Como foi o Workshop Psicoterapia focada em minorias sexuais e de gênero?

No mês de maio de 2021 aconteceu o workshop “Psicoterapia focada em minorias sexuais e de gênero – TCC baseada em processos e metas transdiagnósticas”, ministrado pelo Prof. Dr. Matthew Skinta. O evento foi organizado pela iMind Psicologia e Mindfulness, através da plataforma Zoom, com tradução simultânea para os participantes que não dominavam a língua inglesa. Iniciou-se às 10:30 e foi até às 19:30 horas do dia 15. O objetivo foi fornecer aos participantes do workshop uma maneira ACT/FAP/CFT de ser; um veículo para a melhora do cliente e ferramentas que podem ser integradas no desenvolvimento da clínica focada nas minorias sexuais e de gênero.

Matthew D. Skinta, PhD, ABPP, é psicólogo clínico certificado em Psicologia da Saúde, Professor Assistente na Roosevelt University (USA), treinador certificado em Psicoterapia Analítica Funcional, Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e também certificado como professor em Treinamentos de Cultivo de Compaixão (CCT). Ele atua no Comitê de Orientação Sexual e Diversidade de Gênero (CSOGD) da Associação Americana de Psicologia (APA). É autor do livro ‘Mindfulness and Acceptance for Gender and Sexual Minorities’, lançado em 2016, e também do livro ‘Contextual Behavior Therapy for Sexual and Gender Minority Clients: A Practical Guide to Treatment’, lançado em 2020.

Foi um sábado bastante produtivo e de muito aprendizado. Matthew introduz o Workshop fazendo uma abordagem histórico-geográfica, mostrando os avanços, retrocessos e desafios das minorias sexuais e de gênero ao redor do mundo e no Brasil. Evidenciou o contexto em que a psicoterapia para esses grupos acontece, a necessidade de intervenções específicas e porquê precisamos de treinamento específico para trabalhar com tais demandas. Apresentou os fundamentos científicos e identificou fatores comuns que podem ser alvos de tratamento através da terapia comportamental contextual (CBT) baseada em processos.

À medida em que o workshop foi se desenvolvendo e o referencial teórico compartilhado, tivemos exercícios experienciais em grupo, práticas de mindfulness e a conceitualização de caso baseada no modelo SORC (Estímulo, organismo, resposta, consequência). Esta estrutura deixou o treinamento bastante denso, produtivo e ao mesmo tempo acessível, de fácil compreensão até mesmo para os que vivenciavam seus primeiros contatos com a abordagem baseada em processos para estresse de minorias sexuais e de gênero. O Matthew abriu bastante espaço para perguntas, relatos e discussões, propiciando uma boa integração do conteúdo do curso às experiências dos participantes.

Foram evidenciadas as limitações estruturais para o tratamento baseado em evidências de estresse em minorias sexuais e de gênero, tais como os escassos estudos randomizados controlados existentes na literatura e a forte ênfase em risco e prevenção de HIV nos estudos existentes; o viés histórico em saúde mental com ênfases em modelos patológicos sobre as experiências das minorias sexuais e de gênero e a homofobia internalizada. Foram destacadas também as extensas disparidades de saúde vivenciadas por pessoas deste grupo minoritário em relação à população geral, enfatizando a necessidade de intervenções psicoterápicas específicas.

Após a identificação e discussão dos fatores comuns no estresse das minorias sexuais, tais como, autoestigma, estigma, discriminação, conexão da comunidade, taxas de violência, entre outros, foi possível conhecer processos, em linha com os melhores padrões de treinamentos comportamentais, que podem acelerar e melhorar o tratamento psicoterápico destes. Tivemos também muitas reflexões robustas sobre pesquisas na área, processos transdiagnósticos, direcionamentos em fatores de estrutura da psicoterapia baseados em mindfulness, aceitação, compromisso e dialética.

Posteriormente, tivemos a definição de um modelo, destacando fontes de sofrimento (proximal e distal), fontes de resiliência, mecanismos de ação subjacentes e resultados; processos terapêuticos que comumente podem incluir ativação comportamental, mindfulness e estratégias de exposição. A conceitualização de caso, segundo o modelo SORC (Estímulo, organismo, resposta, consequência), foi gradativamente sendo construída e bastante discutida através de grupos supervisionados.

As hipóteses baseadas no estresse minoritário ou fatores transdiagnósticos foram levadas ao hexaflex das minorias sexuais e de gênero. Trabalhou-se com os processos de aceitação e mindfulness, processo de comprometimento e mudanças de comportamento visando alcançar a flexibilidade psicológica, segundo a ACT.

O Matthew pontua também alguns fatores de risco psicológico para pessoas da comunidade de minorias sexuais e de gênero, tais como sensibilidade à rejeição, isolamento, vergonha, sigilo, medo, entre outros, que afetam o comportamento interpessoal. Cada um destes fatores foram depreendidos através da exposição do Matthew, dentro do referido contexto, enriquecendo e polindo cada vez mais a nossa conceitualização, compreensão do caso e consequentemente nossa forma de perceber e trabalhar o estresse de minorias sexuais e de gênero. O Matthew destacou também a importância da relação terapêutica, da FAP (Psicoterapia Analítico Funcional) para trabalhar a vergonha versus a autocompaixão, a rejeição e a resiliência.           

Enfim, tivemos um sábado impulsionador, cheio de conteúdo afirmativo e alinhado com as melhores práticas da psicologia comportamental. Tivemos um ambiente, mesmo que virtual, descontraído e leve proporcionado pela simpatia e carisma do Matthew e da equipe iMind Psicologia. A sala estava cheia de profissionais e estudantes de todas as partes do país e exterior, empenhados em levar os melhores resultados às minorias sexuais e de gênero de suas comunidades. Foi incrível, e de um potencial multiplicador gigante. Já estou de olho na programação de cursos na iMind Psicologia (@imindpsi) para novas experiências como essa.

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Escrito por Tomé Lagares de Almeida

Graduando em Psicologia pelo UNIPAM - Centro Universitário de Patos de Minas, Patos de Minas - MG. Graduado em Administração de Empresas, também pelo UNIPAM. Cursa Formação em Terapia Afirmativa para minorias sexuais e de gênero: Modelos Cognitivos e Comportamentais pela Síntese – Psicologia, Psiquiatria e ensino, Porto Alegre – RS. Pós graduado MBA em Gestão Estratégica de pessoas e Rh pelo Centro Universitário Leonardo Da Vinci, Indaial - SC. Realiza estágio em Psicoterapia adultos – Terapia Cognitivo Comportamental pelo UNIPAM. Realiza estágio em Psicoterapia com Gestantes e Puérperas com fatores de alto risco pelo UNIPAM. Foi Acompanhante Terapêutico em escola de alfabetização infantil, trabalhou alfabetização/autismo, pela Secretaria da Educação da Prefeitura de Patos de Minas, Patos de Minas – MG.

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