O fim do ano está chegando e com ele as festas de formatura e cerimônias de colação de grau. Em psicologia no ano de 2015, 23.285 se diplomaram no Brasil. No ano de 2017, psicologia foi a sétimo curso com mais matrículas (G1, 2017).
Além das festas de dezembro e janeiro típicas da nossa cultura, há alguns rituais também que são mantidos, como por exemplo a realização de listas de objetivos ou as reflexões sobre o que foi realizado no ano em que passou e os projetos para o próximo.
Com muitos profissionais se formando, surgem também os projetos para aqueles que desejam seguir a profissão clínica e este artigo se destina a estes.
Seria um engano que um recém-formado imaginasse que apenas após sua formatura começaria a construir sua imagem profissional. Na Análise do Comportamento é sabido que aprendemos com as contingências que vivemos, logo, há que se planejar a longo prazo para que sua imagem/seu nome (Sd – estímulo discriminativo) esteja alinhado também aos seus objetivos profissionais a longo prazo.
E como isso seria possível?
Bom, voltemos um pouco às aulas de Análise Experimental. Se Pavlov condicionou os cães a salivarem na presença de um sino, quais consequências seriam esperadas quando sua imagem, seu nome ou seu profissionalismo estão envolvidos? As respostas podem ser um indicativo de situações pelas quais as pessoas passaram antes relacionadas a estes estímulos.
Estas respostas podem também indicar como está o manejo das contingências relacionadas aos objetivos profissionais pretendidos.
Durante a graduação algumas habilidades são desenvolvidas para o ambiente de estudos e para viabilidade da formação propriamente dita. Aprende-se a cumprir prazos, estudar para a prova, entregar trabalhos, de acordo com a faculdade e as regras estabelecidas por professores e instituição.
Após a formatura, não há mais provas, trabalhos ou prazos. O profissional torna-se autodidata. Nesta condição, há que se planejar para que sua formação não termine apenas com a chegada do diploma. Quando o formando se lembra sobre a condições de emparelhamento como no experimento de Pavlov, este poderá planejar a longo prazo quais pessoas, situações e conteúdos pelos quais é interessante, de acordo com seus valores, ser lembrado dentro e fora do ambiente acadêmico.
Como traçar objetivos e alcançá-los na vida profissional?
Na psicologia há duas ferramentas que podem auxiliar os profissionais na clínica, a psicoterapia e a supervisão clínica, ambas podem ser realizadas com um outro profissional da área. A supervisão tem como objetivo ensinar conteúdos teóricos e preparar o psicólogo para a relação e o vínculo terapeuta-cliente (TAVORA, 2002).
Segundo a Terapia de Aceitação e Compromisso, a construção de uma vida valiosa acontece quando esta fica alinhada ao que realmente é importante. A viabilidade disso está atrelada às habilidades de flexibilidade psicológica (Saban, 2015). O desenvolvimento de habilidades é o papel da psicoterapia e este é um exemplo de um dos tipos de terapia de terceira onda que podem auxiliar neste processo.
Através do autoconhecimento é possível estabelecer o que é importante e quais situações tem maior probabilidade de, futuramente propiciar as consequências desejadas. Além deste conhecimento valioso às vidas pessoais e profissionais, a compreensão sobre seu ambiente, o desenvolvimento de habilidade para lidar com frustações e o engajamento em ações que visem mudanças, podem auxiliar principalmente no início de carreira (Saban, 2015).
Os conhecimentos técnicos adquiridos na graduação são essenciais à prática da psicologia, assim como o registro no Conselho Regional de Psicologia, mas há que se pensar para um pouco além da formação da faculdade, são necessários arranjos que propiciem o início da jornada clínica.
É comum ouvir em manejos clínicos, sobre a função do ambiente para que dados comportamentos tenham maior probabilidade de ocorrerem, um planejamento a curto, médio e longo prazo incluem exatamente isso. O manejo ambiental para aumentar a probabilidade de comportamentos futuros, por exemplo – planejar-se financeiramente para o início da clínica, incluindo no planejamento o valor que cobrará pelas sessões, o quanto gastará para se manter na clínica durante um período X de tempo, a localização da clínica, o pagamento de taxas do CRP, alvará para atuação na sala pretendida, entre outros.
Este planejamento ambiental inclui também as companhias, colegas de profissão e assuntos pelos quais quer ser lembrando. Os contatos que fazem parte do ambiente de um profissional podem aumentar ou não a probabilidade de convites para palestras, para compor grupos clínicos, para realizar estudos e supervisões. O conhecimento à cerca do comportamento e das consequências dele podem auxiliar o próprio psicólogo fora da sessão de terapia.
Começar uma profissão oficialmente pode gerar inseguranças, medo, afinal é um contato com situações completamente novas. Os sentimentos são produtos da contingência (Guilhardi, 2002). Ou seja, um sentir desagradável não está errado.
Um psicólogo poderá beneficiar-se dos serviços da psicologia, mas para que isso aconteça, há que se expor a este ambiente.
Uma das formas de planejar e aprender a lidar com os sentimentos desagradáveis desta exposição inicial, poderia incluir um contato gradativo com o início na clínica, visitas a clínicas onde gostaria de atender, conversa com colegas de profissão que já atuem sobre as dúvidas e inseguranças. As ferramentas da psicologia também podem ser utilizadas a favor do desenvolvimento do próprio psicólogo.
Referências:
G1. Dez carreiras que tem quase metade de todas os formados no Brasil desde
2001. Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/dez-carreiras-tem-quase-metade-de-todos-os-formados-no-brasil-desde-2001-g1-tera-serie-de-reportagens.ghtml>.
Acesso em: 18 nov. 2019.
GUILHARDI, H. J. Autoestima, autoconfiança e responsabilidade. Comportamento Humano –Tudo (ou quase tudo) que voce precisa saber para viver. 2002. Santo Andre (SP): ESETec Editores Associados. Disponível em <https://tommyreforcopositivo.files.wordpress.com/2015/08/brandc3a3o-m-z-s-conte-f-c-s-mezzaroba-s-m-b-2002-comportamento-humano-tudo-ou-quase-tudo-o-que-vocc3aa-precisa-saber-para-viver-melhor.pdf>Acesso em: 07 out. 2016.
SABAN, M. T. O que é terapia de aceitação e compromisso?. Terapias Comportamentais de terceira geração: guia para profissionais. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015. p. 179-216
Tavora, M. T. (2002). Um modelo de supervisão clínica na formação do estudante de psicologia: a experiência da UFC. Psicologia em Estudo, 7(1), 121-130.