Nas partes 1, 2 e 3 foram vistos modelos de protocolos para as crianças preencherem acerca das emoções, dos objetivos terapêuticos, da interação pais & filhos e do contrato terapêutico. Também foram vistos modelos de protocolos dos objetivos terapêuticos, do registro geral de comportamentos, da rotina alimentar e das refeições, preenchimento destinado aos pais e/ou outros responsáveis.
Nesta Parte 4 (e última), será dada continuidade na apresentação dos trabalhos. Abaixo, seguem os modelos para o registro de pais e/ou outros responsáveis.
– Protocolo da Rotina
Este protocolo foi denominado como “Diário da Rotina”, com o objetivo de coletar, de forma mais fidedigna, informações a respeito das atividades que a criança realiza ao longo da semana. Esse registro pode ser relevante para a construção da análise funcional e/ou planejamento de intervenção, na direção do alcance dos objetivos terapêuticos.
Assim, a partir dele, o(a) psicólogo(a) poderá investigar, por exemplo, acerca do tempo de qualidade da interação entre os pais e a criança; as possíveis atividades do dia a dia que podem estar relacionadas com a ocorrência de comportamentos indesejados e/ou adequados da criança; a distribuição do tempo da criança em atividades acadêmicas (escola, inglês, reforço escolar etc) e em atividades de lazer; se as atividades e os seus horários são organizados previamente e se há o cumprimento deles; a possível influência da ordem das atividades (como a criança brincar primeiro depois fazer a tarefa de casa ou ao contrário) em seus comportamentos; atividades reforçadoras para a criança; entre outros. Esse registro pode complementar as informações trazidas pelo Diário do Comportamento (como visto na Parte 3 do artigo). Sugere-se que as horas sejam indicadas de hora em hora, para maior coleta de informações.
A folha (Figura 1) é composta por uma tabela com colunas referentes ao horário e aos dias da semana, além de linhas com espaços vazados, destinados para a descrição das atividades da criança e seus respectivos horários. Acima da tabela, há a instrução: “Descreva com a maior especificidade possível o que, naquele momento, a criança está fazendo. Por exemplo, do que está brincando?”. Há outra folha que possibilita continuidade no registro.
– Protocolo do Sono
Este modelo pode auxiliar na coleta de informações a respeito do sono da criança, especialmente no que tange aos indesejados e frequentes despertares noturnos. A partir dele, é possível investigarmos informações acerca a) do intervalo entre o contato com aparelhos eletrônicos e o momento de dormir, b) a quantidade de despertares durante a noite, c) o tempo que é levado para dormir novamente d) a quantidade de horas/sono por noite.
O registro em paralelo do Diário da Rotina (como descrito anteriormente) pode colaborar para a avaliação pelo(a) psicólogo(a), ao permitir analisar possíveis relações das atividades cotidianas com os despertares. Por exemplo, nas noites anteriores às aulas de matemática, a criança apresenta maior quantidade de despertares noturnos. Além disso, o registro dos itens pode funcionar como estabelecimento da linha de base a ser comparada com o após a intervenção, possibilitando a avaliação dos resultados e/ou da ação do(a) psicólogo(a).
Reconhece-se a limitação do uso deste protocolo, uma vez que, para ser possível o registro dos itens, é exigido que o responsável esteja disponível em supervisionar a criança no período noturno. Além disso, esta atenção do adulto (interação ao a criança acordar) é uma variável que precisa ser levada em conta também na análise funcional.
A folha (Figura 2) é composta por uma tabela, em que as colunas são constituídas pelos dias da semana e os itens que se pretende investigar. De cima para baixo, na ordem, os itens são: “horário que encerrou o contato com luz e com algum dispositivo eletrônico”; “horário que foi para a cama”; “horário que conseguiu dormir”; “horário que despertou de noite”; “horário que voltou a dormir”; e “horário que levantou no dia seguinte”.
Os oito modelos construídos (distribuídos nas partes 1, 2, 3 e 4) são instrumentos que podem auxiliar a prática do(a) psicólogo(a) infantil. A escolha de qual modelo utilizar dependerá do objetivo do profissional. Ao solicitar o registro, tanto pelos pais quanto pelas crianças, é importante o(a) psicólogo(a) ter ciência que, nesse processo, o controle das variáveis não é semelhante às condições experimentais. Por isso, a aplicação dos protocolos apresentados não se esgota em si, sendo necessário a observação direta dos comportamentos-alvos da criança e de seus responsáveis, além de buscar outros meios que permitam a coleta de informações e o planejamento e aplicação da intervenção.
Sugere-se a aplicação destes modelos de maneira sistemática, avaliando sua efetividade e praticidade na psicoterapia.
Para o acesso aos protocolos citados, mande um e-mail para mim, amandapsico8@gmail.com, ou um direct no Instagram @guiapraticodospequenos, página que auxilia a prática de psicólogos infantis.
Referências de todas as partes do artigo:
Andery, M. A. P. A. (2010). Métodos de pesquisa em análise do comportamento. Psicologia USP, 21(2), 313-342.
Caminha, M.G., & Tisser, L. A. (2014). Por que vou à terapia?. Porto Alegre: Sinopsys.
Martin, G., & Pear, J. (2009). Modificação de Comportamento: o que é e como fazer. São Paulo: Rocca.
Moura, C. B. D., & Venturelli, M. B. (2004). Direcionamentos para a condução do processo terapêutico comportamental com crianças. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 6(1), 17-30.
Moura, C. B. e Azevedo, M.R.Z.S. (2000). Estratégias lúdicas para uso em terapia comportamental infantil. Em: R. C. Wielenska, (org) Sobre comportamento e cognição: questionando e ampliando a teoria e as intervenções clinicas e em outros contextos. v.6, pp. 163-170. Santo André: ESETec.
Nery, L. B., & Fonseca, F. N. (2018). Análises funcionais moleculares e molares: um passo a passo. Teoria e formulação de casos em análise comportamental clínica, 22-54.
Regra, J. A. (2000). Formas de trabalho na psicoterapia infantil: mudanças ocorridas e novas direções. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2(1), 79-101.
Silvares, E. F. M. (1991). O papel do registro de observação de comportanentos e da quantificação no diagnóstico clínico comportamental. Psicologia USP, 2(1-2), 105-109.