Por que você não quer se vacinar?

Com o início da vacinação para combater e prevenir a COVID-19 no mundo, o interesse das pessoas em se vacinar tem chamado a atenção em todo o mundo. Enquanto países como os Estados Unidos têm taxas elevadas de recusa de vacina (Kelly et al., 2021), no Brasil, pesquisas de opinião pública têm indicado altos índices de interesse em receber a vacina (PoderData, 2021). Esse interesse tem sido destacado, em especial, por ser superior às médias internacionais. Mas quais variáveis psicológicas são relevantes para aqueles que não querem se vacinar? Algumas pesquisas tentaram investigar aspectos que diferenciam esse grupo daqueles que desejam ser vacinados.

Uma pesquisa realizada no Canadá (Afifi et al., 2021) mostrou que a maior hesitação para receber a vacina está entre aquelas pessoas que acreditam que as vacinas não são seguras, não sabem o suficiente sobre a vacina ou acreditam que a vacina não irá funcionar de forma correta, ou seja, não irá protegê-las da doença. Uma diferença interessante foi observada entre os gêneros, com os homens canadenses se dizendo menos preocupados em contrair COVID-19 e as mulheres afirmando não saber o suficiente sobre as vacinas. No Brasil, os dados de pesquisas de opinião mostraram que homens teriam menos intenção de se vacinar, se comparados às mulheres. Pesquisas nacionais podem investigar se essas diferenças também ocorrem no Brasil, considerando que a vacinação anual da gripe não apresenta diferenças de gênero em nossa população (Francisco, Barros, & Cordeiro, 2011).

Murphy et al. (2021) investigaram a resistência e hesitação para se vacinar na Irlanda e Reino Unido, países que, neste momento, atingiram níveis altos de vacinação de suas populações. Ter algum problema de saúde, estar nos níveis inferiores de renda e morar em subúrbios, estavam entre os principais fatores para não se vacinar. Interessante destacar que a renda parece ser uma variável relevante também para a população brasileira, mas por outros motivos. Estudo sobre o acesso a vacina na cidade de São Paulo demonstrou que ela está mais disponível nos bairros mais ricos da cidade com o uso dos critérios elaborados no Plano Nacional de Imunização (Marino, Brito, Mendonça & Rolnik, 2021).  

Esses dados levantam questões sobre como podemos atingir essas pessoas mais resistentes à vacinação. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2017), seis aspectos são fundamentais para o desenvolvimento de confiança em políticas públicas de saúde sobre a vacinação:  competência, objetividade, justiça, consistência, sinceridade e confiança. Esses aspectos deveriam ser claros para a população para um maior engajamento nas políticas de vacinação. Vergara et al. (2021) apontam que a falta de transparência quanto as vacinas por agentes públicos, bem como a psicoeducação, por meio de informação, são dois aspectos críticos para diminuir a resistência à vacinação.

            Com isso, fica patente a urgência de compreendermos as variáveis importantes para que uma parcela significativa da população brasileira não queira se vacinar. A Psicologia e a Análise do Comportamento devem contribuir para essa investigação, tentando compreender quais aspectos contextuais tem sido os mais relevantes para essa escolha. Bem como, como podemos intervir para melhorar a cobertura vacinal e diminuir a resistência a vacinas.

Para saber mais:

Afifi, T. O., Salmon, S., Taillieu, T., Stewart-Tufescu, A., Fortier, J., & Driedger, S. M. (2021). Older Adolescents and Young Adults Willingness to Receive the COVID-19 Vaccine: Implications for Informing Public Health Strategies. Vaccine.

Francisco, P. M. S. B., Barros, M. B. D. A., & Cordeiro, M. R. D. (2011). Vacinação contra influenza em idosos: prevalência, fatores associados e motivos da não-adesão em Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 27, 417-426.

Kelly, B. J., Southwell, B. G., McCormack, L. A., Bann, C. M., MacDonald, P. D., Frasier, A. M., … & Squiers, L. B. (2021). Predictors of willingness to get a COVID-19 vaccine in the US. BMC Infectious Diseases, 21(1), 1-7.

Marino, A., Brito, G., Mendonça, P. & Rolnik, R. (2021). Prioridade na vacinação negligencia a geografia da Covid-19 em São Paulo. Disponível em http://www.labcidade.fau.usp.br/prioridade-na-vacinacao-negligencia-a-geografia-da-covid-19-em-sao-paulo/

Murphy, J., Vallières, F., Bentall, R. P., Shevlin, M., McBride, O., Hartman, T. K., … & Hyland, P. (2021). Psychological characteristics associated with COVID-19 vaccine hesitancy and resistance in Ireland and the United Kingdom. Nature communications, 12(1), 1-15.

Organização Mundial de Saúde. Vaccination and trust: how concerns arise and the role of communication in mitigating crises. 2017. https://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0004/329647/Vaccines-and-trust.PDF

PoderData (2021). 82% querem tomar vacina contra o coronavírus; 10% rejeitam. Disponível em https://www.poder360.com.br/poderdata/82-querem-tomar-vacina-contra-o-coronavirus-10-rejeitam/

Vergara, R. J. D., Sarmiento, P. J. D., & Lagman, J. D. N. (2021). Building public trust: a response to COVID-19 vaccine hesitancy predicament. Journal of public health (Oxford, England).

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Escrito por Sidnei R. Priolo Filho

Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná em Curitiba.

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