Parte 2 – Possíveis Modelos de Registro Comportamental na Terapia Analítico Comportamental Infantil

Na Parte 1, foram vistos os protocolos das Emoções, dos Objetivos Terapêuticos e da Interação Pais & Filhos que podem ser aplicados em atendimentos psicoterápicos infantis. Nesta Parte 2, será dada continuidade a apresentação dos modelos.

– Protocolo do Contrato Terapêutico com a Criança

Este protocolo foi denominado “Nosso super combinado!” e é composto por cinco folhas. O instrumento possui a função de estabelecer o contrato terapêutico com a criança em relação a que atividades desempenharão ao longo das sessões, a questão do sigilo e as regras da divisão dos horários das sessões.

Figura 1. Primeira folha do Contrato Terapêutico              

A primeira folha (Figura 1) tem o objetivo de explicitar que tipo de atividades poderão ser desempenhadas durante os atendimentos, como o brincar. Na folha, há uma imagem com os personagens da Turma da Mônica brincando de diferentes formas. Abaixo, há a instrução: “Desenhe aqui como você se diverte”, em que a criança poderá, no espaço proposto, desenhar suas atividades preferidas. Nesse sentido, esta folha também pode ser um meio de coleta de dados para o(a) psicólogo(a) a respeito de quais atividades possuem alto valor reforçador para a criança.

Figura 2. Segunda folha do Contrato terapêutico

A segunda folha (Figura 2) tem como objetivo sinalizar em quê as brincadeiras desempenhadas poderão ajudar a criança. Foi utilizado a metáfora do monstro em diminuir de tamanho, em que o monstro pode ser correspondido com os problemas que a criança possa estar enfrentando em sua vida. Na folha, há a imagem de um monstro que diminui de tamanho gradualmente. Abaixo dele, há a instrução “Desenhe aqui um monstro que você gostaria de diminuir de tamanho”, em que a criança poderá, no espaço destinado, dar “forma” a um problema que está passando ou um monstro. Em complemento, sugere-se a leitura do livro “Por que vou à terapia?”, na parte em é explicado o que é a psicoterapia [1].

Figura 3. Terceira folha do Contrato Terapêutico

A terceira folha (Figura 3) tem como objetivo verificar o que a criança entendeu por “sigilo”, após a descrição do(a) psicoterapeuta sobre a que contingências este termo está relacionado. Na folha, há a instrução: “Desenhe aqui o que você entendeu por ‘sigilo’”, em que a criança poderá vir a desenhar seu entendimento sobre o termo, por exemplo, uma criança gesticulando um pedido de silêncio com o dedo indicador. Esta atividade também pode proporcionar ao psicoterapeuta tirar eventuais dúvidas da criança quanto a sua privacidade, facilitando a criação do vínculo terapêutico.

Figura 4. Quarta folha do Contrato Terapêutico

A quarta folha (Figura 4) tem como objetivo explicitar que, em alguns momentos, a criança precisará arriscar o que aprendeu ao longo das sessões em outros ambientes, como a sua escola e/ou sua casa. Na folha, há duas imagens com os personagens da Turma da Mônica, uma no contexto escolar e a outra no familiar. Abaixo dessas imagens, há a instrução: “Desenhe aqui sua casa e/ou sua escola”, em que a criança poderá, no espaço destinado, desenhar sua casa e/ou sua escola. Assim, esta folha também pode ter função de coleta de dados sobre estes ambientes, a partir de como a criança os desenha e quais pessoas são inseridas.

Figura 5. Quinta folha do Contrato Terapêutico
Figura 6. Exemplo de como operacionalizar a quinta folha do Contrato Terapêutico

A quinta folha (Figura 5) tem como objetivo sinalizar as regras que deverão ser seguidas acerca dos horários das sessões. Esta atividade pode permitir previsibilidade à criança de 1) qual momento é seu ou do(a) psicoterapeuta em escolher a atividade, 2) de organizar a sala (ou o local que está, caso o atendimento seja online) e 3) de encerrar a sessão. Na folha, na parte superior, há uma ilustração de um relógio analógico em branco e, embaixo, há a instrução: “Vamos colorir o relógio de acordo com a divisão dos tempos! Escreva embaixo o que cada cor significa”. A criança deverá colorir o relógio com diferentes cores, conforme a divisão sugerida dos três tempos, com o auxílio do psicoterapeuta em delimitar os horários. Abaixo da instrução, a criança deverá escrever a legenda que corresponde cada cor.

Na Figura 6, é dado o exemplo de como o relógio poderia ser colorido e como pode ser a legenda. Neste caso, de acordo com o que foi pintado, a cor vermelha significa “A Tia Amanda escolherá a atividade” (o(a) psicólogo(a) escolhe a atividade), a cor verde significa “Eu escolho a atividade” (a criança escolhe a atividade) e a cor azul “Organizar a sala” (o(a) psicólogo(a) e a criança organizarão a sala). Sugere-se a aquisição física de um relógio analógico com um fundo branco, retirar este fundo e colori-lo, indicando a legenda nesta folha. 

Confira as Partes 1, 2, 3 e 4 para visualização dos demais protocolos.

Para ter acesso a este protocolo visto, mande um email para mim, amandapsico8@gmail.com, ou um direct no Instagram @guiapraticodospequenos, página que auxilia a prática de psicólogos infantis.

Referências:

[1] Caminha, M.G., & Tisser, L. A. (2014). Por que vou à terapia?. Porto Alegre: Sinopsys.

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Escrito por Amanda Viana dos Santos

Psicóloga infantojuvenil (CRP - 09/14306). Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com Prêmio Mérito Acadêmico Magna cum laude. Mestranda na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Coordenadora da Comissão de Estudantes da ABPMC (2021). Professora convidada do curso de Pós-Graduação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC. Pós-graduanda em Terapia Analítico-Comportamental Infantil pelo Instituto Skinner. Durante a graduação, foi membro do Laboratório de Análise Experimental do Comportamento/PUC GO, realizando iniciações científicas na área do comportamento de escolha, autocontrole e estilos parentais (bolsista CNPq). Criadora do projeto Guia Prático dos Pequenos, disponível no Instagram @guiapraticodospequenos. E-mail: amandapsico8@gmail.com

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