A Análise do Comportamento considera três níveis de seleção do comportamento, sendo estes a filogenia, ontogenia e a cultura (Skinner, 1981).
Os ensinamentos de Skinner a respeito do comportamento operante, ou seja, o comportamento aprendido, foram precursores da ciência experimental que conhecemos hoje na análise do comportamento. E o mais interessante disso é que a forma operante dos comportamentos observáveis, podem ser também descritos no funcionamento fisiológico humano.
Um exemplo disso foi descrito no estudo de Stein (et al, 1993), onde observou a consequência do reforço de um neurônio. Neste estudo selecionaram células do neurônio da região do hipocampo de camundongos e realizaram testes in vitro, observaram o comportamento destas células quando forneciam dopamina e outras drogas, avaliaram as mudanças da funcionalidade, tempo de resposta e atraso da consequência. Puderam observar que há aumento da funcionalidade e no potencial destas células, quando forneciam dopamina.
A pesquisa em questão descreve o funcionamento operante do reforçamento em nosso organismo, de alguma maneira ele já era descrito nos estudos de Skinner, mas neste foi possível observar e comprovar seu acontecimento neurológico. O conhecimento da fisiologia e sua ligação com a ontogenia demonstra o quão estes campos estão ligados e que sua separação literal é equivocada na prática psicológica, sendo sua utilidade a descrição didática de ensino aprendizagem.
Skinner (1965) reconhecia a importância do conhecimento acerca dos comportamentos dentro da pele, tendo dito que estudar eventos privados não significa atribuir a eles papel causal em um episódio comportamental. E nesta concepção o que ocorre dentro da pele não seria precursor do comportamento humano, mas parte do próprio comportamento, com toda a sua importância, assim como a parte que observamos.
Qual seria a importância de conhecer o mundo dentro da pele se podemos estudar, observar e intervir nos comportamentos observáveis? A importância mora exatamente na constituição do próprio comportamento, se a própria pele e suas funções são conhecidas ao analista do comportamento, há possibilidade de construção de uma visão ampla sobre o fenômeno do comportamento humano, sendo os comportamentos observáveis pistas importantes para questões fisiológicas saudáveis e/ou patológicas.
Ainda há um alerta a ser ressaltado quando fala-se neste tema, assim como há uma reconhecida importância por estudos neste campo, há uma crítica e uma preocupação para que a visão analítica-comportamental esteja alinhada aos pressupostos filosóficos desta ciência, dando um caráter monista ao olhar científico e não reducionista. Contudo, esta crítica e esta reafirmação do olhar científico ao comportamento humano deve ser tida como um dos norteadores do processo de análise científica e não um limitador da mesma.
A compreensão da filosofia e ciência a qual se adota é de caráter válido para atuação profissional, assim como a valorização dos avanços e descobertas científicas de outras áreas e visões também são. O conhecimento de estudos diversos podem ser ferramentas úteis à prática clínica e beber desta fonte não precisa necessariamente ser a causa do abandono dos pressupostos destacados.
Um exemplo desta explanação seriam as descobertas da ciência neurológica, o objeto de estudo, os métodos e as análises podem até ofertar um olhar causal ao comportamento humano, contudo suas descobertas científicas sobre o funcionamento dentro da pele podem ser de conhecimento da análise do comportamento a fim de ofertar um trabalho atualizado e interligado com uma filosofia e uma ciência já conhecida à esta comunidade. O afastamento científico do analista justificado pelo monismo e pela ideia de que este não seria o campo da análise do comportamento, pode ser um perigo se for considerado o olhar cauteloso de Skinner para o comportamento de forma integral.
Na cultura ocidental pode-se observar um fenômeno na área da saúde que é o da superespecialização, quando médicos principalmente, tornam-se especialistas em uma área muito específica, diminuindo o foco sobre a medicina geral (LUZ, et al, 2006). A psicologia também sofre consequências das ondas culturais, sendo importante a observação destas mudanças para a atuação clínica a fim de considerar sempre as práticas com evidência científica e compreendendo que os humanos tem sua filogenia, ontogenia e cultura em completa interação, sendo assim, faz sentido ao psicólogo o conhecimento da interação destas áreas.
Ou seja, o conhecimento profundo da análise do comportamento não deve ser o limitador, mas sim o precursor da curiosidade do analista sobre as outras dimensões do comportamento humano.
Obs.: Agradeço a aula da professora Liane Dahás que me proporcionou o conhecimento deste estudo e a reflexão sobre a prática clínica para a escrita deste texto.
Referências:
Otani, Márcia Aparecida Padovan, e Nelson Filice de Barros. “A Medicina Integrativa e a construção de um novo modelo na saúde”. Ciência & Saúde Coletiva, vol. 16, no 3, março de 2011, p. 1801–11. DOI.org (Crossref), https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000300016.
Stein, Larry, et al. “A CELLULAR ANALOGUE OF OPERANT CONDITIONING”. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, vol. 60, no 1, julho de 1993, p. 41–53. DOI.org (Crossref), https://doi.org/10.1901/jeab.1993.60-41.
Skinner, B. F. Selection by Consequences. Science, 213, p. 501-504. 1981.
Skinner, B. F. “Self-control”. em B. F. Skinner, Science and human behavior. p. 227-241. New York: The Free Press. 1965.