Encontramos algumas variações da forma de atendimento na terapia comportamental. Assim como a terapia individual, a de casal e a de grupo, a terapia familiar é um desses formatos. A terapia familiar pode ser uma excelente alternativa para famílias que estejam passando por problemas complicados, conflitantes e de difícil resolução. Pessoas procuram terapia motivadas por sofrimentos, insatisfações, sentimentos de inadequação, somatizações ou para entenderem mais sobre si mesmos. Estes relatos são apresentados pelo cliente em forma de queixas ou pistas dadas durante suas falas. As famílias não são diferentes, no geral buscam a terapia de família algum membro do grupo ou por alguma indicação de um outro profissional.
A família pode ser considerada o primeiro grupo em que o indivíduo se insere desde o seu nascimento, por isso é possível afirmar, ainda segundo Banaco (2008), que quando o cliente faz terapia individual, nunca vem sozinho, porque o impacto de qualquer intervenção realizada durante as sessões terá impacto em outras pessoas, na maioria das vezes esse primeiro impacto é na família.
De acordo com Banaco (2008) ao considerar as interações dos indivíduos com o ambiente, principalmente o social, um trabalho com foco nesse grupo tão especial, que é a família, se torna bastante sensato. Levando em consideração que quando se modifica um comportamento está se modificando as relações entre o indivíduo e o ambiente em que ele vive, entendemos que mudanças no repertório de uma pessoa também produzem mudanças no comportamento de outros componentes do grupo (Banaco, 2008).
Importante entender que a família que vai para a terapia nem sempre tem um formato estático ou tradicional. Precisamos compreender que o formato familiar se modificou muito, isto é, tem muitas variações. Então, a família que vai para a terapia será definida pelo cliente que buscou o atendimento familiar. Pode ser a família nuclear ou a família formada após o casamento. Esta pode ser composta para o processo terapêutico de acordo com as pessoas ou membros, que o cliente considera fazendo parte dessa rede. Então, entender o que é definido como família para quem busca esse formato de atendimento é um ponto importante para se iniciar o atendimento desse grupo e começar a entender as relações dos membros entre si. Para o dicionário, “família é um grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto, grupo com ancestralidade comum”.
A busca por um processo terapêutico geralmente ocorre quando as pessoas estão sob efeitos de contingências aversivas (Skinner, 1953/1993). Para que estas condições mudem, é necessário interferir nestas contingências, caso contrário, o quadro permanecerá o mesmo. As causas dos comportamentos não estão nos eventos internos e sim na história de interação do indivíduo com o ambiente, então encontramos no ambiente familiar uma fonte responsável por grande parte dos problemas existentes no repertório de um indivíduo. Por esta razão parece lógica uma terapia familiar (Banaco, 2008).
A família pode buscar terapia por diversos fatores que estejam gerando conflitos e estes podem ser o uso de drogas de um dos membros, discordâncias entre a criação dos filhos, herança, quadros específicos de alguém do grupo, como: depressão, alcoolismo e etc..
Esse formato de terapia ainda é um formato pouco procurado, mas pode ter grandes vantagens para os membros que se relacionam. Para atender família é preciso tomar alguns cuidados, como por exemplo, o terapeuta precisa ter os cuidados de descrever tais relações e contingências sem julgamento, ter cautela ao apontar o que no comportamento de cada membro possa ser um facilitador para a manutenção do problema e demonstrar que a interação talvez esteja problemática e não um ou outro membro do grupo, esses são comportamentos esperados do terapeuta de família.
Assim como no atendimento em grupo, o terapeuta de família se torna parte do grupo durante a sessão, precisa compreender o papel de cada indivíduo no funcionamento da dinâmica familiar e estar atento às suas respostas aos comportamentos que ocorrem durante as sessões pois influenciam diretamente na relação como um todo (Banaco, 2008).
Estabelecer objetivos para a condução do processo terapêutico familiar é algo de muita importância e que é preciso ser comum a todos os membros, portanto se faz necessário que nenhum dos membros sinta que algum objetivo tem sido mais privilegiado que outro. Os objetivos precisam levar a ganhos para todos do grupo, estarem direcionados a promover autoconhecimento, aumentar a comunicação adequada e favorecer mudanças construtivas.
A modelagem é um processo fundamental na terapia de grupo e de família, pois consiste em reforçar as aproximações sucessivas de comportamentos desejáveis, e para isso o treino de observação precisa acontecer a todo o momento durante as sessões para favorecer que os membros da família tenham conhecimento sobre os reforçadores para cada um dos membros. Quando cada membro da família tem o conhecimento sobre tais reforçadores, conseguem aplicar sobre as respostas dos outros membros consequenciando os comportamentos dos componentes do grupo de forma positiva fazendo com que os comportamentos desejáveis para relações saudáveis ocorram com maior frequência. Durante esse processo, a família precisa entender que essa modelagem pode ser lenta, considerando que comportamentos novos têm uma história curta de reforçamento o que sugerem recaídas. Para isso, reconhecer os pequenos ganhos apresentados por cada um no grupo é fundamental (Banaco, 2008).
A Terapia familiar é muito rica por apresentar inúmeros estímulos ao mesmo tempo e por isso facilita a emissão de comportamentos problemas, como os membros que estão em conflito ou gerando conflitos em todo o grupo estão presentes, fica fácil que os comportamentos ocorram durante as sessões de família, aumentando a possibilidade de coleta de dados para as possíveis análises funcionais, tão importantes quanto a de um processo individual. E assim como evocam, também liberam consequências, que não precisam ser liberadas apenas pelo terapeuta.
O atendimento nesse formato ainda tem uma vantagem que é se aproximar do ambiente natural dos membros do grupo, mas sendo um ambiente onde exista a mediação de um terapeuta para conduzir o processo, de acordo com Delliti (2008) se torna um ambiente próximo ao natural, mais “protegido”.
Um ponto de grande relevância é ensinar controle sem coerção para a família em terapia. Essa é uma das tarefas mais custosas para esse tipo de atendimento, desconstruir a necessidade do controle mútuo é sem dúvida um processo intenso que envolve muitas variáveis. Diferente do grupo terapêutico (fechado), a terapia de família não tem tempo para terminar, segue a regra da terapia individual, acontece semanalmente e com o tempo entre 50 minutos e uma hora e vinte de sessão.
Ao se observar relações mais equilibradas, estáveis e com a presença de autonomia nos membros do grupo para a continuidade do que foi construído, pode-se realizar uma avaliação para o processo de alta. A única desvantagem da terapia de família seria a impossibilidade de aprofundar as demandas individuais no grupo, para isso os clientes junto com o terapeuta podem considerar a hipótese de continuar paralelamente à terapia individual.
Então, a terapia familiar é um processo psicoterápico que apresenta muitas vantagens e pode sim apresentar resultados excelentes, pois ajuda a construir e desenvolver um diálogo mais adequado entre os membros auxiliando na resolução dos problemas existentes no grupo.
Referências Bibliográficas
Banaco, R. A. (2008). A terapia Analítico Comportamental em um grupo especial: a terapia de famílias. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP: ESETec. Editores Associados
Delitti, M. (2008). Terapia Analítico Comportamental em Grupo. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP: ESETec Editores Associados