos de propriocepção.
No processo chamado de “Preparação Psicológica” onde o analista do comportamento realiza um processo longo desde a análise funcional de repertório de um atleta, levando-se em consideração déficits e excessos comportamentais e a utilização de diversas ferramentas para que se atinja o grau necessário para o que é considerado ótimo desempenho, o biofeedback é uma ferramenta útil para modelar e instalar no atleta determinados repertórios de auto monitoramento e autocontrole a partir da propriocepção, a auto regulação.
Por exemplo: se em uma analise funcional identificamos que o déficit comportamental no repertório de um atleta é a alta sensibilidade a estímulos externos, que influenciam na “ansiedade” ou “nervosismo”, saberemos que um dos focos da intervenção possa estar nesse déficit de repertório de auto controle e auto monitoramento.
Por fim, o conteúdo aqui descrito representa somente a ponta do iceberg. Os estudos que envolvem o biofeedback, repertório de auto controle e variáveis fisiológicas interferindo no rendimento esportivo são, e serão, um vasto campo de pesquisas, podendo ser uma variável de ligação das diversas áreas das ciências do esporte; educação física, medicina, psicologia do esporte etc.
Leituras de base
Blumenstaein, B., Bar-Eli, M., & Tenenbaum, G. (2002). Brain and body in sport and exercise. U.S.A: Wiley.
Moreira, M. B., & de Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
Skinner, B. F. (2011). About behaviorism. New York: Vintage.