Construção de si, desafio nosso de cada dia…
No nosso cotidiano nos deparamos com inúmeras escolhas desde as mais simples e aparentemente banais, como: “o que vou comer hoje no almoço?”, até as mais complexas como a escolha de uma profissão ou de um parceiro e mesmo as mais intensas e desesperadoras como: “será que não é melhor eu morrer e acabar logo com tudo?”. Não se trata de um processo automático, em que “é só escolher”, e sim, se refere a um aprendizado comportamental. Na verdade, todas as nossas habilidades e dificuldades tem absoluta correlação com a combinação entre a nossa biologia, nossa história de vida e a cultura em que estamos inseridos. É preciso desmistificar que quando crescemos e nos tornamos adultos “basta simplesmente escolher”, como se o ato de chegarmos à maioridade nos outorgasse uma sabedoria e um aprendizado instantâneos.
Autoconhecimento e regulação emocional são alguns dos alicerces na construção de um sujeito mais consciente, coerente e consistente com as próprias escolhas. Mas assim como escolhas não envolvem só uma questão de querer, esses pilares também não. O autoconhecimento (Skinner, 1974) é um processo que começa de forma eminentemente social, onde, dependendo da comunidade ao qual foi exposto, o sujeito demonstrará diferentes níveis de clareza acerca de si, seus pensamentos, emoções e comportamentos. Da mesma forma, não nascemos sabendo lidar com todo o leque emocional que seremos expostos ao longo da vida, desde as emoções mais básicas, como tristeza, alegria, medo, raiva ou nojo, até outras mais complexas como frustração, decepção, culpa, dentre outros.
Mas e se nossa história não nos ensinou esse repertório? Se já adulto ainda não sei bem descrever como sou e o que almejo?
Sempre será possível aprender novos repertórios, e com esses processos não seria diferente! Será preciso mergulhar na própria história, trazendo elementos soltos que passarão a montar juntos um quebra cabeça de habilidades e déficits, para a partir daí ser possível o aprendizado, o treinamento e a solidificação de novas possibilidades comportamentais. Tornar-se consciente das próprias características, o que almeja aprender, como deseja viver, além de um olhar diferenciado e menos rígido a respeito de si, dos próprios pensamentos e emoções e principalmente quais as ações efetivas serão trazidas para o seu aqui e agora em prol dessa mudança, traz ao sujeito uma liberdade de efetivamente viver uma vida significativa e valorosa para si.
Ainda assim, cabe lembrar que para além das evoluções, haverá nesse processo momentos de contato com emoções desconfortáveis e oscilações de humor e que isso não simboliza um retrocesso e sim a presença de uma humanização do sujeito.
Tornar-se pessoa é acima de tudo, tornar-se quem deseja ser, é um longo processo que efetivamente continuará ao longo dos nossos dias, a cada vez que nos depararmos com um de nossos “fantasmas”. Nossa história nos trouxe até aqui, mas isso não é sinônimo de um aprisionamento eterno naquilo que vivemos e construímos.
Hayes, S.C., Strosahl, K.D., Wilson, K.G. (2021). Terapia de aceitação e compromisso: o processo e a prática da mudança consciente. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed
Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix