Falar sobre emoções implica entender que temos três influências que trabalham em conjunto nesse processo: uma base biológica, uma base individual e relacionada à história de vida do sujeito e uma base cultural. A base biológica nos aponta a uma universalidade das emoções, e a base individual e cultural redimensionam a intensidade e o processamento delas. É importante entender que “há uma distinção entre sentir e nomear sentimentos” (Schwartz, Lopes, Veronez, 2016). Ou seja, todos nascemos hábeis a sentir, e diante da comunidade verbal na qual somos criados, vamos sendo progressivamente apresentados aos nomes que se relacionam a esse sentir. Em função disso, crescemos mais ou menos aptos a descrever em palavras o que está ocorrendo em nossa experiência privada do sentir, bem como os pensamentos e contextos relacionados.
Para entender melhor a complexidade desse aprendizado, pensemos em quando nos pedem para descrever um objeto físico. Podemos relatar detalhes sobre a sua forma, seu tamanho, suas cores, seu peso e assim por diante. Quanto maiores os detalhes que mencionarmos, em melhores condições quem nos escuta estará de conhecer a respeito dele. Agora, imagine a sua experiência absolutamente privada de ter uma emoção, seja ela tristeza, raiva, medo ou qualquer outra. Quem está ao seu redor somente tem acesso a elementos não verbais como sua expressão ou sua reação e a partir disso, infere que você está se sentindo desta ou daquela forma. Esse é o complexo exercício que os responsáveis exercem sobre suas crianças. São eles que apresentarão os nomes a esse mundo emocional privado, e permitirão que pouco a pouco a criança possa ir inferindo como ela se sente, pois, “conhecer a si mesmo é conseguir descrever-se com o máximo possível de propriedades, através da auto-observação” (Poubel & Rodrigues, 2018).
O passo seguinte traz a importância de se relacionar passado e presente. Ou seja, qual o papel da minha história de vida em quem sou hoje? E mais, quais são os meus déficits e excessos em termos de comportamento? É importante lembrar que todo comportamento surge dentro de um contexto e pode se manter por não haver o aprendizado de realizá-lo de outra forma. Nesse sentido, pode até nos incomodar, mas a falta de variabilidade no repertório (inclusive de descrever qual é exatamente o comportamento que é preciso aprender) pode mantê-lo.
Após esse processo de nomear, descrever e relacionar, chegamos a um ponto essencial no processo de regular as nossas emoções, que se refere à nossa capacidade de aceitá-las. A aceitação aqui é vista como sinônimo de abertura. Ou seja, não basta saber falar sobre, é preciso também acolher a possibilidade do sentir, mesmo que ele venha com sensações físicas que pareçam desconfortáveis ou mesmo desagradáveis. Portanto, a regulação emocional é um processo contínuo e, como tal, não se encerra. A busca é por um aprendizado de estratégias variadas de se relacionar com as próprias emoções e um exercício constante em prol da melhor escolha para aquele contexto.
Construindo uma cronologia, o primeiro ponto se refere ao sentir, já o segundo ao aprendizado de nomear e relacionar ao que está acontecendo, por sua vez, o terceiro consiste na habilidade de se relacionar a própria história e seus comportamentos atuais e por fim, o entendimento e treinamento da nossa capacidade de aceitar e regular a forma como lidamos com as nossas emoções.
Todas as fases exigem aprendizado e treino, e esses dois aspectos não se encerram completamente, uma vez que, enquanto vivermos, seremos expostos a novas contingências. Estas nos exigirão respostas absolutamente singulares, e vão nos impelir a questionar quão congruentes estamos perante aquilo que faz sentido para nós, ou seja, os nossos valores.
Referências Bibliográficas
- Schwartz, F.T., Lopes, G.P., Veronez, L.F. (2016). A importância de nomear as emoções na infância: relato de experiência. Psicol. Esc. Educ. vol.20 (3), Maringá.
- Poubel, L. & Rodrigues, P. (2018). Manual de inteligência psicológica para felicidade integral. Rio de Janeiro, Letras e versos