- Macios: algodão, pelúcia, lado macio da esponja de louça, etc.
- Compressores: touca de natação, cobertores ou lycra (para enrolar a criança), pesos sobre o corpo, etc.
- Ásperos: lado áspero da esponja de louça, lixa, areia, etc.
- Sonoros: instrumentos musicais, fone de ouvido, microfone, aparelho de som, etc.
- Luminosos: lanterna no escuro, brinquedos que brilham ou com luzes, etc.
- Cerdas: espanador, escovinha de cabelo de bebês, pena, etc.
- Gelatinosos: massinha, geleca, tinta, etc.
- Térmicos: bolsa térmica, gelo, água quente e fria, etc.
- Vestibulares: cama elástica, rede, balanço, etc.
- Massageadores: massageador elétrico ou de madeira, massagens com cremes hidratantes, etc.
- Proprioceptivos: piscina de bolinhas, luva de borracha cheia de água, arroz, feijão, etc.
Autismo: A alteração sensorial e as estereotipias
No último artigo começamos a discutir sobre as estereotipias, ou seja, os comportamentos repetitivos e com função meramente auto estimulatória, apresentados pela maioria das crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo. No primeiro artigo desta sequência falamos, especificamente, sobre uma das causas destes comportamentos: a restrição comportamental, isto é, a não aquisição ou atraso no desenvolvimento de comportamentos sociais que viessem a substituir os comportamentos de busca sensorial apresentados pelos bebês. Agora, vamos falar de uma segunda causa para os comportamentos estereotipados dos autistas: a alteração sensorial.
O nosso sistema nervoso recebe diversos estímulos através dos órgãos dos sentidos, como informações visuais, auditivas, táteis, olfativas, gustativas, proprioceptivas e vestibulares. O sistema nervoso, então, organiza estas informações, decodifica-as e responde a elas de forma apropriada, por exemplo, buscando mais de um estímulo que gerou sensações prazerosas e repelindo ou se afastando de um estímulo que gerou sensações aversivas.
As crianças autistas, entretanto, apresentam alterações orgânicas que afetam a recepção e a decodificação de estímulos sensoriais. Com isso, estes estímulos podem afetar o organismo da criança de forma exagerada ou diminuída, isto é, gerando muito prazer ou extrema aversão. Desta forma, um estímulo que, para as pessoas que não possuem tal alteração sensorial, gera uma sensação levemente prazerosa ou quase neutra, para uma criança autista pode gerar uma sensação muito prazerosa e, assim, extremamente reforçadora, fazendo-a buscar esta estimulação repetidas vezes. Por exemplo, olhar objetos rodando (uma estereotipia bastante comum nesta população). Em outros casos, um estímulo que para nós é prazeroso ou neutro, pode ser extremamente aversivo para as crianças com autismo, por exemplo, alguns sons comuns do dia-a-dia, mas que geram extrema irritação em crianças autistas.
Devido à presença desta característica na maior parte das crianças com autismo, é fundamental que elas passem pela avaliação de um terapeuta ocupacional. Este profissional irá avaliar como o organismo da criança está recebendo e decodificando estímulos sensoriais, identificar possíveis disfunções neste processo e, então, aplicar procedimentos para minimizar estas falhas e regular o organismo da criança por meio da Integração Sensorial.
O terapeuta ocupacional faz esta avaliação tanto a partir do relato dos pais e pessoas que convivem com a criança, quanto proporcionando à criança o contato com diferentes estímulos sensoriais (texturas, sons, movimentos, imagens, etc.) e observando suas respostas a cada estímulo.
Durante este primeiro momento de avaliação, para investigar as respostas das crianças aos estímulos sensoriais, o terapeuta ocupacional divide os estímulos em categorias, como:
Frente a cada categoria de estimulação sensorial, é importante observar respostas primárias, ou seja, se a criança aceita e procura mais daquela estimulação, ou se ela imediatamente rejeita e se afasta. Também deve-se observar respostas secundárias, isto é, se após a estimulação a criança apresenta-se mais relaxada ou agitada e, ainda, se ela responde melhor ou pior às demandas apresentadas após cada estimulação. Outro dado importante a ser coletado nessa avaliação é o aparecimento ou não de respostas estereotipadas durante a estimulação com cada categoria sensorial, identificando, assim, que estímulos evocam respostas estereotipadas.
