Behavioristas radicais compreendem o comportamento humano pela visão contextualista, determinado pelo o que o consequencia. Assim, compreendemos que antecedentes e respostas variam constantemente, mas quando uma consequência sucede uma sequência antecedente e resposta, é estabelecida uma relação – uma relação de contingência. E as contingências da ansiedade podem ser descritas aplicando esse racional (veja mais em: Para Psis: Ansiedade na Análise do comportamento)
As consequências estão dispostas no mundo de maneira mais ou menos aleatória, em esquemas de reforçamento não padronizados ou regulares. Por essa razão, conduzir uma boa análise funcional depende de observarmos padrões amplos, mantidos com algum tipo de intermitência. Seguindo o exemplo do Paulo Aguirra na aula disponível no link acima, uma criança não obtém atenção sempre e somente se faz birra… ocorre de a criança chorar na presença de outra criança, indiferente aos apelos dela, e acontece de ela receber atenção por fazer outras coisas, como falar uma palavra nova… mas, se em alguma ocasião, a criança fez birra diante de alguém que entendeu o que ela queria atendendo seu pedido, ela aprendeu essa topografia para se comunicar, com mais ou menos eficiência a depender da disposição das consequências em determinado contexto (social).
Portanto, as contingências envolvem contextos em que repertórios individuais geram acesso à consequências. As contingências de ansiedade operam segundo esse modelo, como exemplificado nos casos a seguir.
Na minha prática clínica, trabalhei com uma pessoa que tinha medo de pássaros e aconteceu de um pombo entrar na sua casa. Desesperada, ela ligou para o namorado pedindo que ele fosse lá retirar o bicho. Esse repertório – pedir ajuda numa topografia bastante útil para a ter com urgência – é consequenciado com manter-se distante de aves… se o namorado espanta o pombo, ela pode continuar segura, longe dele e de seus espécimes. E, claro, existem outras maneiras de conseguir isso… mas na história dela, pedir para alguém salvá-la nessas situações foi selecionado e é mantido.
Outra pessoa que acompanhei aos 72 anos vivia com o marido que, dez anos mais velho, estava adoecendo. Inesperadamente, ele desfalecia, sofria quedas, envolvia-se em acidentes… e ela entrava em um frenesi comportamental: oferecia água com açúcar, levava-o para o banho, ajudava-o a levantar as pernas, a se deitar… além disso, passava o dia ocupando-se com afazeres domésticos, como se a organização da casa prevenisse algo ruim que estava à espreita.
Um outro cliente passou por muitas dificuldades ao longo da vida e anos depois, mesmo já tendo conseguido tudo o que precisava para viver bem, não conseguia parar de se cobrar para fazer mais e melhor. Também esteve em psicoterapia comigo uma pessoa que, logo depois de perder o filho, passou a trabalhar mais, ocupar-se com diversos compromissos, multiplicar a quantidade de pensamentos e planos pro futuro e a falar sem interrupções durante a sessão.
Uma cliente que estava na área acadêmica esforçava-se para ser muito eficiente em tudo o que fazia, resolvendo pedidos e demandas das outras pessoas e tentando atender boa parte das expectativas da equipe de trabalho. Ela trabalhava freneticamente e, ainda assim, continuava com a sensação de que era insuficiente…
Todas essas pessoas me trouxeram queixas de ansiedade. A função de fuga-esquiva na fobia de pássaros que vinha sendo reforçada ou no adoecimento de um familiar que não impedia o contato com os aversivos, em um processo de extinção; as contingências históricas de alto critério para acessar reforçadores dispostas para quem que precisou passar por muitas superações ao longo da vida; os reforçadores que permaneceram disponíveis no mundo, mas que não eram mais acessíveis para uma mãe que perdeu o filho; e o reforçamento contingente à emissão de altas taxas de respostas da pessoa que precisava sempre fazer mais do que produziu antes são todos exemplos de contingências de ansiedade.
As intervenções para cada uma dessas contingências tem suas especificidades, mas, no geral, trabalho duas frentes com meus clientes: desenvolvimento de habilidades comportamentais e emocionais. Aprender a espantar um bicho, a suportar a imprevisibilidade da vida e do adoecimento, a contatar reforçadores diretamente disponíveis nas relações com as pessoas e com o mundo, a acessar novos reforçadores em novas contingências depois uma mudança abrupta e a sair de contingências que adoecem pelo critério de reforçamento exigir que sempre que se faça mais são habilidades que venho buscando ajudar os clientes que acompanho a desenvolver. Olho para essas habilidades de maneira ampla, em classes como resolução de problemas, aceitação e regulação emocional, discriminação e expressão de necessidades, desenvolvimento de self, fortalecimento de vínculos e melhora na qualidade geral de vida. Essas classes mais amplas, que incluem as instâncias do que meus clientes vêm vivendo, podem ser desenvolvidas em inúmeras contingências, inclusive a social, em sessão; isso facilita a aprendizagem e a generalização desses repertórios.
Referências
Skinner, B. F (1953). Ciência e Comportamento Humano (11a ed.). São Paulo, Martins Fontes. Capítulos V, VI e XI.
Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991/2006). Psicoterapia analítica funcional: Criando relações terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETec. Capítulos 4 e 6.