Com muita frequência em minha rotina, convivendo com amigos, conhecidos, alunos e clientes, ouço o questionamento “Por que as pessoas só dão valor às coisas quando perdem?” Geralmente estão se referindo aos relacionamentos amorosos. Resolvi apresentar minha reflexão sobre o assunto a partir da Análise do Comportamento, abordagem que vem direcionando há muitos anos minha vida e minha atuação na Psicologia.
Eis a minha resposta:
É porque, por mais que algo seja reforçador para você, se você tiver aquele reforçador disponível, sem precisar de muito esforço, acabará aprendendo que não precisará agir no sentido de mantê-lo. Além disso, quando temos um reforçador em excesso tendemos a nos saciar dele. Ex: Você pode amar chocolate, mas se tem muito chocolate na sua casa, e você come chocolate toda hora, pode acabar enjoando. Por outro lado, se você corre o risco de perder um reforçador que antes estava disponível, um parceiro por exemplo, precisará fazer várias coisas para que isso não aconteça. Isso não precisava ser feito antes porque ele estava disponível sem muito esforço seu. É mais ou menos isso…
Vale também acrescentar que se em uma relação um dos parceiros está sempre disponível e o outro não, quando não existe reciprocidade, o casal se encontra sob controle de esquemas de reforçamento diferentes: um sob esquema de reforçamento contínuo e outro sob esquema de reforçamento intermitente. O resultado disso é que o que está com o reforçador sempre disponível e saciado (sob controle de esquema de reforçamento contínuo), como falei acima, vai estar pouco motivado pra procurar o parceiro; enquanto que o outro, que só tem acesso ao parceiro de vez em quando (sob esquema de reforçamento intermitente) vai estar sempre privado e motivado pra ir em busca do parceiro. É uma relação desigual e gera sofrimento, principalmente pra aquele que se doa muito e recebe pouco em troca. Nestas situações costuma-se cobrar atenção, amor, que são coisas que não se costuma dar por obrigação ou coerção. Para os relacionamentos serem satisfatórios para ambos os membros do casal é preciso que exista reciprocidade.
OBS: Claro que fora esses aspectos gerais, a história de vida individual vai interferir também em algumas particularidades desses padrões de comportamento.
REFERÊNCIAS
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Publicação Original de 1953).