Você gostaria de ter habilidades para obter o que necessita e deseja nas relações, conseguir que as pessoas levem em conta sua opinião ou pedido e aprender a dizer não para as coisas que você não deseja realizar? E gostaria de relacionar-se com as pessoas de maneira que se sinta competente e eficiente, defendendo suas opiniões e não cedendo à pressão das outras pessoas? E resolver conflitos antes que os problemas aumentem, construir novas relações e terminar com relações que dificultam o seu bem-estar? Se você quer isso, a boa notícia é que é possível. Estas habilidades são as metas do módulo de efetividade interpessoal do treinamento de habilidades na DBT.
Mas você pode pensar “Eu não mereço obter o que desejo”, “Se eu pedir algo, isto demostrará que sou uma pessoa fraca”, “Se eu disser não para um pedido, podem deixar de gostar de mim”. Esses são alguns mitos da efetividade interpessoal, que precisam ser reduzidos. Além disso, existem outros fatores que reduzem as habilidades e precisam ser enfrentados: falta de habilidades (não saber como agir); indecisão (não saber como equilibrar suas necessidades e as das outras pessoas); interferência das emoções, de outras pessoas e dos pensamentos; e priorizar as metas de curto prazo (prejudicando sempre as metas de longo prazo).
Para construir efetividade interpessoal é preciso ter claro quais são as suas metas sobre o que é importante para você: obter o que deseja, conservar a relação ou manter o autorrespeito. Você tem isso claro? Reserve um tempo para pensar nisso. Esta pergunta guia os passos dentro da efetividade interpessoal, pois determina se vamos ser efetivos em manter nossos pedidos, se vamos agir para manter boas relações ou se vamos agir para manter o autorrespeito. Outras questões que você pode responder para buscar a efetividade nas suas metas, nas relações e no autorrespeito são: O que tenho que fazer para obter esse resultado? O que quero que os outros sintam ao final da nossa interação? Como quero me sentir em relação a mim no final da interação? O que tenho que fazer para me sentir dessa forma?
Após descobrir as metas e saber o que precisa, é necessário saber qual a intensidade que você vai utilizar para pedir o que deseja ou para dizer um “Não”. Alguns fatores que você deve levar em conta neste momento são as suas prioridades, qual a capacidade da pessoa, se o momento é oportuno para o seu pedido ou negação, qual a relação de vocês e como isso influencia no seu autorrespeito.
Você pode estar pensando, mas como fazer isso? Para um bom desenvolvimento dessas habilidades é necessário muita prática. Você pode exercitá-las nas situações que ocorrem no seu dia a dia, ou você pode criar oportunidades para treiná-las, como por exemplo: pedir ajuda ou desconto em uma loja, pedir um favor para um colega de trabalho, discordar da opinião de uma pessoa de maneira cordial, solicitar tempo extra para terminar um trabalho. As habilidades de manter uma relação você pode obter através de alguns comportamentos, como ser gentil, não julgar, mostra-se interessado nos outros, escutar o ponto de vista da outra pessoa, reconhecer os sentimentos dela, ser paciente e sempre tentar usar um pouco de humor e sorriso. Se o objetivo for manter o autorrespeito, você deve fazer prevalecer seus próprios valores, ser imparcial (ser equilibrado tanto com você mesmo como com os outros), não se desculpar excessivamente (por ter opinião própria, por não concordar com os outros, por pedir algo) e ser autêntico.
Além disso, o módulo de efetividade interpessoal também desenvolve habilidades para construir novas relações e para pôr fim a relações destrutivas ou que dificultam o seu bem-estar. Por exemplo, no treino dessa habilidade se deixa claro quais são os passos que contribuem para conhecer pessoas que agradem – como identificar afinidades, a forma de iniciar uma conversa e mantê-la, o que transparecer. Com relação às relações destrutivas ou que dificultam o seu bem-estar, primeiro precisamos entender o que elas significam. Entendemos como destrutiva uma relação que afete a integridade, a autoestima e a tranquilidade de uma pessoa. E compreendemos como uma relação que dificulta o bem-estar aquela que dificulta que o outro alcance suas metas, que desfrute do que gosta e que se relacione com outras pessoas que ama. Depois, precisamos observar quais caminhos possibilitam colocar fim nestas relações. Um deles é fazer prós e contras, outro é fazer ação oposta (técnicas que você verá mais à frente em nossa coluna de DBT), e um aspecto importante é não tomar essas decisões estando em mente emocional.
Ainda neste módulo temos um ponto de extrema relevância para a efetividade interpessoal, a validação. Você sabe o que é isso? Validar é encontrar o grão de verdade em uma perspectiva ou situação, é reconhecer que as emoções, os pensamentos ou o comportamento do outro tem sua razão de ser. Validar não é estar de acordo, mas é demonstrar que você entende as circunstâncias. Mas será que devemos validar tudo? Não! Devemos validar o que é válido, ou seja, os fatos de uma situação, a experiência da pessoa, suas emoções e opiniões, o sofrimento e as dificuldades. A validação pode ser com o outro ou consigo que chamamos de autovalidação. Será que você tem se autovalidado? Qual foi a última pessoa que você validou? Observe se esta habilidade está em sua vida e se não estiver, pratique-a mais. Os relacionamentos ficam melhores quando usamos a validação!
Habilidade de efetividade interpessoal é um módulo que abrange diversos pontos, que auxilia na resolução de diversos problemas, nos conduz na construção de uma vida que valha a pena ser vivida, com base em relações satisfatórias e na preservação do autorrespeito. Se você gostou de conhecer sobre a habilidade de efetividade interpessoal e quer conhecer as outras habilidades do treinamento, leia as colunas de Mindfulness, Regulação Emocional e Tolerância ao Mal Estar. E como mensagem que resume a habilidade de efetividade interpessoal, deixo este pensamento de Ardonny Anderson: “As portas que abrimos e fechamos dia a dia determinam a vida que vivemos”.
REFERÊNCIAS
Linehan, M. (2015). DBT Skills Training Manual. 2 edition. New York: The Guilford Press.
Sayago, C. W. e Dornelles, V.G. (2015) Terapia Comportamental Dialética: estrutura e estratégias de tratamento. In:Lucena-Santos, P., Pinto-Gouveia, J., & Oliveira, M. da S. (Orgs.). (2015). Terapias Comportamentais de Terceira Geração: Guia para profissionais. Novo Hamburgo / RS: Sinopsys.