Historicamente, a sociedade é carregada de diversos preconceitos, dentre eles, o machismo. Certamente, em algum momento da sua vida, você já reproduziu falas e/ou comportamentos machistas sem plena consciência. Isso ocorre devido ao enraizamento deste preconceito, perpetuado por anos e gerações.
Existem diversas definições de machismo, mas segundo Castañeda [1], o machismo pode ser definido por crenças e comportamentos acerca da polarização dos sexos e da superioridade masculina. Nessa mesma linha, Torrão Filho [2], diz que tudo que é contrário da conduta normativa masculina heterossexual passa a ser tratada como antinatural, e então, surge o preconceito e a agressão aos que transgridam a “ordem natural” das coisas. Bourdieu [3] valida o fato de que esses comportamentos são da ordem do ordinário, isto é, comum e cotidiana.
Comportamento é definido por Skinner como a interação entre organismo e ambiente [4], sendo assim, tendo a percepção de que o comportamento machista tem sua origem a partir da interação do indivíduo com o meio em que está inserido, e sabendo o quanto este é danoso à sociedade, o que reforça tais comportamentos?
Essa classe de respostas machistas é reforçada por estímulos reforçadores positivos, que significa que as respostas emitidas nestas falas/ações são consequenciadas com a adição de estímulos no ambiente [5], tais quais risadas, piadas e até a aceitação em determinados grupos sociais, como por exemplo, o mundo corporativo.
Tais percepções fazem com que muitos homens não compreendam o idealismo acerca do movimento feminista, que não é promover a superioridade das mulheres, mas sim, a busca pela equidade de gêneros. O movimento solicita, acima de tudo, igualdade salarial e o direito de exercer funções que, historicamente, são determinadas a serem exercidas apenas por homens, além de outras reinvindicações igualitárias [6].
O machismo não é causador de danos apenas para as mulheres, mas também para o próprio homem. Afinal, em uma sociedade machista, o homem é condicionado a não demonstrar nenhum tipo de fragilidade ou sentimento sem que seja julgado como vulnerável, pois estas, são características ligadas ao feminino. Além disso, a ausência de autocuidado e a negligência com a saúde física e mental presentes em padrões machistas contribuem para a alta taxa de mortalidade masculina.
Um estudo da Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS [7] aponta que os homens vivem 5,8 anos a menos que as mulheres devido a comportamentos relacionados às expectativas sociais de seu gênero.
Sendo assim, notamos que a classe de comportamentos machistas também é reforçada negativamente, ou seja, estes ocorrem a fim de evitar situações aversivas [5], como lidar com seus conflitos pessoais, e então, escondem-se por trás da figura máscula imaginária.
Mas então, qual seria o papel do homem diante dessa desconstrução social?
Para responder essa pergunta, é preciso compreender que entrar em contato com as suas vulnerabilidades e falar abertamente sobre elas não o torna menos masculino, pelo contrário, ajuda com que ele não precise externá-las através de padrões comportamentais inadequados, como a violência ou dependências químicas.
Assumir essa condição faz com que o homem abandone sua posição de superioridade, e então, inicie seu processo de desconstrução do machismo e construção de uma masculinidade saudável. Este caminho deve ser percorrido diariamente, por meio de auto avaliações de posturas e condutas adotadas em interações sociais, além de promover debates em grupos de homens a fim de refletir a respeito destes comportamentos.
Deixo abaixo, como indicação para auxiliar nessas reflexões, o documentário: “O silêncio dos homens”.
REFERENCIAS
[1] CASTAÑEDA, Marina. O machismo invisível. São Paulo: A Girafa Editora, 2006.
[2] TORRAO FILHO, Amílcar. Uma questão de gênero: onde o masculino e o feminino se cruzam. Cad Pagu, Campinas, n. 24, jun. 2005. Disponível em < https://doi.org/10.1590/S0104-83332005000100007> acesso em 20 out. 2020..
[3] BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução Maria Helena Kuhner, 2ª edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
[4] SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Publicação Original (1953).
[5] SKINNER, B. F. Contingência do reforço – uma análise teórica. São Paulo: Abril Cultural, 1984. Publicação Original (1969).
[6] SILVA, Sergio Gomes da. A crise da masculinidade: uma crítica à identidade de gênero e à literatura masculinista. Psicol. cienc. Prof, Brasília, v. 26, n. 1, p. 118-131, mar. 2006. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 20 out. 2020.
[7] OPAS ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, Masculinidade tóxica fará com que 1 em cada 5 homens nas Américas não alcancem os 50 anos. Disponível em < https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6062:masculinidade-toxica-fara-com-que-1-em-cada-5-homens-nas-americas-nao-alcancem-os-50-anos&Itemid=820> acesso em 20 out. 2020.