Skinner (1953) definiu comportamento operante como aquele que produz algum efeito no mundo ao seu redor. Uma dada resposta de um organismo opera sobre o meio e o modifica, produzindo consequências. Por sua vez, as consequências do comportamento podem retroagir sobre o organismo, modificando-o ao alterar a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente (Skinner, 1953). Se a consequência aumentar a probabilidade de emissão futura da classe de respostas a qual se seguiu ela é chamada de consequência reforçadora.
Tudo isso acontece quando o reforço segue a resposta. Mas o que acontece quando as respostas operantes deixam de produzir as consequências que as mantêm? E quando os pais não mais derem atenção à criança quando ela se joga no chão, chora e grita? Um pai que já passou por uma situação como esta provavelmente dirá que a birra irá piorar: a criança vai gritar mais alto, chorar mais enfaticamente e até mesmo emitir novos comportamentos como agarrar os pais ou agredir alguém próximo. Quando o reforçador deixa de seguir a resposta ocorre o que denominamos de extinção operante.
Três aspectos devem compor a definição de extinção operante: 1. Relação entre resposta e reforço já estabelecida; 2. Quebra desta relação; 3. Alterações no responder produzidas por essa ruptura. No caso do exemplo anterior: 1. O reforço (atenção ou a apresentação de objetos) se seguia a resposta de se jogar no chão, chorar e gritar. A relação entre os comportamentos de birra e o reforço já estava estabelecida; 2. Os pais deixam de dar atenção ou objetos à criança quando ela se comporta dessa forma, ocorrendo à quebra desta relação; 3. A criança passa a gritar mais alto, chorar mais enfaticamente e emite novos comportamentos, isto é, ocorrem alterações no responder decorrentes da ruptura desta relação.
Em um exemplo mais simples, imagine o que ocorre quando tentamos utilizar um objeto de nosso cotidiano e ele não mais funciona. Por exemplo, uma impressora que já utilizamos algumas vezes e sempre funcionou adequadamente (1. Relação já estabelecida entre resposta – mandar imprimir algum material – e o reforço – páginas impressas). Certo dia, a impressora não funciona e não é possível obter as páginas impressas (2. Ocorre a quebra desta relação). O que acontece em seguida? É provável que tentemos mais algumas vezes imprimir o material, passamos a apertar o botão de imprimir com mais força, batemos algumas vezes na impressora, desligamos e ligamos a impressora e o computador (3. Ocorrem alterações no responder produzidas pela quebra da relação). Algo similar acontece quando o computador trava e ficamos impossibilitados de continuar o que estávamos fazendo; quando o controle remoto para de funcionar e não conseguimos mudar de canal; quando ligamos algumas vezes para um amigo e ele não mais atende.
Apesar de podermos observar mais facilmente as alterações no responder descritas nos exemplos acima, na extinção operante uma resposta torna-se cada vez menos frequente quando o reforçamento não mais acontece. A extinção é um modo efetivo de remover um operante do repertório de um organismo (Skinner, 1953). Se os comportamentos de birra não são mais consequenciados com atenção, isto é, conforme respostas sucessivas de birra deixam de produzir o reforço, a recorrência da resposta de birra se tornará menos provável até que este comportamento não mais ocorra. Se nunca mais conseguirmos as páginas impressas ao tentar utilizar a impressora, eventualmente deixaremos de utilizá-la. Caso o computador não mais funcione, em algum momento deixaremos de tentar ligá-lo.
Voltando as alterações no responder observadas na extinção, primeiramente é possível observar uma mudança na taxa de respostas. Quando ocorre a quebra da relação entre resposta e o reforço verificasse um aumento inicial na frequência da resposta, esta que diminui gradualmente de forma irregular. Após a ruptura da relação entre resposta e reforço: a criança emite os comportamentos de birra mais vezes e nós provavelmente tentamos várias vezes imprimir as páginas que desejamos antes de desistir. Segundo Millenson (1967) numerosas respostas não reforçadas passam a ocorrer com frequências ainda maior do que quando estavam sendo reforçadas.
Durante a extinção operante é possível observar também mudanças na topografia (forma) e na magnitude (intensidade) da resposta. Retomando os exemplos, no caso da criança que emite comportamentos de birra, durante a extinção a topografia da resposta poderá variar: ela não apenas se joga no chão, mas agarra os pais, agride alguém que esteja próximo, arremessa algum objeto. Ocorre também um aumento na magnitude da resposta: a criança grita mais alto, chora mais alto, se joga no chão com mais força. Estas alterações são verificadas também no exemplo em que a impressora para de funcionar: apertamos diferentes botões para tentar fazer a impressora funcionar, ligamos e desligamos a impressora (mudanças na topografia) e apertamos o botão de imprimir com mais força (aumento da magnitude da resposta). É possível, portanto, afirmar que a extinção produz variabilidade comportamental, já que novos comportamentos são emitidos.
