A Natureza Bifásica da Resposta Sexual

Como citado no texto anterior, o esquema da resposta sexual descrito de Masters & Johnson (1979) traz implícita a noção de que a resposta sexual consiste em uma sequência ordenada de uma ocorrência unitária e inseparável. A observação do ciclo normal da resposta sexual faz parecer que o orgasmo acontece no homem após a ereção do pênis e na mulher, após o ingurgitamento que é fisiologicamente manifesto pela lubrificação vaginal e pela intumescência dos órgãos genitais. Entretanto, a evidência clínica e fisiológica sugere uma fórmula alternativa – de que a resposta de ambos os sexos é, na realidade, bifásica.

De acordo com esta formulação, a resposta sexual não constitui realmente uma entidade única. Ela é formada por dois componentes distintos e relativamente independentes:
a) Uma reação vasocongestiva genital – que produz a ereção do pênis no homem e a lubrificação vaginal e intumescência, na mulher.
b) As contrações musculares clônicas reflexas – que constituem o orgasmo em ambos os sexos.

Esses dois componentes envolvem estruturas anatômicas diferentes, inervadas por partes distintas do sistema nervoso. A ereção se faz por intermédio da divisão parassimpática do sistema nervoso autônomo; ao passo que a ejaculação é uma função simpática.A ereção e o orgasmo também diferem quanto à vulnerabilidade aos efeitos traumáticos físicos, às drogas e à idade. O dano na ereção e na ejaculação, no homem, e na lubrificação e orgasmo, na mulher, resultam em síndromes clínicas completamente diferentes, provavelmente causadas por mecanismos psicopatológicos distintos, que reagem a processos de tratamento diversos.

Como os dois componentes da resposta sexual são controlados por partes distintas do Sistema Nervoso Central, um deles pode ser inibido ou prejudicado, enquanto o funcionamento do outro permanece normal.
Ainda hoje, a natureza dual da resposta feminina é amplamente ignorada e sob o rótulo de “frigidez” ainda se colocam tanto o sentido de retardamento orgástico específico das mulheres que, sob todos os outros aspectos, são responsivas, quanto o de inibições gerais da resposta sexual feminina, que incluem ausência de sensações eróticas e de lubrificação vaginal.
A distinção entre disfunções orgásmicas e disfunções gerais nas mulheres direcionam o tratamento a ser indicado. O tratamento de uma mulher eroticamente responsiva e com boa lubrificação, mas que tem dificuldade para atingir o orgasmo (disfunção orgásmica) tem uma ênfase diferente da mulher com disfunção geral, que não responde de maneira nenhuma à estimulação sexual.

A RESPOSTA SEXUAL MASCULINA
Inicia-se pela excitação erótica que evoca ambos os componentes da resposta sexual masculina: a ereção e a ejaculação.
A excitação pode ser iniciada por uma ampla variedade de estímulos: a) estimulação tátil direta no órgão sexual e a visão de um (a) parceiro (a) nu (a) sexualmente responsivo (a) são os mais frequentes; b) os estímulos visuais (observar outros em situações eróticas, olhar desenhos ou fotos eróticas); c) o estímulo tátil de partes não genitais do corpo e; d) sensações olfativas (perfumes ou odores sexuais). Estímulos auditivos, fantasias eróticas ou um ambiente sedutor, fetiches, etc., podem, também, disparar respostas fisiológicas reflexas nos vasos sanguíneos do pênis, resultando em ereção.

Ereção

É uma resposta vasocongestiva local que para compreensão de seu mecanismo requer o conhecimento da anatomia do pênis.
O pênis compreende a glande, o corpo e a raiz. O corpo esponjoso contém a uretra, que conduz tanto a urina quanto o sêmen. Na sua extremidade está a glande, que é das partes genitais masculinas, a de maior sensibilidade e a mais eroticamente responsiva. Na sua raiz, o corpo esponjoso termina em uma dilatação bulbosa guarnecida de fortes músculos. Estes músculos bulbares é que fazem a ejaculação através de suas contrações rítmicas. Em contraste, os dois cilindros dorsais – os corpos cavernosos – especificamente adaptados para a ereção, consistem de aprimorada montagem de diminutas cavernas de compartimentos e de uma rede de vasos sanguíneos especializados. Quando o pênis está flácido os compartimentos se afrouxam e o sangue circula livremente através do pênis. Entretanto, durante a ereção estes compartimentos são distendidos pelo sangue, que corre livremente pelo pênis através dos vasos sanguíneos amplamente abertos e, ao mesmo tempo, o sangue é impedido de sair por válvulas especiais nas veias do pênis, que podem ser fechadas por ação reflexa (é, em essência, um sistema hidráulico). Assim, o pênis fica aumentado e distendido até o limite da sua resistente bainha e se torna, simultaneamente, duro e rijo, preparado, portanto, para a penetração (a glande também aumenta, mas não fica enrijecida).
Atingida a ereção, esta pode ser mantida durante longo espaço de tempo. É esta capacidade do homem para sustentar a excitação sem ejacular que lhe possibilita o tempo necessário para preparar sua parceira, cuja excitação para a relação sexual é mais lenta.
Além da classificação em quatro fases, descritas no texto anterior, existem autores que descrevem a resposta sexual humana como trifásica. Assim, Kaplan (1977,1983) divide a resposta sexual humana em três fases: desejo, excitação e orgasmo e estudos psicofarmacológicos (Stahl, 2011; Carlson, 2001) a dividem em libido, excitação e orgasmo. Estas classificações se refletem na forma como são definidas as inibições ou inadequações da resposta sexual que podem ocorrer em qualquer ponto da resposta – nos estágios do desejo, da excitação e do plateau. A estas inibições dá-se o nome de disfunções sexuais e serão abordadas nos próximos textos.

Referências
Carlson, N.R. (2001). Fisiologia do comportamento. São Paulo: Editora Manole Ltda.
Kaplan, H.S. (1977). A nova terapia sexual. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira.
Kaplan, H.S. (1983). O desejo sexual. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira.
Masters, H.W. (1979). A conduta sexual humana. 3ª. Ed.Trad.Dante Costa, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A.
Masters, H.W. (1979). A incompetência sexual. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A.
Stahl, S.M. (2011). Psicofarmacologia: Bases neurocientíficas e aplicações práticas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

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Escrito por Portal Comporte-se

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