Autocompaixão e a COVID-19

Por Dr Chris Germer e Dra Kristin Neff – Co-fundadores do Center for Mindful Self-Compassion

Tradução: Daniela Araújo – Centro Brasileiro de Mindful Eating

Texto original clique aqui

Enquanto o coronavírus se espalha ao redor do mundo, já em mais de 80 países, todos somos afetados de alguma forma. As viagens estão sendo restritas, o mercando de ações está caindo, algumas escolas e locais de trabalho estão fechando temporariamente, e uma garrafa de desinfetante para as mãos chega a custar US$ 250 a garrafa na Amazon. Mais perto de casa, um programa de MSC que o Chris iria oferecer em Hong Kong foi cancelado pois o espaço foi convertido em espaço de quarentena. A Kristin teve que aplacar o temor de seu filho Rowan que está preocupado em ir para a escola. Epidemiologistas tentam compreender a situação, enquanto perguntas permanecem: Como podemos desacelerar a propagação do vírus? Qual será o impacto dessa epidemia global?

“Global” é a palavra chave. Muitos dos problemas que enfrentamos agora são de natureza global, como o aquecimento do planeta, a desigualdade econômica e agora um vírus contagiante. O coronavirus está apontando o quão interdependentes somos, com as cadeias de suprimento interrompidas desacelerando a produção e as viagens internacionais disseminando o vírus.A globalização é um fato – a única escolha é se vamos ou não trabalhar juntos para resolver nossos problemas. Do nosso ponto de vista, a escolha está entre reagir com medo ou responder com bondade.

Nacionalistas estão se aproveitando do coronavirus para fortalecer a agenda do fechamento das fronteiras, mas outros estão trabalhando através das fronteiras para resolver o problema, como uma nova colaboração entre cientistas de Harvard e colegas chineses para desenvolver uma vacina contra o COVID-19.

O que cada um de nós pode fazer? É aqui que entra a autocompaixão. A autocompaixão fortalece o sistema imune, reduz a ansiedade e é o caminho mais fácil para manter nossos corações abertos uns para os outros. Algum medo é uma resposta saudável a um vírus contagiante, claro. Queremos responder ao contágio de uma forma sábia – com medidas preventivas que beneficiem a nós mesmos e aos demais.
No caso da COVID-19, adotar medidas para não contrair o vírus é cuidar dos outros.

A autocompaixão pode ajudar se o vírus estiver lhe causando ansiedade desnecessária, limitando sua capacidade de trabalhar ou viajar, reduzindo sua renda ou se você ou alguém que você conhece já contraiu o vírus. Uma resposta autocompassiva à epidemia da COVID-19 pode ser algo assim, seguindo o modelo da Pausa Autocompassiva:

· Mindfulness – Fique consciente de como você se sente com relação ao vírus. Você está sentindo ansiedade, desânimo ou confusão? Você pode sentir isso no seu corpo? Se sim, onde no seu corpo? A sua mente está preocupada com o vírus? Se sim, quais são os pensamentos? Você pode validar por si mesma/o o como você se sente ou pensa de uma forma bondosa e compreensiva? Por exemplo: “sim, isso é difícil’, ”Isso é realmente estressante”. Você poderia oferecer para si um pouco de espaço em torno de seus sentimentos, sabendo que isso é parte da situação em que todos nos encontramos?

· Humanidade compartilhada – Quando você ouvir notícias sobre pessoas em dificuldades por causa do vírus, você pode permitir que isso incremente seu senso de fazer parte de uma família global, em vez de se sentir à parte? Você pode se imaginar na situação delas e dizer “assim como eu.” Ou quando você refletir sobre seu próprio sofrimento, você pode se lembrar de que “Outros se sentem como eu me sinto, não estou só”. “Doenças são parte da vida”. “É assim a sensação de ser humana/o agora”.

· Autobondade – Tente colocar sua mão sobre o coração ou outro lugar reconfortante, ajudando a acalmar parte da sua ansiedade através do toque. Quais palavras você precisa ouvir para se reconfortar ou se reassegurar sobre o vírus agora? Elas são realistas? Você pode falar consigo mesma/o com uma voz calma, compassiva? Que ações você precisa adotar para se proteger ou se prover? Você pode se encorajar a dar esses passos, de forma a se dar apoio?

Note se esta prática faz com que você se sinta mais relaxada/o e compassiva/o ou lhe encoraja a ter ações positivas, Fique livre para encontrar sua própria forma de ser compassiva/o consigo, talvez se dedicando a comportamentos diários de autocuidado como tomar uma xícara de chá ou um banho morno.
Como qualquer crise, o vírus COVID-19 é também uma oportunidade.

Por exemplo, você pode encontrar um lado positivo nas limitações que o vírus impõe à sua vida – uma oportunidade de sair de sua rotina habitual. Você tem mais tempo para passar com a sua família? Essa é a oportunidade de ler um livro que você estava namorando há meses?

E no sentido amplo também pode haver um lado positivo. Em 2016, quando Chris pegava um uber voltando para o aeroporto de Sydney, ele perguntou ao motorista, um senhor de idade indiano, o que ele pensava sobre a situação política nos EUA. A resposta do motorista foi inesquecível:
“A história humana passa por ciclos de expansão e de contração, mas os períodos de expansão são mais longos do que os períodos de contração.” “Por que os períodos de expansão são mais longos?”, Chris perguntou. O motorista respondeu, “Porque o coração humano prefere a expansão.”

Graças à globalização, parece que ameaças como o coronavírus vão apenas aumentar conforme os anos passam. Que tipo de mundo queremos criar enquanto atravessamos esses anos? Nossos corações vão se expandir ou se contrair enquanto se deparam com cada novo desafio? Um compromisso global para viver compassivamente pode fazer toda a diferença e a autocompaixão parece um jeito excelente de começar. Vamos?

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Escrito por Erika Leonardo de Souza

Psicóloga formada pela USP de Ribeirão Preto (1998), mestrado em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da USP (2001), doutorado em ciências (psiquiatria) pela Faculdade de Medicina da USP (2011) e pós doutorado (em andamento) pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Membro geral da diretoria da ACBS Brasil (gestão 2018-2019). Trained Teacher do Programa de Mindfulness e Autocompaixão Mindful Self-Compassion (MSC) e líder do programa no Brasil. Professora Certificada de Mindfulness e Compaixão para a saúde – Respira Vida Breathworks. Atua em consultório particular como psicoterapeuta de terceira geração das TCCs (abordagem principal - Terapia Focada na Compaixão) e dá aulas em cursos de pós graduação nessa mesma abordagem. Fundadora do Conectta Mindfulness e Compaixão (https://www.conecttamindfulnessecompaixao.com).

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