Seis anos de DBT: O que mudou?

Seis anos de DBT: O que mudou?

Na verdade, não sei se esse número é preciso, mas acredito que deve ser algo próximo disso. Já fazia algum tempo em que eu estava na especialização em terapia cognitivo comportamental e acabei ingressando num grupo de estudos em transtornos da personalidade, que depois se tornou um grupo de estudos em transtorno da personalidade borderline e por fim um grupo em terapia comportamental dialética.  Quando me dou conta estou em meu primeiro grupo de consultoria. Foi um processo gradual, olhando para trás não tão lento assim, mas foi gradual.

Afinal de contas, eu não queria ser referenciado por atender pacientes com automutilação e tentativas crônicas de suicídio. O motivo era bem simples: se fosse conhecido por esse grupo de pacientes receberia em meu consultório ainda mais deste tipo de pacientes. Se eu recebesse muitos desses clientes, logo estaria estressado, me sentindo incapaz por nunca dar alta e eventualmente perder um paciente por suicídio.

Todos sabem o que acontecem com terapeutas que perdem pacientes por suicídio, não é? Sofrem processos duríssimos das famílias, perdem suas licenças para atuar como psicólogos e por fim recebem uma letra escarlate com um grande “i” de incompetente, sendo motivo de desprezo e escárnio dos colegas da área. É claro que isso não é verdade, mas é um pensamento comum para os profissionais de nossa área.

Você deve estar se perguntando agora, então por que diabos você se meteu nessa? Minha resposta automática é que esta é a terapia com mais evidências para esse tipo de paciente, e por alguma razão que desconheço, eles sempre estão presentes em meu consultório.

Isso é uma verdade, o que não falei antes, era que esta é a reposta incompleta. A parte que faltou de minha resposta acima é que outra grande razão por ter me aprofundado em DBT é que EU também precisava disso. Não é fácil ser psicoterapeuta quando se tem pensamentos extremamente exigentes com você e pensa que constantemente será julgado, e se isso ocorrer? CATASTROFE!

Uma vez por semana me comprometo com colegas de profissão dos quais admiro muito, onde me permito por uma hora me vulnerabilizar, pensar dialeticamente, ser descritivo, ser validante comigo e com os outros. Os acordos de uma reunião de consultoria não são apenas meras formalidades e sim norteadores de como auxiliar um terapeuta a se manter mais saudável para trabalhar com pacientes que possam ter um progresso lento e gradual.

Com isso comecei a olhar com mais compaixão meus pacientes e a mim mesmo. Faço exercícios físicos regularmente, não loto minha agenda com muitos pacientes, cobro melhor sobre o meu trabalho. Não, não sou tão relax quanto pareço.

Provavelmente sou um dos psicólogos mais estressados que vocês possam conhecer. No momento em que escrevo esse texto, recém terminei a função de papeladas para imposto de renda e estou entregando o texto atrasado para o Esequias Caetano – fica o pedido de desculpas em público, Esequias!

Mas as reuniões de consultoria auxiliam que a nos mantermos no tal equilíbrio dialético que tanto buscamos para os pacientes. Estabelecendo limites pessoais e o esticando quando necessário. E principalmente com ajuda dos colegas descobrir afinal de contas quando é o tal do “quando necessário”.

Mas então o que mudou? A resposta é altamente dialética: não mudou nada e também mudou tudo. Continuo com medo de perder pacientes, e tenho crenças estapafúrdias a respeito disso, me exijo bastante e de tempos em tempos sofro bastante com estresse. Entretanto aceito meus pensamentos distorcidos em relação a padrões de exigências e possíveis catástrofes que podem acontecer na minha carreira, mas no final são apenas pensamentos, não é?

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Escrito por Diego Alano

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