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A Análise do Comportamento não é pop
Humberto Gessinger complementou uma frase de Ortega y Gasset que representa uma síntese do que é a Análise do Comportamento: “e agora somos só nós dois, sempre foi só nós dois: eu e minha circunstância – sempre só nós dois”¹.
Entretanto, as ciências – e falemos diretamente sobre a Análise do Comportamento – não conseguem ser sintetizadas por outra frase de uma outra canção do mesmo Gessinger e que é de suma importância para a sociedade: a análise do comportamento não é pop.
As pessoas leigas não necessariamente querem saber o que é reforço positivo ou negativo, terapia por contingências de reforço, esquema de reforçamento por intervalo variável ou razão fixa… nossa, que chato! Mas essas mesmas pessoas poderiam – se existisse material disponível para sujeitos que não são da área – entender que quando a criança cai no chão chorando no meio da rua porque quer bombom e a mãe afaga indiscriminadamente e dá o bombom, ela estará ensinando a criança a pedir o bombom de forma escandalosa ou um pai que não liga para o filho que sempre tira notas ótimas na escola, mas que quando esse filho tira uma “acidental” nota vermelha, o mesmo pai antes indiferente agora demonstra atenção e cuidado com sua prole, que “percebe” que é mais vantajoso ser um mau aluno do que um bom.
Será que essa mãe e esse pai precisam ir a um terapeuta comportamental para entender essas simples regras da vida porque simplesmente não existem textos ou livros explicando os jargões técnicos da Análise do Comportamento? Sem esquecer que a teoria do reforço é um princípio filosófico antigo datado talvez antes mesmo das proposições de John Locke e Francis Bacon: as pessoas estão sempre correndo atrás do que lhes dá prazer e fugindo do que lhes é desagradável.
[Segundo John Locke, em seu livro “Ensaio acerca do Entendimento Humano”, nascemos como uma “folha em branco” (a famosa tábula rasa) e somos preenchidos por nossas experiências, estas serão determinadas a partir do ambiente que nos fará ir à busca de situações agradáveis ou fugir das desagradáveis].
Mas assim como a filosofia falhou em ensinar isso às pessoas comuns – dando espaço para livros de autoajuda de qualidade duvidosa, mas de alta vendagem – a Análise do Comportamento falha em não ter autores que traduzam a linguagem complicada de seus pressupostos e que poderia ensinar muito sobre como as pessoas devem se comportar no dia a dia.
Ah, mas esqueçam de tudo isso que eu disse até aqui. B. F. Skinner (1995) afirmou² que os cientistas deveriam ensinar às pessoas a linguagem técnica, que aos poucos os dicionários deixariam de ter tantos termos mentalistas e o vocabulário da sociedade seria mais objetivo e prático. Infelizmente (ou felizmente?) isso não aconteceu. As pessoas ainda falam em mente, psíquico, inconsciente e tantas outras palavras e isso acontece por um único e simples motivo: mente, psíquico, inconsciente ou seja lá o que for: faz sentido para elas. As explicações mentalistas fazem sentido para a sociedade – e não existe ninguém explicando para elas, com embasamento científico, porém com linguagem acessível, o que realmente é mente, psíquico, inconsciente, mentalismos e tal.
Devemos – como cientistas do comportamento – cometer os mesmos erros dos filósofos e deixar a sociedade à míngua dessas informações valiosas que elas provavelmente só terão acesso em um consultório psicológico?
A ciência, seja a comportamental ou qualquer outra, tem como princípio básico a simplificação e explicação do mundo, além, é claro, da utilidade dessas explicações: será mesmo útil a todos deixar confinadas aos interessados em Psicologia Comportamental tão valiosas informações sobre como as pessoas se comportam e por que elas são como são?
Os conhecimentos de todas as ciências precisam ser acessíveis, simples, explicando a partir do que é comum às pessoas e não forçando-as a entender algo que elas realmente não estão interessadas em saber (apesar de quererem saber como controlar suas vidas)– e se a Análise do Comportamento quer ser pop, mais ainda do que era antes do advento do Cognitivismo e suas explicações que faziam mais sentido para as pessoas comuns, ela deve quebrar as barreiras que são as paredes dos consultórios clínicos e romper com a necessidade de exclusividade das informações para os aplicadores dessa ciência.
É claro que isso não significa que, dentro dos muros das academias, os cientistas precisem falar do mesmo jeito que falam para a população. Claro que não. As terminologias técnicas são importantes e devem continuar: mas que sejam esclarecidos seus significados da forma mais simples e compreensível para aqueles que não são cientistas da área.
O que elas precisam saber, e do jeito delas e não do jeito dos analistas, é: o que diabos é comportamento?
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¹ A música é Humano Demais, da banda Engenheiros do Hawaii, composição de Humberto Gessinger. Faz parte do disco Minuano, de 1997.
² SKINNER, B.F. Sobre o Behaviorismo. Editora Cultrix. São Paulo: 1995.