Como contribuir para a vida escolar de seu filho?
Alguns dos assuntos mais pesquisados no Comporte-se e mais mencionados como sugestão de post pelo Twitter, são relacionados à educação escolar de filhos. E não por coincidência, o tema aparece com bastante frequência também na clínica.
Pensando nisso, segue uma síntese das dicas apresentadas por Zoega e Marinho (2004), em seu artigo Envolvimento dos Pais: Incentivo à Habilidade de Estudo em Crianças, na qual é apresentado não um manual sobre como educar seu filho, mas um conjunto de estratégias que favorecem a criação de um contexto que motive o gosto pelos estudos nas crianças e porque não, contribua também para a melhora da relação pai-filho.
1º – Tornar explícitos os direitos e deveres do filho: desde pequenas, as crianças devem aprender que direitos e deveres andam sempre juntos. Uns não existem sem os outros.
Alguns direitos a criança tem pelo simples fato de existir, como por exemplo, o direito a amor e cuidado de seus pais. Vários outros, no entanto, devem ser conquistados por meio do cumprimento de alguns deveres. Caso a criança não cumpra algum dever, ela deixa de ganhar ou perde algum direito específico, previamente combinados. Por exemplo, os pais combinam com o filho que ele poderá assistir TV depois de fazer a tarefa de casa. Se ele não fizer a tarefa, definitivamente não poderá assistir televisão. Se mesmo assim os pais permitirem, certamente o filho irá aprender que não precisa cumprir com sua parte do combinado para conseguir as coisas.
2º – Estabelecer uma rotina organizada: rotina refere-se à definição clara e precisa do horário para a realização de cada atividade.
É importante que os pais conheçam a quantidade e o tipo de tarefa que a criança tem para casa para que possam ajudá-la a se organizar de maneira mais funcional. Eles podem ter acesso a estas informações conversando com a criança, olhando seus cadernos, conversando com os professores, com coletas, etc.
Junto à criança, eles devem estabelecer horários específicos para cada tipo de atividade: estudar, jogar, comer, etc., e estes horários não podem ser desrespeitados. Os estudos devem ser prioridade nesta lista. Deixá-los por último, aumenta o risco de a criança estar cansada e não conseguir se concentrar.
É importante também que os pais criem e sigam uma rotina para sí. As crianças aprendem com muito mais facilidade observando do que ouvindo. IMPORTANTE: se a criança vê os pais desrespeitando a rotina, há chances de ela também aprender a desrespeitar.
Ambas as rotinas podem ser organizadas em cartazes na parede da casa para serem consultados sempre qe necessário.
3º – Estabelecer limites.
Existem pesquisas que mostram que maioria dos jovens infratores são oriundos de lares onde, de acordo com Gomide (2006)
1) A disciplina é relaxada, isto é, os pais relativizam as regras, não colocam limites;
2) Os pais são autoritários e agressivos.
Para viverem em sociedade, as crianças precisam aprender que existem regras a serem seguidas, e este aprendizado, começa em casa, respeitando as regras estabelecidas pelos pais. Elas devem aprender que a última palavra sobre as coisas da casa é de seus pais; e estes, não podem permitir, sob hipótese algum, que o filho assuma o controle da casa.
4º – Supervisionar Atividades.
Quanto mais jovem a criança for, maior a necessidade de supervisão de suas atividades. Inclusive existem pesquisas que apontam que o progresso na aprendizagem escolar está diretamente ligado à supervisão e organização das tarefas do lar. Na supervisão, os pais devem tomar cuidado para não fazerem pela criança, sob pena de ensiná-la a delegar suas próprias tarefas aos outros e não se responsabilizar pelo que deve.
Este acompanhamento consiste em verificar se a criança possui dúvidas ou dificuldades, se está cumprindo seus horários, se ela realmente faz o que se propôs a fazer, etc.
5º – Dosar Adequadamente a Proteção e Incentivo à Independência.
Uma das tarefas mais difíceis para os pais é saber o quanto uma criança pode ser independente e o quanto ela ainda deve ser ativamente protegida por eles.
A independência deve ser incentivada aos poucos, à medida que a criança mostra-se capaz de lidar com as consequências de suas escolhas e ações. Além do mais, se os pais não permitirem que a criança se exponha aos desafios do mundo, ela jamais aprenderá a lidar com eles e certamente se tornará um adulto sem atitude e medroso.
6º – Prover um ambiente com recursos e instrumentos para estudar.
Um ambiente adequado para estudos envolve ausência ou quantidade mínima de ruídos e outras distrações, além de ser arejado e adequadamente iluminado.
É importante também observar o estado físico da criança: se ela está cansada, estressada, com sono, fome ou medo, dificilmente aprenderá a matéria ou desenvolverá gosto pelos estudos.
7º – Estabelecer Interações Positivas.
Infelizmente o castigo é uma estratégia muito usada para que a criança deixe de apresentar um comportamento indesejado. Existem, no entanto, dois aspectos que devem ser olhados com cuidado:
1) Eliminar um comportamento inadequado da criança não faz com que ela aprenda a se comportar de maneira inadequada;
2) Castigos e punições em geral, funcionam durante um curto período de tempo e geralmente apenas na presença daquele que castiga. Quem é pai sabe que, muitas vezes, mesmo após castigada por algum comportamento, a criança volta a se comportar do mesmo modo em outras situações, especialmente se este comportamento lhe traz alguma consequência agradável.