Depois da avaliação, o terapeuta ocupacional pode, ele mesmo ou familiares e membros da equipe por ele orientados, começar a aplicar estratégias para minimizar possíveis alterações sensoriais identificadas. Por exemplo, se frente a uma determinada categoria de estímulos a criança apresenta resposta de procura (querer mais daquela estimulação), porém, também apresenta estereotipia, o adulto deverá continuar apresentando aquela estimulação com cautela, ou seja, sempre garantindo que a criança esteja conectada com ele e respondendo a demandas que ele coloque, para não entrar em estereotipia. Será necessário ensinar a criança a usufruir daquele estímulo de forma mais funcional, prevenindo estereotipias. Para isso, é importante garantir as trocas sociais e a reciprocidade sócio emocional durante a estimulação. Por exemplo, pode-se intercalar entre o adulto estimular a criança e a criança estimular o adulto. Pode-se, ainda, pedir respostas simples durante a estimulação, por exemplo, falar ou apontar em que parte do corpo quer uma massagem; olhar nos olhos do adulto; responder perguntas; contar até 10; etc.
Para tornar mais prático, imaginemos que o pular na cama elástica gere muitas estereotipias, ou seja, a criança pula balançando as mãos (flapping) ou rindo de forma descontextualizada ou fazendo algum som sem função. Nesse caso, seria importante continuar expondo a criança a esse estímulo do qual o corpo dela precisa, porém sempre com a supervisão de um adulto e, ainda, esse adulto deve estimular outras respostas mais funcionais, sociais e adequadas enquanto a criança pula. Por exemplo, pode-se pedir que a criança pule jogando a bola para o adulto e recebendo-a de volta; ou pule contando até 10 e, no final, caia sentada na cama elástica; ou, ainda, pule batendo as mãos com o adulto como numa brincadeira de Adoletá; etc. Assim, enquanto a criança estiver respondendo a demandas externas (colocadas pelo adulto), ela não poderá estar respondendo a demandas internas (estímulos sensoriais e estereotipias).
Na avaliação sensorial, também pode-se identificar estímulos que a criança goste, que são reforçadores e que não geram estereotipias. Esses estímulos são ótimos candidatos a reforçadores para as habilidades que estiverem sendo treinadas na terapia individualizada ou na escola. Por exemplo, se a criança adorou a estimulação com estímulos gelatinosos, esses materiais (massinha, geleca, tinta, etc.) podem ser disponibilizados imediatamente depois da resposta da criança a uma demanda específica colocada durante a terapia ABA ou na sala de aula, visando maximizar as respostas adequadas.
Durante a avaliação, também pode-se identificar estímulos sensoriais que geram extrema aversão, isto é, a criança se irrita, repele e nega aquela estimulação. Se o estímulo for algo com o qual a criança terá que ter contato em seu dia-a-dia, por exemplo, touca de natação, tinta, música, escova de dentes, etc., será preciso lidar com essa aversão. Para isso, uma das estratégias utilizadas é a dessensibilização, que consiste em expor a criança a essa estimulação repetidas vezes, sempre pareando-a com outras estimulações prazerosas. Assim, o estímulo aversivo pode vir a adquirir as características reforçadoras do estímulo que gera prazer. Além disso, durante este procedimento, nunca deve-se permitir que a criança sinta novamente a aversão àquele estímulo. Para isso, é importante parar a estimulação antes de ficar aversiva.
Mesmo após a fase de avaliação, é importante manter momentos de estimulação sensorial, no qual o adulto proporciona para a criança contato com diversos estímulos. Assim, estaremos garantindo que a criança receba os estímulos dos quais seu corpo precisa do outro em vez de se auto estimular, além de garantir as trocas sociais e respostas funcionais durante esta interação, evitando estereotipias. Para isso, é importante disponibilizar o estímulo sensorial correspondente à topografia da estereotipia, porém garantindo as trocas sociais e as respostas da criança às demandas colocadas, sempre em formato de brincadeira e interação.
No próximo artigo, fecharemos a série sobre estereotipias, discutindo a terceira causa destes comportamentos nas crianças com autismo: a tendência à repetição.
Referências Bibliográficas:
Rampazo, S. M. (2011). A terapia ocupacional utilizando-se da teoria da integração sensorial e da análise aplicada do comportamento para minimizar estereotipias de crianças com transtornos do espectro do autismo. Monografia para o curso de Pós-graduação em Terapia Ocupacional – Saúde Funcional, Facis – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.