“Nos imaginamos livres, porque ignoramos as causas que nos determinam” Spinoza
Descreve-se no estudo do comportamento humano que a liberdade existe quando o sujeito torna-se consciente de seu comportamento, de seus fatores determinantes. Assim há possibilidade de autocontrole, ou melhor, torna-se viável uma modificação comportamental. (Brandenburg& Weber, 2005)
Skinner, ao fornecer um exemplo de controle governamental, ressalta que o sentimento de liberdade é reforçado pela comunidade justamente por não exercer contracontole – trata-se neste caso de um reforço positivo. Ex.: Se o governo precisa levantar fundos e pensar em ambas as possibilidades: 1. Recolher taxas da população ou 2. Organizar uma loteria. Em ambas há controle, mas é percebido que na segunda além de conseguir recolher os fundos, a população se sentirá livre na adesão ao mesmo, não haverá protesto. (Brandenburg& Weber, 2005)
Desta forma o controle não é percebido, existe e se perpetua sem que seja notado. Permanece na vida das pessoas de maneira inconsciente, ou seja, sem que as mesmas possam descriminá-la como controladora.
O comportamento consciente neste sentido surge como uma alternativa, a liberdade dependerá do autoconhecimento. Um sujeito consciente do que o controla poderá optar por manipular as variáveis e modificar seu comportamento. Além disso, o autoconhecimento surge como uma ação com propósito, o sujeito consciente do que o controla tem comportamentos propositais que maximizam o reforçamento positivo. (Brandenburg& Weber, 2005) Por exemplo: Ao saber que o parceiro(a) gosta de ver a cama arrumada após levantar-se, arrumar a cama e comunicar que fez isso para agradá-lo(a) e receber como consequência abraços, beijos ou elogios.
Mas, como alcançar o autoconhecimento? Skinner salienta que “Só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante para as demais é que se torna importante para ela própria” (Skinner, 1982, p.31). Assim um sujeito torna-se capaz de se reconhecer, prever e controlar seu próprio comportamento.
Diferentemente das teorias que trariam a possibilidade de autoconhecimento por meio da introspecção, a Análise do Comportamento acredita que ela só se torna possível no convívio social. É conhecendo o outro que o sujeito tem a possibilidade de aprendizado sobre si mesmo. (Skinner, 1982)
A terapia promove este autoconhecimento como parte do processo, isso oferece ao cliente um conhecimento que o capacita a modificar e criar novos repertórios com autonomia (Batitucci, 2001 apud Brandenburg& Weber, 2005).
Além do aprendizado sobre seu próprio comportamento em ambiente terapêutico, há o aprendizado na vida em sociedade, de maneira mais específica no contato com a comunidade verbal. Esta indica e descreve condições antecedentes e comportamentos do sujeito, aprende-se com o outro. (Skinner, 1982)
O repertório verbal de autodescrição surge exatamente no processo de modelagem da comunidade verbal, os arranjos e contingências com suas devidas limitações são as ferramentas disponíveis ao sujeito. (Gongora, 2003 apud Brandenburg& Weber, 2005)
Analisando isso podem-se pensar algumas questões:
– Tudo o que é pensado hoje foi ensinado um dia, pensar está dentro dos limites verbais pré-estabelecidos.
– Ser totalmente livre é uma utopia, já que nem o pensamento pode-se delimitar.
– O sujeito está atrelado aos três níveis de seleção comportamental – ontogenético, filogenético e cultural.
– O conhecimento adquirido sobre si mesmo trará benefícios à medida que pode minimizar condições desfavoráveis à vida do sujeito, como também trará autonomia (será consciente) para fazer escolhas sobre ambientes e pessoas com que deseja relacionar-se, bem como quais os meios para que seus objetivos possam ser alcançados.
Skinner (1993) cita “melhor ser escravo consciente do que escravo feliz” e as autoras Brandenburg e Weber (2005) vão além: “melhor ainda seria deixar de ser escravo, e é isso que o behaviorismo radical possibilita”(p.91). As autoras exploram aqui o potencial de autonomia que a Análise do Comportamento pode possibilitar a sociedade de maneira geral.
Baum (2006) salienta que mesmo tendo o conhecimento do que controla o comportamento humano, isto não põe fim ao sistema judiciário. No aspecto jurídico,a psicologia deve contribuir para a prevenção e o tratamento mais eficiente da criminalidade.
Cabe à psicologia o auxílio ao desenvolvimento humano, “transformar as crianças em cidadãos bons, felizes e eficientes” (Baum, 2006, p.28), a utilização da ciência do comportamento como ferramenta de desenvolvimento humano, autoconsciência e autonomia cabem na história, desde em situações de extrema crise, até nas situações de glória.
Sugestão de leitura:
SKINNER, B. F.. Seleção por conseqüências. Rev. bras. ter. comport. cogn., São Paulo , v. 9, n. 1, p. 129-137, jun. 2007 . Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452007000100010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:01 abr. 2017.
REFERÊNCIAS:
BAUM, William M. Compreender o Behaviorismo. Behaviorismo: definição e história. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
SKINNER, B.F. (2006).Sobre o Behaviorismo. 10ª Ed. São Paulo: Cultrix.
SKINNER, B.F. (1993).Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
BRANDENBURG, O.J.; WEBER, L.N.D.. (2005) Autoconhecimento e liberdade no behaviorismo radical. PsicoUSF Itatiba , 10(1), pp. 87-92. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712005000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:01 abr. 2017.