A Postura Terapêutica na RO-DBT
Para a RO-DBT bem-estar psicológico refere-se à:
- Receptividade e abertura para novas experiências e feedback desconfirmador, para aprender;
- Controle flexível, para se adaptar às mudanças ambientais;
- Conexão social com pelo menos uma outra pessoa.
Neste texto falaremos sobre o terceiro aspecto, CONEXÃO SOCIAL, focando na relação terapeuta-cliente.
Sendo uma das grandes dificuldades das pessoas supercontroladas estabelecer conexão íntima com outras pessoas, a relação que se estabelece entre o terapeuta e o cliente pode ser de grande valia para o desenvolvimento de habilidades nesta área da vida.
O terapeuta RO-DBT adota uma postura que modela gentileza, cooperação e diversão, em vez de corrigir, restringir ou tentar melhorar o cliente. A ideia é formar uma tribo entre eles e ajudar o cliente a construir uma vida que valha a pena compartilhar.
A Aliança Terapêutica
A dificuldade de estabelecer uma relação terapêutica genuína e funcional com um cliente supercontrolado não deve ser subestimada. Devemos considerar a predisposição biotemperamental do supercontrole, o estilo de apego evitativo ou desdenhoso e as tendências excessivamente aprendidas para mascarar sentimentos internos e evitar conflitos, como dificultadores para estabelecer e reconhecer o desenvolvimento de uma aliança terapêutica forte e saudável.
Na RO-DBT, adesão ao tratamento, declarações de compromisso ou falta de conflito não são indicadores suficientes de uma boa relação terapêutica.
Algumas rupturas de aliança e reparos bem sucedidos são esperados ao longo do processo terapêutico e, caso não ocorra, considera-se o relacionamento entre terapeuta e cliente relativamente superficial.
Rupturas e Reparos da Aliança
Uma ruptura de aliança ocorre quando o cliente se sente incompreendido pelo terapeuta ou quando o cliente não identifica o tratamento como relevante para suas questões.
Uma expressão facial, o tom de voz ou até mesmo um simples elogio feito pelo terapeuta podem desencadear ruptura de aliança. São inúmeras as possibilidades.
E como podemos saber que houve ruptura de aliança? Há indicadores verbais e não verbais que sugerem que houve ruptura.
Em relação aos indicadores verbais, podemos observá-los através de uma mudança repentina no clima da sessão ou no tom da conversa; quando o cliente muda rapidamente o assunto em discussão; quando a velocidade de fala do cliente diminui bruscamente (podendo ser indício que ele está editando o que revela); ou quando o cliente passa a falar menos na sessão, respondendo às perguntas do terapeuta de forma monossilábica, concisa (“ok; ahn-han; sim”).
Já os indicadores não-verbais podem ser observados através de expressões faciais como testa franzida, desvio no olhar, sorriso fora de contexto, lábios contraídos. Movimentos incomuns de mãos e pés.
Mudanças no padrão de comportamento em relação à terapia (não fazer tarefas; chegar atrasado; faltas) também podem ser indicativas de ruptura de aliança.
Inúmeras vezes a ruptura de aliança é consequência de um simples mal-entendido. O terapeuta pode, durante a sessão, pedir informações ao cliente sobre a experiência dele no momento atual para monitorar seu engajamento. Ex.: “Isso faz sentido? ou “Você está comigo? ou “O que você gostaria de me dizer?”. O cliente se sente, diante dessas perguntas, autorizado a expressar desconforto ou desagrado, tornando mais fácil para o terapeuta saber quem é o cliente (e, esperançosamente, como consequência, poder ajudá-lo).
Quando o terapeuta identifica que houve uma ruptura de aliança deve abandonar a agenda da sessão e trabalhar para reparar o relacionamento. A ideia básica é aliviar brevemente a pressão sobre o cliente. Como fazer isso? Interrompendo brevemente o contato visual (1-2 segundos), recostando-se na poltrona, respirando fundo e lentamente, levantando as sobrancelhas, dando um leve sorriso de boca fechada. Descrever ao cliente o que você observou: “observei que seu você passou a falar menos quando eu… ” e perguntar: “o que está acontecendo com você agora?”. Dê tempo ao cliente para responder às perguntas. Reflita sobre o que foi dito e confirme sua concordância. Reforce a autorrevelação do cliente e pratique abertura radical (do terapeuta). O reparo deve ser breve, confirme com o cliente seu reengajamento e retorne à agenda da sessão.
O terapeuta deve estar atento aos sinais de que o reparo da aliança foi – de fato – bem sucedido (apenas a verbalização por parte do cliente não é suficiente). Indícios de sucesso: o cliente começa a retomar o contato visual naturalmente; usa frases com mais de uma palavra; contribui de forma independente para a discussão; permanece no tópico e faz perguntas sobre um tópico anteriormente evitado ou angustiante, sem orientação do terapeuta.
Prevenção do Abandono Prematuro do Tratamento
Uma especificidade da terapia com clientes supercontrolados é que há – por parte do cliente – uma tendência a abandonar os relacionamentos quando surge um conflito em vez de lidar diretamente com o problema. Assim, para evitar que haja um rompimento prematuro do tratamento, é importante que o cliente assuma o compromisso de não abandonar a terapia sem antes conversar pessoalmente com o terapeuta (este compromisso deve ser acordado antes do final da primeira sessão). Além deste, outros compromissos devem ser firmados: o terapeuta deve incentivar a divulgação sincera e o desacordo por parte do cliente. A expressão de opiniões, desagrado e divergências deve ser normalizada e não evitada.
Quando há, por parte do cliente, o desejo de encerrar o tratamento de forma prematura, é importante conversar sobre isso. É uma oportunidade para o cliente aprender como se envolver e reparar conflitos com sucesso. Através dos reparos de aliança, o terapeuta comunica ao cliente que ele é cuidado, que suas preocupações são levadas a sério e que está tudo bem discordar ou não gostar de algo. A relação sobrevive a isso (e até se fortalece).
Considerações Finais
Quando falamos sobre tratamento para pessoas supercontroladas, é esperado que haja pequenas rupturas de aliança ao longo do processo. Ao invés de temidas, as rupturas devem ser vistas como oportunidades importantes de praticar competências.
Na RO-DBT, se não houver rupturas e reparos de alianças, a relação terapêutica é considerada superficial.
Pessoas supercontroladas são habilidosas em mascarar seus sentimentos e em não revelar vulnerabilidade ou raiva, tendem a abandonar relacionamentos quando o conflito surge e, portanto, as rupturas e reparos de alianças são excelente oportunidades para envolver-se e resolver conflitos com sucesso e, assim, praticar as habilidades necessárias para formar laços sociais estreitos.
Referência Bibliográfica:
Lynch, T. R. (2018). Radically open dialectical behavior therapy: theory and practice for treating disorders of overcontrol. New Harbinger Publications.