Obesidade, reflexões à luz da Análise do Comportamento

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), a definição do quadro de obesidade se dá através do Índice de Massa Corporal (IMC). Quando o IMC é igual ou superior a 30, considera-se o quadro de doença crônica e multifatorial, definida como obesidade. A obesidade por si só predispõe a diversos problemas de saúde, chamados na medicina de Síndrome Metabólica (ABESO).

Para desenvolver um raciocínio abrangente sobre esta doença, observamos à luz da Análise do Comportamento (AC) os três níveis de seleção comportamental: filogênese, ontogênese e a cultura (Catania, 1999). Cada indivíduo sofre a consequência genética (filogênese) comportamental (ontogênese) da linhagem em que foi gerado (De Castro & Plunkett, 2001), do núcleo familiar em que foi criado (cultura). A condição financeira, o local de nascimento, e a educação alimentar de seus cuidadores influenciarão diretamente sua relação com a comida.

Agora, vamos fazer um recorte específico, considerando a condição financeira presente no Brasil. Segundo a BBC (2021), 90% da população brasileira tem uma renda inferior a R$3,5 mil por mês, e 70% ganham até 2 salários mínimos. Há um trecho nesta reportagem em que se diz “No Brasil, muita gente vive com muito pouco”. A situação financeira se soma à disponibilidade de alimentos baratos e práticos, com alto teor de gordura e açúcar – estamos falando dos ultraprocessados. A recomendação é que esses alimentos nem façam parte da rotina alimentar (ABESO, 2019).

Corroborando esses dados financeiros, mais da metade da população brasileira está com excesso de peso (56,8%), o que reflete as pessoas com sobrepeso e obesidade (CNN, 2023). Os hábitos de vida da espécie humana sofreram grandes mudanças ao longo do tempo, com o desenvolvimento. Cada vez precisamos fazer menos esforço físico e passamos mais tempo trabalhando. Essa cultura não favorece um hábito alimentar equilibrado e uma vida com prática regular de atividades físicas (CNN, 2023).

O desafio de uma vida saudável está atrelado a perspectivas ambientais, situações que muitas vezes estão fora do controle do indivíduo, especialmente se este indivíduo faz parte da base financeira da pirâmide. Existem tratamentos eficazes para a obesidade, previstos pela OMS e realizados no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A ênfase aqui se dá na perspectiva ambiental, visando diminuir o preconceito em relação a essa doença e disseminar o conhecimento sobre ela para a comunidade de psicólogos e estudantes de psicologia.

Nesta análise, considera-se a importância do reconhecimento social de que a obesidade não é uma escolha individual, mas uma doença multideterminada, para a qual a resposta do poder público se faz necessária para seu tratamento e prevenção. Uma das respostas necessárias para a prevenção da obesidade na esfera social é o aumento das taxas para alimentos ultraprocessados, incentivo público ao consumo de alimentos como frutas, legumes e verduras, e educação alimentar (QUAIOTI & ALMEIDA, 2006). O profissional que optar por acompanhar pacientes obesos deve levar essas informações em consideração para desenvolver as habilidades terapêuticas condizentes com a cultura e o contexto em que o indivíduo está inserido. As pesquisas sobre comportamento alimentar e compulsão alimentar são aliadas para o tratamento dessa doença.

Referências:

ABESO. (2019). Conceitos: Obesidade e síndrome metabólica. https://abeso.org.br/conceitos/obesidade-e-sindrome-metabolica/

ABESO. (2019). Dia Mundial da Obesidade. https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/folder-dia-mundial-da-obesidade.pdf

BBC. (2021). Brasil tem 90% da população com renda inferior a R$3,5 mil por mês. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57909632

Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.

De Castro, J. M., & Plunkett, S. S. (2001). How genes control real-world intake: Palatability intake relationships. Nutrition, 17(3), 266-268.

Organização Mundial da Saúde. (2018). Obesidade e sobrepeso. https://www.who.int/es/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight

Quaioti, T. C. B., & Almeida, S. de S. (2006). Determinantes psicobiológicos do comportamento alimentar: uma ênfase em fatores ambientais que contribuem para a obesidade. Psicologia USP, 17(4), 193-211

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Escrito por Giovana Pagliari

Mãe de 4 cachorrinhas lindas, adora falar - ainda mais quando o assunto é: obesidade, memória, maternidade. Prioriza um olhar humano que seja integral, não dispensa uma boa conversa entre a fisiologia e a AC. Seus textos são rechados de ACT e por vezes, gosta de explorar temas que podem parecer simples, mas são fundamentais para compreensão dos processos clínicos.

Graduada em Psicologia. Pós-graduada em Fisiologia Translacional. Co-autora no capítulo "Comportamentos Suicidas". Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (Operantis). Realiza atendimento psicológico e avaliação psicológica para procedimentos cirúrgicos em Cambé-PR, também realiza psicoterapia on-line.
E-mail: giovanapagliari.gp@gmail.com
Instagram: @giovanapagliari

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