Por outro lado, é importante que os pais criem condições que reforcem ou motivem o aparecimento de comportamentos desejáveis. Algumas das maneiras mais eficazes de se criar estas condições são:
a) Acompanhar a criança nos estudos e apresentar consequências agradáveis imediatas a este comportamento (ex: muito bom te ver estudando e poder te ajudar);
b) Descrever o comportamento que está sendo conseqüênciado (ex: se a criança capricha em alguma coisa, dizer algo como “muito bom, parabéns pela dedicação”.
Em síntese, é importante que os pais provenham consequências que tornem o estudo algo agradável para a criança e não o associem a castigos, gritos ou agressões. Se o esforço da criança é elogiado ou premiado (preferencialmente com coisas não materiais) de maneira sincera, existem grandes chances de ela voltar a se esforçar no futuro.
É importante que os pais entendam, também, que não é possível uma criança que não gosta de estudar apaixonar-se pelos estudos de repente, de um dia para outro. É preciso “construir” seu gosto pelos estudos por meio de consequências imediatas a este comportamento. Consequências a longo prazo, como formar-se e ganhar dinheiro, dificilmente exercerão mais poder sobre a criança do que jogar e ganhar pontos no video-game, que além de ser algo imediato e agradável por sí só, poderá fazer também com que a criança receba aprovação e reconhecimento de seu grupo de amigos.
Outro cuidado necessário é para que o elogio não seja acompanhado de uma crítica. Por exemplo: “gostei de sua nota, mas vamos ver se a próxima ainda é melhor, tudo bem?”. Isso desvaloriza todo o esforço da criança. Fica a sensação de que o pai nunca está satisfeito.
É importante que os pais procurem ressaltar sempre os aspectos positivos do comportamento da criança e ignorarem os negativos. Por exemplo, em um boletim no qual as notas variam de 6 a 9: é mais útil ignorar o 6 e elogiar o 9 do que punir o 6, se o objetivo é contribuir para que a criança se motive mais para estudar.
Além disso, uma criança nunca pode ser comparada com outra. Toda comparação deve ser feita com base na história da própria criança: seu desempenho atual deve ser comparado com seu desempenho de um tempo atrás e não com o desempenho do coleguinha.
8º – Demonstrar afeto.
A disciplina e estabelecimento de limites e regras só são efetivos quando os pais demonstram afeto pelos filhos. O afeto pode ser demonstrado através da organização de um tempo para passar com os filhos, fazendo junto deles o que eles gostam e sintam prazer em fazer. É importante também que os pais demonstrem que gostam da criança independente dela obter ou não sucesso na escola. O amor deve ser incondicional.
9º – Modelo adequado de envolvimento com as atividades.
A criança aprende de maneira mais eficaz quando ela vê alguém fazendo do que quando ela ouve que deve fazer. Por exemplo: se os pais demonstram envolvimento e responsabilidade para com estudos e trabalho, mais provavelmente a criança também o fará. Se apresentam gosto pela leitura e demonstram isto para a criança, também é mais provável que ela aprenda a gostar de ler. Além disso, a aprendizagem só é efetiva quando o comportamento é seguido de consequências agradáveis para a criança, conforme discutido no ítem 7.
10º – Promover diálogo e confiança.
Os pais precisam se mostrar disponíveis para ouvir a criança e também falar contarem sobre seu dia e suas experiências para ela, cuidando sempre, para que a conversa não se transforme em um monólogo em que apenas os pais falam e questionam. Existem inúmeros estudos que demonstram que filhos que confiam mais nos pais tem menores chances de se envolverem com atividades ilegais.
11º – Apresentar nível de exigência compatível com o desenvolvimento da criança.
Cobrar um nível de desempenho muito alto para o nível de desenvolvimento e aprendizagem da criança certamente irá eliciar nela sentimentos de frustração e incapacidade.
12º – Relacionar Teoria e Prática.
Quando os pais valorizam o que a criança aprende e a ajudam a ver a aplicabilidade daquilo no cotidiano, sua aprendizagem ocorre de maneira mais efetiva.
13º – Incentivar o Brincar e a Socialização.
O brincar estimula o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. O seu dia não pode se transformar em um fazer contínuo de tarefas. É de suma importância que ela tenha momentos livres para diversão.
14º – Interessar-se pela Vida do Filho.
Os pais devem demonstrar interesse pela vida do filho em todos os momentos e não apenas quando ele apresenta bons resultados. É importante que participem das atividades que a escola do filho promove, acompanhe-o pelo menos em algumas das situações em que ele gostaria de ser acompanhado, convidem-no para ir a lugares diferentes de vez em quando, etc.
Material Consultado:
Gomide, P. I. C. (2006). Inventário de Estilos Parentais. Modelo teórico: manual de aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis: Vozes.
Zoega, M. R. S; Souza, S. R; Marinho, M.L. (2004). Envolvimento dos pais: incentivo a habilidade de estudo em crianças. Campinas: Estudos em Psicologia.