02 de Abril – Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Em 2007 a Organização das Nações Unidas criou o Dia Mundial da Conscientização do Autismo: 02 de abril. Para muitas pessoas esta data pode parecer de pouca importância, já que até pouco tempo atrás a maioria da população mundial sequer sabia o que era o Autismo, eu mesma não me lembro de ouvir falar sobre isso até os primeiros anos da faculdade. Há 20 anos, este não era um assunto comum, não estava na mídia, não era abordado em congressos de psicologia, pedagogia ou medicina, não era assunto de reuniões de pais em escolas, não era papo de babás ou mães no parquinho da praça… Porque será? Será que a quantidade de pessoas afetadas era tão baixa a ponto de não ser um assunto relevante? Sim, pode ser, afinal eu realmente acredito no aumento da prevalência deste transtorno na população em geral… Mas, acredito que a ausência deste assunto na sociedade até poucos anos atrás tem mais a ver com o encaminhamento que estas crianças recebiam. A elas não era dado o direito de participar da vida em sociedade. Elas estavam trancadas em casa, porque os pais tinham vergonha delas. Elas estavam em escolas especiais, porque ainda não existia a cultura da inclusão escolar. Por isso eu não tive colegas autistas e nem com quaisquer outras deficiências em toda a minha vida escolar. Uma realidade que eu jamais desejaria à vida escolar da minha filha. Enfim, estas crianças não eram apresentadas ao mundo, não eram vistas. Sabia-se que um vizinho, o primo do primo, a amiga da amiga, tinha um filho especial, mas não era comum uma discriminação das deficiências, a sociedade não tinha interesse em reabilitar estas pessoas e inseri-las de forma funcional e adaptativa na vida em sociedade.

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Felizmente, esta realidade mudou muito nas últimas décadas. Hoje, com uma estimativa de 70 milhões de pessoas Autistas no mundo (mais frequente que a AIDS e a Diabetes juntas), o assunto virou coisa séria, virou interesse de todos, porque hoje, todo mundo conhece um autista ou conhece alguém que tem um filho, sobrinho, vizinho ou colega de classe autista. Hoje enxergo uma sociedade que quer e tenta muito incluir as diversas deficiências. Hoje compramos briga com quem estaciona na vaga para deficientes no shopping sem ter este direito, hoje choramos ao ver na TV casos de sucesso na intervenção multidisciplinar com qualquer deficiência, hoje as pessoas com necessidades especiais têm seu lugar garantido na fila, no estacionamento, na escola, na faculdade e no mercado de trabalho (pelo menos em uma pequena parcela das situações isso acontece).

Tenho visto, com grande entusiasmo, as necessidades individuais virando prioridade na sociedade, estamos aprendendo a respeitar o outro em sua individualidade, seu jeito de ser, de pensar, de aprender e de agir, estamos aceitando o diferente, estamos olhando para nós mesmos e nos reconhecendo como diferentes e, com isso, estamos aceitando o outro como ele é. Embora isso ainda não aconteça com 100% da população mundial, parece que esta consciência aumenta a cada dia que passa e isso já está muito bom, porque estamos no caminho de uma sociedade totalmente inclusiva.

São por estes pequenos avanços que vejo com otimismo datas como o dia 2 de abril. Por mais que ainda existam pessoas que não entendam o motivo de se iluminar de azul (a cor do autismo) o Cristo Redentor ou o Senado Federal, sinto que isso está funcionando, a passos lentos, mas o objetivo de CONSCIENTIZAR está sendo alcançado. A cada ano, nesta data, vejo mais pessoas falando sobre o assunto nas redes sociais, em eventos, passeatas, piqueniques e até mesas de bar. A cada ano, me vejo conversando com leigos no assunto que já sabem muito sobre o Autismo e, o mais maravilhoso, querem saber mais, querem entender, querem ajudar.

Este é, na minha visão, o real objetivo do dia 2 de abril: criar uma situação mais propícia para se falar no assunto, proporcionar conhecimento, divulgar informação e, assim, abrir mais portas para estas pessoas que, devido ao transtorno de desenvolvimento que possuem, já encontram tantas portas fechadas na vida. Por isso, não basta se vestir de azul, tem que falar sobre o autismo para quem ainda não o conhece, tem que espalhar informação que possa ajudar estas pessoas a se encaixarem na sociedade, tem que se aproveitar o ensejo e criar mais políticas públicas que beneficiem pessoas com autismo e suas famílias, afinal, estas pessoas também têm direito à saúde, educação, trabalho e lazer, tal como qualquer cidadão.

