O que é a Abertura Radical da RO-DBT

A abertura radical é o princípio filosófico central e a habilidade central da RO-DBT. 

Trata-se da confluência de três capacidades essenciais ao bem-estar emocional:

  • Receptividade à novas experiências e feedback desconfirmador, para aprender;
  • Autocontrole flexível, para se adaptar às mudanças nas condições ambientais; 
  • Intimidade e conexão com pelo menos uma outra pessoa.

Através da abertura radical desafiamos nossa percepção da realidade nos colocando abertos à aprender. Passamos a procurar ativamente aquilo que queremos evitar; a experimentar novas formas de comportamento que podem, inclusive, serem mais efetivas. 

Nos relacionamentos, a abertura radical promove conexão. Podemos dizer que é a “cola tribal”. 

Tendemos a nos aproximar de pessoas de mente aberta pois, de maneira instintiva, reconhecemos o valor da abertura quando nos relacionamos. Em geral, pessoas de mente aberta revelam seus sentimentos íntimos durante o conflito, comportam-se de forma humilde dando aos outros o benefício da dúvida e sinalizando, desta forma, que  são mais confiáveis.

A abertura modela, portanto, a humildade e a prontidão para aprender com o que o mundo tem a oferecer.

Ao revelar abertamente a outras pessoas nossas opiniões, sentimentos e pensamentos, criamos oportunidades de aprendizagem recíproca,  além de favorecer diálogos que possam explorar novas ideias, melhorar estratégias de enfrentamento e aumentar a conexão social, não apenas para os indivíduos envolvidos, mas também para a tribo como um todo.

Para a RO-DBT, a abertura é ao mesmo tempo um estado transitório de ser e uma forma habitual de lidar com situações. Trata-se de um  traço de personalidade pró-social, um poderoso sinal de segurança social. 

“Abertura Radical é a cura para a arrogância, o egoísmo e a falta de empatia, e ajuda a refrear o nosso ego, colocando as necessidades dos outros em pé de igualdade com as nossas.” (Lynch, 2018)

Abertura radical pode ser expressa de forma não verbal através de expressões e gestos universalmente associados à simpatia, à curiosidade e à não dominância. Por exemplo: balançar as sobrancelhas; sorrir; gestos com as mãos abertas; encolher os ombros; acenos afirmativos com a cabeça; tom de voz musical; revezamento durante as conversas. 

Em relação à maneira de se comportar, pessoas de mente aberta são mais flexíveis. São capazes de ouvir feedback desconfirmante e, se necessário, modificar seu comportamento a fim de aprender, viver de acordo com os seus valores ou adaptar-se às novas circunstâncias.

Pessoas de mente aberta não levam a si mesmas ou a vida tão a sério (não ao ponto de trazer prejuízos para si, mas não capazes de rir de suas falhas e peculiaridades sem se culpar ou culpar outras pessoas). Elas reconhecem suas imperfeições e têm ciência de que sua maneira de pensar não é a única forma possível ou a correta.

Também relacionado à abertura, os conflitos são vistos como oportunidades de crescimento e não como ameaças. Ao invés de abandonar relacionamentos, pessoas de mente aberta se envolvem e buscam resolver problemas para salvar relacionamentos. Quando suas ações causam danos a outras pessoas, são capazes de reconhecer suas falhas e pedir desculpas.

Vale lembrar que pessoas supercontroladas, em geral, preferem abandonar relacionamentos à lidar diretamente com conflitos interpessoais. Assim,  é menos provável que eles aprendam com a experiência, uma vez que a discordância geralmente leva a novas descobertas e que o conflito pode, inclusive, aumentar a intimidade. 

Em mente aberta celebra-se a diversidade e aprender coisas novas é visto de forma positiva. Pessoas de mente aberta não precisam provar que estão certas (mesmo quando estão). São capazes de expressar abertamente, de forma humilde, o que sentem ou pensam. 

Nas interações, pessoas de mente aberta não culpabilizam o outro nem esperam que ele mude. Elas assumem a  responsabilidade pelas suas ações e reações e se permitem (assim como permitem ao outro) a graça de não ter que compreender, resolver, ou corrigir problemas de forma imediata.

A abertura radical leva, portanto, a mudanças não apenas na forma como o indivíduo  vê o mundo, mas também na forma como outras pessoas os veem (pessoas gostam de pessoas com a mente aberta). E a consequência disso pode ser gratificante (combate-se à solidão).

O  primeiro passo para praticar a abertura radical envolve reconhecer a presença  de  tensão, resistência, aversão, dormência  ou desejo de atacar, controlar ou fugir, que aparece diante de um evento desconfirmador ou inesperado.

Em um mundo que está em constante mudança, ao desafiar nossa percepção da realidade, a abertura radical caminha  na direção da aprendizagem e consequente adaptação. O que pode ser doloroso e, ao mesmo tempo, libertador.

Segundo Lynch (2017) “não vemos as coisas como elas são; nós vemos as coisas como nós somos”. Assim,  em  vez de pressupor que poderíamos conhecer a realidade exatamente como ela é, a  abertura radical pressupõe que carregamos vieses perceptivos e reguladores para cada momento e que esses vieses interferem na nossa capacidade de  estarmos abertos e de aprendermos com informações novas ou  desconfirmadoras.

Para finalizar, vale destacar o que não é abertura radical

  • Aprovar, acreditar ingenuamente ou ceder sem sentido;
  • Fingir, ser passivo ou resignado;
  • Assumir que já se sabe a resposta;
  • Algo que só pode ser entendido por meios intelectuais. Abertura radical é experimental e, por isso, requer prática direta e repetida;
  • Rejeitar o aprendizado anterior (na maioria  das vezes, há muitas maneiras de chegar a um mesmo lugar);
  • Sempre mudar ou ser rígido sobre ser aberto;
  • Esperar que coisas boas aconteçam;
  • Garantia de  felicidade, equanimidade ou  iluminação. O que ela promete é a possibilidade de amizade e diálogo genuínos.

Enfim, espero que você possa experimentar a abertura radical em sua vida, assim como  auxiliar seus clientes a caminharem, também, nesta direção. Assim, construiremos vidas valiosas e que valham a pena serem compartilhadas.

Referência Bibliográfica:

Lynch, T. R. (2018). Radically open dialectical behavior therapy: theory and practice for treating disorders of overcontrol. New Harbinger Publications.

5 1 vote
Classificação do artigo
Michele Cassiano

Escrito por Michele Cassiano

Psicóloga clínica (UNESP-Bauru), especialista em Terapia Comportamental (ITCR-Campinas) e Terapia Comportamental Dialética (DBT Brasil e CTC Veda).
Treinadora de Habilidades DBT.
Ingressando no universo da RO-DBT

Obesidade – o papel do Psicólogo

De onde vem o sofrimento das mulheres?