A função do ensino efetivo da Análise do Comportamento: estabelecendo comportamentos vantajosos para sua sobrevivência

A maioria dos estudantes ingressa no curso de Psicologia imaginando-a como uma prática única, sem tomar conhecimento das abordagens que a compõe. Elas expressam diferentes tipos de visão de mundo e de homem, com diferentes bases filosóficas e epistemológicas. Ao receber todas estas informações, alunos tendem a ficar ansiosos por definir então qual é a visão que mais “combina” com sua forma de enxergar as coisas. Se fizermos uma análise comportamental, a história de vida de cada aluno seleciona uma prática que poderá se manter (ou não) por consequências reforçadoras tais como: avanços e melhoras de clientes atendidos na clínica-escola, prazer produzido por leituras sobre determinado conceito estudado, cursos e congressos da área e todo o reforçamento social envolvido e, em minha opinião (e experiência), professores –com papel fundamental nestas consequências mantenedoras. 
Professores propiciam nossos primeiros contatos com as práticas que selecionaremos para usarmos em nosso contexto de trabalho. Segundo Skinner (1953) a educação consiste em estabelecer comportamentos que serão vantajosos futuramente. O trabalho de um professor deve ser, então, o de controlar levar os estudantes a dizer e a fazer coisas que antes não possuíam em seu repertório. Logo, “controlamos o comportamento do aluno quando, conhecido o seu repertório e as consequências que têm valor reforçador para ele, planejamos uma sequencia tal que aumente a probabilidade de que passe a se comportar segundo os objetivos institucionais e estabelecidos.” (Luna, 1999, p. 131). A tarefa fundamental do professor deveria ser então arranjar as contingências de ensino de forma a propiciar o conhecimento, de maneira que os alunos possam demonstrar suas novas habilidades (Sidman, 2003).
Porém, o que vemos na prática é que, muitas vezes, nem mesmo os professores de Análise do Comportamento utilizam destes pressupostos para programarem suas disciplinas. E o resultado disto? Alunos reproduzindo preconceitos sem fundamento sobre a abordagem. Como já discutido, um dos pontos que contribui para manter críticas e preconceitos que envolvem a Análise do Comportamento (link aqui), é justamente o ensino precário, que acaba por ilustrar a Análise do Comportamento de uma forma reducionista, pautando-se apenas no ensino de conceitos como “reforço e punição” sem demonstrar sua origem e aplicabilidade nos mais variados contextos.
É possível então ensinar a como ser um bom Analista do Comportamento?
Se dermos um passo para trás e voltarmos ao modelo proposto por Tourinho (2011), temos a abordagem analítico comportamental ilustrada por um triângulo epistemológico. Tourinho propõe pensarmos sob vértices de um triangulo as produções reflexivas, a investigação básica e as aplicações da análise do comportamento. Neste modelo ilustrativo, o autor define produções de investigação básica como as que aproximam-se da demanda pelo conhecimento científico validado das regularidades dos fenômenos comportamentais. As produções aplicadas são definidas pelo uso da produção analítico comportamental nos contextos de intervenção e solução de problemas humanos, geralmente onde o trabalho do psicólogo é requisitado. No terceiro vértice, apoiar-se-iam as produções descritas na filosofia que embasa esta ciência, o behaviorismo radical.
Uma consideração importante seria a de levar este modelo ilustrativo e pautar o ensino da abordagem baseado nestes três vértices: a filosofia que a embasa, as pesquisas básicas que a estudam conceitualmente e a aplicabilidade destes conceitos. Na prática, geralmente encontramos falhas em algum dos vértices, muitas vezes pelo curto período de tempo reservado para a disciplina nos currículos de psicologia, outras vezes pela falta de estrutura de um laboratório de análise experimental. 
Nossa abordagem destaca-se, entre outros, no que diz respeito à pesquisa e outro ponto importante a ser levado em consideração é a realização e utilização desta no contexto didático, como ferramenta de ensino.Se pensarmos no contexto de aprendizado do terapeuta iniciante, como aponta Guilhardi (1987), a situação clínica é bastante complexa, pois envolve inúmeras variáveis, sendo assim, difícil para o profissional analisá-las e responder a elas de forma consistente e adequada. Neste sentido os elementos funcionalmente relevantes numa situação clínica envolvem inúmeras variáveis e, muitas vezes, são imprevisíveis. Consequentemente, é difícil descrever de forma sucinta aquilo que é essencial a priori. Isso torna a aprendizagem efetiva de “como ser um terapeuta analítico comportamental” um processo longo (na minha opinião durante toda a vida profissional!) composto de bases teóricas, filosóficas, conceituais, técnicas. Assim, para Guilhardi, é importante saber como o terapeuta se relaciona com o cliente, já que a qualidade (reforçadora ou aversiva) dessa interação influencia a técnica ou o procedimento formalmente descritos. 
A pesquisa neste contexto torna-se, então, um pilar essencial para compor, inclusive, o aprendizado do terapeuta iniciante. Com o objetivo de descrever as mudanças que ocorrem na interação entre terapeuta e cliente, a pesquisa de processo fornece um modelo de construção de conhecimento, e pode ser uma ferramenta valiosa didaticamente. Um exemplo deste tipo de estudo é o de Zamignani (2007), que teve como objetivo o desenvolvimento de um sistema multidimensional de categorização de comportamentos do terapeuta e do cliente para o estudo da interação terapêutica. O que Zamignani fez foi operacionalizar e categorizar comportamentos que compõe a sessão terapêutica. O uso deste tipo de ferramenta em contexto didático pode ampliar significativamente possibilidades de análises e ensino dos comportamentos básicos que envolvem um atendimento terapêutico.
Não se resumindo ao contexto clínico, pesquisas que têm por objetivo operacionalizar e sistematizar nosso objeto de estudo (comportamento) são valiosas ferramentas, as quais podemos dispor para um ensino efetivo da Análise do Comportamento, complementando o vértice de sólidas bases filosófica e experimental e contribuindo assim para o desenvolvimento e crescimento da abordagem.
Referências

Guilhardi, H. J. (1987). A formação do terapeuta comportamental. Que formação? Em H. W. Lettner e B. Rangé (Orgs.), Manual de psicoterapia comportamental (pp 313-320). São Paulo: Manole

Luna, S. V. Contribuições de Skinner para a educação. In: Psicologia da Educação: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Educação/ Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. N. 7/8, 2º sem. 1998 e 1º sem. 1999

Sidman, M. (2003). Coerção e suas implicações. Trad. Maria Amália Andery e Tereza Maria Sério. Campinas, SP: Livro Pleno

Skinner, B. F. (2007). Ciência e comportamento humano. Trad. João Carlos Todorov e Rodolfo Azzi. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953)

Tourinho, E. Z. (2011). Notas sobre o Behaviorismo de ontem e de hoje. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(1), 186-194

Zamignani, D. R. (2007). O desenvolvimento de um sistema multidimensional para a categorização de comportamentos na interação terapeuta-cliente. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo.

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Escrito por Portal Comporte-se

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