Psic. Anna Keila H. Polak
Psic. Dra. Ana Lucia Ivatiuk
O objetivo desta coluna deverá ser discutir questões referentes à Psicologia da Saúde e Hospitalar com o enfoque da Análise do comportamento. Quando algo novo, não que o tema seja novo, mas sim a coluna, é apresentado, nada mais justo do que começar pela definição, e assim será feito com a Psicologia da Saúde, com esta citação de Matarazzo (1980):
“Um conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais da disciplina da Psicologia para a promoção e manutenção da saúde, a prevenção e tratamento de doenças, a identificação da etiologia e diagnóstico dos correlatos de saúde, doença e funções relacionadas, e a análise e aprimoramento do sistema e regulamentação da saúde.” (p. 815)
Como se pode observar na definição, a Psicologia da Saúde tem uma atuação ampla, que abrange as ações práticas e científicas desde a promoção, passando pela prevenção e tratamento de doenças, até a intervenção que permita contribuir com o aperfeiçoamento do sistema em benefício da saúde. E aí se entra num outro aspecto importante de ter-se claro a definição: o que se define como saúde? Até algum tempo atrás dizia-se que era a “ausência de doença”, porém a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) se envolveu nesse sentido e conjuntamente com os sistemas locais (nacionais) hoje tem-se um termo bem mais amplo que prevê a compreensão da noção de saúde dentro de um contexto que envolve um equilíbrio biopsicossocial espiritual de cada organismo. Portanto, a Psicologia da Saúde poderá atuar nos ambientes em que este equilíbrio não esteja acontecendo, e, com isso, te uma ampla possibilidade de atuações.
Para melhor compreender como Psicologia da Saúde foi se torando um campo possível de atuação, nada melhor do que analisarmos um breve histórico a respeito. Apesar do reconhecimento recente da Psicologia da Saúde como área de atuação de trabalho, se for comparada a outras áreas mais tradicionais da psicologia, os primeiros movimentos aconteceram em 1911, quando a APA (American Psychological Association) discutiu o papel da Psicologia na educação médica. Um ano depois, em 1912, J. B Watson introduziu o ensino da psicologia para alunos de medicina. No Brasil, na década de 50 os primeiros trabalhos na área começam a ser feitos em São Paulo e na Bahia, mas apenas após a década de 90 que foi inserida como disciplina nos cursos de graduação. (Campos, 1995; Miyasaki & Amaral,1995; Kerbauy, 1999).
Tanto a ampla definição quanto a recente formatação da profissão de psicólogo da saúde possibilitaram uma confusão de definições até mesmo entre os psicólogos. Os limiares entre a psicologia da saúde e psicologia hospitalar parecem interseccionados, porém cada área tem suas características peculiares como veremos agora.
A Psicologia da Saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença (APA, 2003). Internacionalmente, já é uma área consolidada, diferente do que acontece no Brasil. O Psicólogo da Saúde deve ter algumas habilidades básicas como a facilidade para trabalhar em equipe, pois o psicólogo que se propõe a trabalhar neste campo deve compreender que a díade saúde-doença é o tema de trabalho de diversos outros profissionais. Além disso, deve ter noções de doenças no contexto geral e não apenas das psicológicas; ter treinamento para demonstrar a validade do trabalho e em habilidades sociais; trabalhar com situações breves, porém intensas e ser ágil na resolução de problemas. A área de atuação é vasta, podendo trabalhar em hospitais, centros de saúde, clínicas médicas, instituições especializadas, centros de reabilitação, programas do governo, medicina do trabalho, entre outras possibilidades de trabalho que incluam estratégias de recuperação, promoção e prevenção em saúde. (Campos, 1995; Amaral, 1999; Kerbauy, 1999). Enfim, a Psicologia da Saúde, com base no modelo biopsicosossocial, utiliza os conhecimentos das ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e da Psicologia Social-comunitária (Remor, 1999). A partir disso, pode-se entender que a psicologia hospitalar está contida na psicologia da saúde.
De acordo com o CFP (2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria. Entretanto, trabalhar quando a doença já está instalada, não minimiza a complexidade e a importância deste trabalho, Rodriguez-Marín (2003) sintetiza as seis tarefas básicas do psicólogo que trabalha em hospital: 1) função de coordenação: relativa às atividades com os funcionários do hospital; 2) função de ajuda à adaptação: em que o psicólogo intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente internado; 3) função de interconsulta: atua como consultor, ajudando outros profissionais a lidarem com o paciente; 4) função de enlace: intervenção, através do delineamento e execução de programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos pacientes; 5) função assistencial direta: atua diretamente com o paciente, e 6) função de gestão de recursos humanos: para aprimorar os serviços dos profissionais da organização.
Se no Brasil, como vimos, o esforço ainda está em clarificar as definições, é visto que a Psicologia da Saúde ainda é um conhecimento que está sendo consolidado. Isso reflete o formato atual utilizado desde a formação dos profissionais psicólogos, segundo Sebastiani, Pelicioni e Chiattone (2002), a formação do psicólogo na América Latina e no Brasil está vinculada basicamente a intervenção individual baseado no modelo clínico, que é a base de sua identidade profissional. Entretanto, considerando a volumosa demanda de trabalho existente no âmbito sanitário, muitas vezes profissionais seguem trabalhando exclusivamente no antigo modelo clínico individual e atuam na área da saúde sem ter conhecimento das ferramentas necessárias para uma atuação coletiva de prevenção e intervenção.
Há muito mais do que apenas a definição para se tratar sobre a temática, porém em breve, em outros textos daremos continuidade ao assunto.
Referências
APA – American Psychological Association . Página oficial da Associação, 2003. http://www.health-psych.org/ (28/08/2003).
Campos, T. C. P. (1995) Psicologia Hospitalar – Atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: E.P.U.
CFP – Conselho Federal de Psicologia . Relatório final da pesquisa sobre o perfil do psicólogo brasileiro. 2003.
Kerbauy, R. R. (1999) O papel da Universidade e a formação do psicólogo que trabalha com Comportamento e Saúde. In: R. R. Kerbauy (org), Comportamento e Saúde – explorando alternativas. Santo André: Arbytes Editora.
Matarazzo, J. D. (1980). Behavioral health and behavioral medicine: Frontiers for a new health psychology. American Psychologist, 35, 807-817.
Miyasaki, M.C.O. & Amaral, Y.L.A. (1995). Instituições de saúde. In: B. Rangé (Org.), Psicoterapia comportamemtal e cognitiva (pp. 235-244). Campinas: Editorial Psy.
Remor, E. A. Psicologia da Saúde: Apresentação, Origens e Perspectivas. Psico, v. 30, n. 1, 1999, pp.205-217.
Rodríguez-Marín, J. En Busca de un Modelo de Integración del Psicólogo en el Hospital: Pasado, Presente y Futuro del Psicólogo Hospitalario. In Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (org.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 831-863.
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