Skinner (1953) denominou as alterações no responder que ocorrem durante a extinção de efeitos emocionais. O não reforço de uma resposta previamente reforçada não levaria apenas a extinção (eliminar um comportamento operante do repertório de um organismo), mas leva também a uma reação comumente denominada frustração ou cólera (Skinner, 1953). Uma noticia muito disseminada recentemente, sobre uma mulher americana que foi presa após ligar mais de 70 mil vezes para o ex-namorado [1], pode exemplificar os efeitos emocionais e nos ajuda a entender como o que ocorre na extinção operante está diretamente relacionado à história de reforçamento dessa resposta. A mulher que apresentou uma frequência de respostas tão elevada de ligar para o namorado, provavelmente também bateu no telefone ou o arremessou longe (alterações na magnitude) e, como indica a reportagem, mandou e-mails, mensagens de texto, mensagens de voz e até cartas (variações na topografia da resposta).
Devemos considerar a extinção operante não como um processo comportamental especial, mas como uma propriedade do reforço, já que o responder é mantido apenas enquanto o reforço continua e não depois que ele é suspenso (Catania, 1999). Desta forma, o comportamento durante a extinção é resultado do condicionamento que o precedeu e, a partir do que ocorre durante a extinção temos uma medida adicional do efeito do reforçamento (Skinner, 1953/2007, p.77). A partir do exemplo da americana podemos inferir determinada história de reforçamento para o comportamento de ligar para o ex-namorado. Como as alterações no responder durante a extinção dependem da história de reforçamento podemos supor, neste caso, que muitas respostas foram reforçadas (o ex-namorado atendeu o telefone muitas vezes quando ela ligava) e que o critério de apresentação do reforço possivelmente foi intermitente, o que aumenta a resistência do comportamento a extinção (quando ela ligava às vezes o ex-namorado atendia, às vezes não, sendo que a quantidade de vezes que ela ligava até ser atendida possivelmente foi aumentada gradativamente).
Mas afinal, quando uma resposta está extinta? Durante a extinção ocorre um declínio gradual e irregular da resposta, marcado por períodos de aumento da frequência do responder, seguido por períodos cada vez mais longos sem a emissão de uma resposta. É importante salientar que a resposta extinta não some do repertório do organismo e alcança frequência zero, mas se torna menos frequente até que se aproxime do seu nível operante e passa então a ser emitida na mesma frequência em que era emita antes de ser reforçada (já que para ser reforçada a resposta teve que ocorrer pelo menos uma vez).
Por fim, gostaria de fazer uma colocação sobre o exemplo da criança que apresenta comportamentos de birra. Se colocar os seus comportamentos de birra em extinção os farão piorar momentaneamente, então o que fazer para eliminar este comportamento do repertório da criança? É possível utilizar a extinção para produzir mudanças comportamentais de interesse clínico, eliminando comportamentos indesejáveis, mas é importante que ao mesmo tempo outros comportamentos desejáveis da criança sejam reforçados da mesma forma que a birra era anteriormente. Agora, os pais podem dar atenção quando a criança está pintando um desenho ou brincando com seu irmão (este procedimento é denominado de DRO: reforço diferencial de outras respostas). A apresentação de estímulos reforçadores deve ser mantida, agora para outros comportamentos (Abreu e Guilhardi, 2004). Mas atenção, durante a extinção de determinado comportamento o reforço não deve mais seguir a resposta, pois caso os pais deem atenção à criança após algum tempo de birra, quando o choro se torna insuportável, eles estarão apenas reforçando intermitentemente este comportamento da criança, o qual se tornará ainda mais forte e provável.
Termino com o quadrinho a seguir, retirado de Millenson (1967), para exemplificar o poder da extinção.
REFERÊNCIAS
Abreu, C. N. e Guilhardi, H. J. (2004). Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental – Práticas Clínicas. São Paulo: Roca.
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed.
Millenson, J. R. (1967). Princípios de Análise do Comportamento. Brasília: Coordenada Editora.
Skinner, B. F. (1953/2007). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
[1] Retirado de: http://odia.ig.com.br/noticia/mundoeciencia/2014-06-30/americana-e-presa-apos-ligar-mais-de-70-mil-vezes-para-o-ex-namorado.html