Estudantes de psicologia e psicólogos são continuamente convocados ao estudo e aprimoramento profissional através de cursos, workshops, supervisões e principalmente muita leitura. Todos esses elementos combinados com os anos de prática clínica moldarão progressivamente o seu processo de evolução profissional.
Como nos lembra Skinner, 1953/2000: “a ciência se ocupa do geral, mas o comportamento do indivíduo é necessariamente único” (p.30). Ou seja, por mais que o profissional já possua anos de prática e inúmeros livros lidos, o que valerá para cada cliente que atender será um olhar singular e com a mesma atenção, zelo e empatia que teve em seu primeiro atendimento.
Tais elementos interpessoais entre terapeuta e cliente constituirão a primeira possibilidade para o estabelecimento de uma relação íntima, segura e bilateral. Somente assim a terapia se constituirá como uma possibilidade efetiva de autoconhecimento, aceitação e mudança mútuas. “Não é supérfluo relembrar que o processo terapêutico envolve no mínimo duas pessoas, sendo que o terapeuta também é fundamental” (Delitti, 1997 apud Vandenberghe.& Pereira, 2005, p.127). Ou seja, a relação terapêutica que se estabelecer será parte fundamental para um processo de mudança efetivo ocorrer, não somente diante das queixas e demandas trazidas pelo cliente, como para o terapeuta em seu aspecto pessoal e profissional.
Torna-se primordial que o profissional não se restrinja meramente a técnicas e tarefas de forma apressada para alcançar um resultado, mas que construa com o cliente as análises das contingências envolvidas em suas queixas e o faça ser parte integral e fundamental deste processo (Lima, 2007). Para a evolução e desenvolvimento desta caminhada, é válida a utilização de imagens, vídeos curtos ou metáforas. Todos esses elementos visam trazer um diferencial e favorecer insights e análises mais consistentes entre a queixa, eventos e consequências. Além disso, alguns autores defendem que o uso das metáforas na prática clínica podem facilitar a abordagem de temas mais difíceis e dolorosos para o cliente, ser um método de transformação da função de estímulos ou ainda um modo de evocar respostas emocionais do cliente (Filho, 2014).
Na literatura costuma-se encontrar com maior frequência os possíveis efeitos para o cliente das ações realizadas pelo seu terapeuta. Porém, especialmente com o aumento dos estudos da Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) tem-se ratificado de forma cada vez mais efetiva que também há variáveis que afetam o comportamento perceptivo do terapeuta e que, portanto, cliente e terapeuta influenciam-se e afetam-se mutuamente nesta interação (da Silveira e cols, 2009). Dessa forma, o terapeuta se depara com um árduo trabalho que envolve manter-se atento e consciente a cada relação, particularizando-a e evitando possíveis padrões estruturados de resposta que “costumam funcionar nesses casos”. Afinal, o trabalho não está pautado em um diagnóstico e sim naquele cliente, com aquela história de vida e seu vínculo terapêutico singular. Sendo assim, “na relação terapêutica, paciente e terapeuta, ambos são pacientes” (Leahy, 2008).
Referências Bibliográficas
- De-Farias, A.K.C.R. & cols. (2010) Análise Comportamental Clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Porto Alegre: Artmed
- Da Silveira, J.M. , Callaghan, G.M. , Stradioto, A., Maeoka, B.E., Maurício, M.N., Goulin, P. (2009). Efeitos de um treino em Psicoterapia Analítica Funcional sobre a identificação feita pelo terapeuta de comportamentos clinicamente relevantes de seu cliente. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Vol 11(2), pp. 346-365
- Filho, E.F.S. (2014). Manejo de matéforas em psicoterapia analítico-comportamental. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo
- Leahy, R.L. (2008). Superando a resistência em terapia cognitiva. São Paulo: Livraria Médica Paulista Editora
- Lima, E. R. (2007). O papel da relação terapêutica para o sucesso da terapia. Monografia de Psicologia do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília, Brasília/DF,
- Vandenberghe, L.& Pereira, M.B. (2005). O papel da intimidade na relação terapêutica: uma revisão teórica à luz da análise clínica do comportamento. Psicologia teoria e prática v.7(1), pp. 127-136