Relacionamentos íntimos são, usualmente, associados com longevidade e saúde. Contudo, interações positivas entre casais são pouco estudadas, o oposto do que ocorre com as interações negativas. As reações fisiológicas observadas nos parceiros em diferentes tipos de relacionamento tem sido alvo de pesquisadores que observaram que relacionamentos infelizes possuem maior quantidade de interações negativas que promovem respostas de estresse fisiológico e psicológico. Irei apresentar dois estudos que analisaram as relações entre os hormônios dos casais e diferentes interações entre eles.
Brown, Smith & Benjamim (1998) encontraram que interações hostis entre casais estão associadas com aumento da pressão sanguínea, aumento da temperatura corporal, disputas por domínio e controle que podem comprometer os possíveis efeitos benéficos do casamento. Atividades de resolução de problemas dentro de um relacionamento que exigem maior esforço pelos parceiros podem aumentar a reatividade cardiovascular devido aos efeitos do engajamento da tarefa e do esforço. A dificuldade não é objetiva, ou seja, ela depende da percepção do indivíduo de sua habilidade, expectativas de auto eficácia e seus comportamentos bem como os de seu parceiro, bem como do valor que aquele indivíduo pressupõe ser aquele problema. Ou seja, o terapeuta pode acreditar que algum episódio descrito pelo cliente não é relevante, contudo ele pode ser um grande estressor para o casal. A investigação de sinais físicos das interações hostis, como taquicardia, sudorese, sensação de sufocamento pode auxiliar o terapeuta na busca de tópicos sensíveis dentro do relacionamento amoroso em conflito.
Kiecolt-Glaser, Bane, Glaser, & Malarkey (2003) realizaram um follow-up de dez anos com 90 casais. Os pesquisadores levantavam pontos de discussão do casal que tinha cerca de 30 minutos para resolver a questão, sendo que antes, durante e depois da conversa as medidas fisiológicas do casal eram coletadas. Ao final da pesquisa 17 casais haviam se divorciado e um havia falecido.
Os dados obtidos por esses pesquisadores indicam que os casais que haviam se divorciado durante os anos da pesquisa tinham maiores níveis de epinefrina durante as discussões observadas no laboratório e nos intervalos dessas sessões de observação. Casais com problemas conversam menos sobre a resolução dos mesmos, porque essa estratégia exacerbaria os hormônios relacionados ao estresse, causando mais insatisfação e, mais problemas! Os autores apontam que os hormônios relacionados ao estresse podem ser um termômetro nos relacionamentos, refletindo respostas emocionais que os indivíduos ainda não identificam ativamente. Entre os casais mais satisfeitos, aqueles que na primeira coleta eram mais satisfeitos se mantinham dessa maneira aos 10 anos de casamento, ou seja, eles mantinham essa condição mesmo após 10 anos indicando uma estabilidade da satisfação. Estes também conversavam mais por dia que os insatisfeitos, em média 40 minutos a mais por dia, ou seja, tinham mais oportunidades para resolver os problemas de maneira satisfatória. Dessa forma, um bom indicativo para o terapeuta é a quantidade e qualidade das interações diárias que os clientes apresentam.
Também foi investigada a secreção do hormônio cortisol, relacionado a situações que envolvem estresse (Ditzen, Hoppmann, & Klumb, 2008). Os pesquisadores observaram que participantes tiveram menores índices de cortisol durante dias com maior duração de intimidade comparados com outros com pouca ou nenhuma intimidade. Isso indica que a intimidade altera diariamente o cortisol, não somente em longo prazo, ou seja, a intimidade positiva de um casal altera diariamente os hormônios relacionados ao estresse, diminuindo o estresse em outras áreas da vida, como o trabalho, por exemplo.
Interessante notar que não são os níveis gerais de intimidade, mas a que ocorre no dia-a-dia que alteraram os níveis de cortisol. Basicamente, não é possível fazer um “banco de intimidade” em que você guarda vários meses de intimidade para “utilizar” como redutor do estresse em momentos diferentes. As interações positivas diárias é que são fundamentais nos relacionamentos. Importante destacar que não foram observadas diferenças entre os efeitos positivos para homens e mulheres, indicando que ambos se beneficiam do contato físico no cotidiano.
Enfim, alguns indicativos que podem não ser tão claros a princípio se mostram importantes no atendimento de clientes com problemas conjugais sendo eles a qualidade da resolução de problemas que o casal apresenta e o número de interações hostis. Todos esses aspectos devem ser abordados pelo terapeuta durante a investigação dos conflitos, adicionalmente o nível de intimidade diário é uma importante variável a ser observada bem como introduzida na terapia para os casais em situação de conflito.
Saiba mais:
Brown, P. C., Smith, T. W. & Benjamin, L. S. (1998). Perceptions of spouse dominance predict blood pressure reactivity during marital interactions. Annals of Behavioral Medicine, 20(4), 286-293.
Ditzen, B., Hoppmann, C. & Klumb, P. (2008). Positive couple interactions and daily cortisol: on the stress-protecting role on intimacy. Psychosomatic Medicine, 70, 883-889.
Kiecolt-Glaser, J. K., Bane, C., Glaser, R. & Malarkey, W. B. (2003). Love, marriage, and divorce: Newlyweds´ stress hormones foreshadow relationship changes. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 71(1), 176-188.