A boa notícia é que estes objetivos têm sido alcançados, estamos realmente conseguindo conscientizar o mundo sobre o Autismo e isso tem facilitado tanto a vida de nossos pequenos anjos azuis, eles têm sido mais aceitos nas escolas regulares, eles têm tido seus direitos mais respeitados, eles têm sido melhor compreendidos quando se desorganizam em público ou quando não se saem bem numa interação social. Sim, isso é real, está acontecendo, vivo essa conquista dia após dia, quando uma escola reúne toda sua equipe para assistir a uma palestra sobre o assunto, quando um parque de diversões disponibiliza passe livre nas filas para crianças autistas, quando uma empresa contrata um autista e aposta em suas potencialidades.

Mas ainda falta muito caminho pela frente, ainda temos muito trabalho de conscientização  a fazer, ainda precisamos de muitos dias 2 de abril… Ainda temos o desprazer de ouvir uma mãe contar, com sofrimento, que não consegue uma cuidadora ou uma secretária do lar por causa do trabalho extra que o filho com necessidades especiais gera; ainda vemos pessoas olhando torto e culpando os pais quando uma criança faz birra no shopping (sem sequer se dar ao trabalho de oferecer ajuda e, então, ter a oportunidade de entender o motivo daquele comportamento, afinal, como já vimos nesta coluna, sempre tem um motivo); ainda esbarramos em diretorias e coordenações escolares que não movem uma palha para adaptar seu ambiente e seu ensino aos alunos de inclusão, pois acreditam que o certo é fazer o aluno se adaptar à escola e não o contrário…

O dia 2 de abril de 2016 já passou, mas a importância da conscientização não deve ficar restrita a um dia no ano. Então, nós que sabemos algo sobre o assunto, sigamos explicando exaustivamente, para o motorista de táxi, para o vizinho no elevador, para o primo, a tia, o amigo, para a manicure…; os que não sabem muito sobre o assunto, sigam perguntando, se interessando, verificando como podem ajudar a incluir pessoas com deficiências; e, pais, o papel de vocês é o mais importante, continuem expondo seus filhos ao mundo, levando-os para shoppings, supermercados, restaurantes, festas, viagens, mostrem ao mundo que o Autismo não é um bicho de sete cabeças, mostrem que seu filho é uma criança como outra qualquer, com suas  particularidades, suas dificuldades e seus potenciais, e mostrem como são encantadores, mostrem seus sorrisos sinceros e inocentes, mostrem sua fúria quando não são compreendidos e ajudem o mundo a compreendê-los melhor, não os poupem do mundo e não poupe o mundo deles, eles merecem viver tudo que estiver ao alcance deles e o mundo merece conhecê-los.

Não importa qual seja a deficiência, vamos nos abrir para conhecer um pouco mais antes de julgar, vamos oferecer ajuda antes de apontar um culpado, vamos parar um instante e pensar se realmente precisamos manter estas regras tão rígidas… Será que realmente não posso adaptar as provas deste aluno? Será que realmente não há uma maneira de ele participar da apresentação de final de ano? Será que não posso ajudar meu filho a interagir com este colega de uma forma mais adequada? Será que aquela mãe precisa de alguma ajuda?

Não vamos deixar o dia 2 de abril passar… Não vamos voltar a esquecer desse assunto… não vamos deixar de buscar compreender as particularidades do outro e tentar ajudar no que estiver ao nosso alcance. Todo mundo tem muito a contribuir, tem sempre algo que você pode fazer pelo outro. Depois de 12 anos atuando com Autistas eu posso afirmar que ainda preciso entender muito do mundo destas pessoas; que vale muito a pena conhecê-los, aceitá-los e incluí-los; e, principalmente, que eles se beneficiarão imensamente de sua curiosidade.

Por um mundo mais igualitário, mais aberto às diferenças, mais sensível às necessidades de cada indivíduo, mais inclusivo, mais humano… Por um mundo mais azul…

Site consultado:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_de_Conscientiza%C3%A7%C3%A3o_do_Autismo

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Escrito por Juliana Fialho

Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no ano de 2006. Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Dissertação defendida em maio de 2009). Trabalha como psicóloga na Gradual (Grupo de Intervenção Comportamental), onde lida principalmente com crianças e adolescentes com desenvolvimento atípico. Tem experiência em Análise do Comportamento Aplicada. Já desenvolveu pesquisas de Iniciação Científica, Conclusão de Curso e Mestrado nos seguintes temas: desenvolvimento atípico, avaliação de repertório inicial, intervenção comportamental, comunicação funcional e alternativa e variabilidade comportamental.

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