Tanto o déficit quanto o excesso de autocontrole podem trazer muitos prejuízos e sofrimento para o indivíduo.
Enquanto a DBT (Dialectical Behavior Therapy) (DBT; Linehan, 1993) foi criada para tratar pessoas com autocontrole deficitário, a RO-DBT (Radically Open – Dialectical Behavior Therapy) (RO DBT; Lynch, 2018) foi desenvolvida para tratar pessoas com características de personalidade supercontroladas, que apresentam excesso de controle emocional e rigidez.
Apesar da maior parte das pesquisas e tratamentos terem como foco comportamentos de baixo controle, como impulsividade e agressividade, a maioria dos pacientes que apresentam transtornos psicológicos apresentam estilo de enfrentamento supercontrolado. E, justamente pela escassez de pesquisas e literatura na área, pessoas com este perfil acabam sendo subdiagnosticadas e não recebem o tratamento adequado (Lynch, 2018, p.23).
Algumas condições que estão relacionadas ao excesso de controle:
Transtornos de Supercontrole (emocionalmente contidos e avessos ao risco) |
Transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo |
Transtorno de personalidade paranóide |
Transtorno de personalidade evitativa |
Anorexia nervosa |
Transtorno de personalidade esquizóide ou esquizotípica |
Transtornos de espectro autista |
Ansiedade resistente a tratamento |
Algumas das principais características do perfil SUPERCONTROLADO, segundo Lynch, 2018, são:
- Comportamento ocorre de forma independente do humor;
- Apresentam alta tolerância ao sofrimento;
- São extremamente perseverantes, mantendo-se engajados em tarefas mesmo quando são enfadonhas ou difíceis;
- Apresentam uma alta capacidade de adiar gratificação;
- Ficam sob controle de reforço a longo prazo (se for maior) em detrimento do reforço imediato (se for menor);
- Apresentam alto senso de obrigação social e dever;
- Fazem o que consideram ser “a coisa certa”;
- Tendem a evitar situações novas, incertas ou inéditas quando não tiveram a oportunidade de se prepararem;
- Ensaiam de forma compulsiva, de forma premeditada e planejada;
- Em geral, são sérios e raramente dão gargalhadas ou riem de forma espontânea. Ao mesmo tempo, podem ser capazes de entreter ou fazer os outros rirem.
- Inexcitabilidade;
- Apresentam expressão emocional restrita;
- Não se impressionam facilmente;
- São bastante desconfiados;
- Possuem foco no desempenho;
- Comparam-se socialmente com bastante frequência;
- Competem com outras pessoas de forma secreta;
- Apresentam padrão interpessoal indiferente e distante;
- Sentem-se diferentes das outras pessoas e não pertencentes aos grupos;
- Apresentam baixa conexão social;
- Quando há comportamento de auto lesão, é feito de forma planejada e com antecedência. Ocorre em particular e raramente requer atenção médica imediata;
- Possuem capacidade superior de processamento focado em detalhes;
- Alto grau de certeza moral: “o que é certo, é certo”;
- Acreditam haver uma maneira certa e outra errada de se fazer as coisas;
- Apresentam estado de humor positivo ligado ao senso de realização (como resistir à tentação, detectar erros ou dominar as circunstâncias);
- Sentem aversão aos holofotes, apesar de desejarem apreciação ou reconhecimento pelas realizações;
- Fazem grande esforço para evitar demonstrações públicas de emoção não planejadas e não ensaiadas;
- Explosões de raiva e demonstrações de emoções desreguladas acontecem apenas em particular ou entre pessoas muito familiares;
- Percebem situações novas como potencial risco e não como potencial recompensa;
- Comportam-se de forma defensiva ou ofensiva ao serem confrontados ou criticados;
- Podem secretamente guardar ressentimento ou fazer planos de vingança contra alguém que os desafiou ou feriu;
- São hiper perfeccionistas, com padrões elevados para si e para os outros;
- Ficam sob controle de regras e não de contingências;
- Possuem tendência a resolver problemas de forma imediata, utilizando-se da razão;
- Trabalham além do necessário para evitar correr o risco de serem vistos como incompetentes;
- Apresentam baixa consciência das próprias emoções e sensações corporais;
- Esforçam-se para manter as aparências e serem vistos como estando sob controle;
- Tendem a responder “está tudo bem” mesmo quando não está;
- Evitam conflitos, preferindo muitas vezes abandonar relacionamentos em vez de resolver os problemas;
- Demoram para se sentir confortáveis com outras pessoas e falam pouco sobre si;
- Não revelam vulnerabilidade;
- Após uma interação social prolongada, podem ansiar por privação sensorial, buscando isolamento;
- Têm baixa capacidade de empatia e validação;
- Podem se apegar a ressentimentos do passado e experienciar períodos de inveja e amargura;
Fazer uma boa avaliação em relação ao perfil global do supercontrole é fundamental para direcionar o cliente (ou você mesmo) em busca do tratamento que será mais efetivo.
Muito prazer, eu sou Michele Cassiano e a partir de agora falarei sobre RO-DBT e o perfil supercontrolado aqui no Comporte-se para vocês.
Sejam todos bem-vindos!
Referência Bibliográfica:
Lynch, T. R. (2018). Radically open dialectical behavior therapy: theory and practice for treating disorders of overcontrol. New Harbinger Publications.