Como me propús a enviar o vídeo para a turma, aproveito para fazer um breve comentário sobre o que ele mostra, usando os conceitos discutidos em sala de aula.
Conseguiu identificar as duas situações? Neste vídeo estão muito claras. Repare que a criança chora apenas quando percebe que o adulto a está observando. Por que isto? Provavelmente, na presença de adultos, no passado este choro produziu conseqüências como atenção, cuidado, etc. Estas conseqüências aumentam a probabilidade dele voltar a ocorrer em situações parecidas. A presença do adulto sinaliza a possibilidade daquelas consequências (atenção, cuidado, carinho, etc) voltarem a ser geradas por meio do choro. Em outras palavras, o choro, o jogar-se no chão e outros comportamentos do gênero, tem a função de obter atenção, cuidados e carinho do adulto.
A estas consequências do comportamento que aumentam sua probabilidade de ocorrência, dá-se o nome de reforçadoras. A estas situações que sinalizam a possibilidade da consequência voltar a ocorrer mediante a emissão do comportamento que a gerou no passado, chama-se estímulo discriminativo.
Esta redução de frequência e extinção, no entanto, não ocorrem rápida e facilmente. Quanto mais vezes a birra tiver gerado atenção, mais difícil será de extinguí-la (é como se a aprendizagem tivesse sido “mais consolidada”).
Existem alguns “esquemas de reforço” que aumentam ou diminuem ainda mais a dificuldade para que um determinado comportamento seja extinto, mas isto é assunto para outro texto
Quando os pais deixarem de consequenciar desta maneira o comportamento da criança, é provável que ele entre em variabilidade e aumente a intensidade e frequência momentaneamente. Ou seja: se o choro já não basta para conseguir aquilo que a criança conseguia através dele antes, então ela poderá começar a gritar, chingar, espernear, etc. Se o “volume” podia ser categorizado como 5, ele poderá ser categorizado como 7, 9, 10… Se chorar um pouco não adianta mais, a criança poderá chorar por mais tempo, etc.
Muitos pais não conseguem suportar estes efeitos da extinção e acabam cedendo à birra da criança, o que faz com que ela pare por um momento. Ou seja, a curto prazo resolve, pois a criança faz silêncio, mas a longo prazo isto está apenas a ensinando que se chorar não adianta mais, é preciso apenas gritar, espernear e chingar para conseguir aquilo que conseguia através do choro.
É preciso auto-controle por parte dos pais para passarem por estes efeitos. Se conseguirem, é apenas questão de tempo para que a birra da criança reduza frequência e intensidade, ou até entre em extinção.
* Sobre o uso da palavra “pais”: não são apenas os pais que reforçam estes e outros comportamentos nas crianças, mas quaisquer pessoas que interagem com elas, como irmãos, professores, amigos, colegas de sala, etc.
** Quando a criança chora, é importante verificar se está tudo bem com ela antes de concluir que é uma birra.