Obesidade – o papel do Psicólogo

A obesidade é considerada uma doença multifatorial, e seu tratamento é multidisciplinar (OMS). A caracterização da doença está descrita neste artigo.

Desde o ano 2000, a avaliação psicológica tem sido um requisito obrigatório no Brasil para a realização do procedimento cirúrgico mais eficaz no tratamento da obesidade grau III, a cirurgia bariátrica (AKAMINE; ILIAS, 2013).

E qual o papel da Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica?

O principal papel do psicólogo neste contexto é a compreensão do estado de saúde mental do paciente, observando se há alguma psicopatologia que gere risco ao procedimento, observação do seu nível de neuroticismo, observação de fatores comportamentais que possam ter contribuído ao estabelecimento da doença e que podem ser complicadores no processo de recuperação da cirurgia, elucidar junto ao paciente como ele vê o seu processo de adoecimento, suas expectativas sobre a cirurgia e qual a sua ideia sobre as mudanças que seriam necessárias após a cirurgia. O psicólogo precisa compreender qual a relação que o paciente estabelece com a comida para construção de estratégias que venham a aumentar as chances de efetividade dessa intervenção (AKAMINE; ILIAS, 2013).

Durante a avaliação, o profissional compreenderá quais tratamentos já foram realizados na tentativa de restabelecer a saúde e as dificuldades enfrentadas durante as tentativas, quais os hábitos gerais de saúde da família em que o paciente está inserido, se há ou não apoio a realização do tratamento cirúrgico, as motivações para a realização da cirurgia, que causa o paciente daria para o quadro de obesidade e como isso tem afetado a sua vida (AKAMINE; ILIAS, 2013).

A visão popular do tratamento

Quando se fala de tratamento cirúrgico, em muitos casos, a cirurgia em si já resolve o problema inicial, por exemplo: retirada de apêndice em caso de apendicite, retirada de um tumor que está crescendo muito, retirada de uma pinta que pode ser um tumor maligno de pele. Essas situações em que a cirurgia significa a cura ou a solução do problema, podem contribuir para uma ideia social errônea a respeito da bariátrica. Na obesidade, a cirurgia em si não é a cura.

Os principais órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica (SBCBM), reafirmam que em se tratando de uma doença multifatorial, a cirurgia quando indicada é apenas uma parte do tratamento. A cirurgia não cura a obesidade, a obesidade é uma doença crônica que precisa ser controlada.

Por isso, quando a população generaliza a ideia de que a cirurgia seria um “atalho”, uma “forma mais fácil de resolver o problema”, estão agindo de forma equivocada. Realizar o procedimento cirúrgico não impedirá que o paciente tenha reganho de peso, por isso é tão fundamental o desenvolvimento de hábitos de vida saudáveis e protetivos. Muitas vezes esse desenvolvimento pedirá uma grande mudança de estilo de vida.

O Psicólogo

A análise realizada pelo profissional que acompanha o caso deve considerar, sempre, as três formas de seleção do comportamento: ontogenia, filogenia e cultura. Apenas assim, poderá construir um trabalho sólido, apoiado nas outras áreas fundamentais que envolvem o restabelecimento da saúde desse paciente. E além disso, respeitando a realidade em que ele está inserido, observando e oferecendo ferramentas condizentes ao seu desenvolvimento.

Quanto aos transtornos alimentares (TA), a obesidade não é um quadro de TA. Mas existem transtornos mais prevalentes nessa população, por exemplo, o quadro de Transtorno Alimentar Compulsivo (TCA) que tem uma incidência de 30 a 50% dos casos (ABESO). Para o tratamento de TCA, temos como ferramenta de trabalho a Terapia Comportamental Dialética (DBT), descrita por Linehan (2017), para o desenvolvimento de habilidades de regulação emocional e controle da impulsividade, primordialmente importantes para este quadro.

Referências:

AKAMINE, A. M. B. C.; ILIAS, E. J. Por que avaliação e preparo psicológicos são necessários para o paciente candidato à cirurgia bariátrica? Revista Da Associação Médica Brasileira, v. 59, n. 4, p. 316–317, 2013. doi:10.1016/j.ramb.2013.06.001.

LINEHAN, Marsha M. Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o terapeuta. Artmed Editora, 2017.

ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

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