O que significa ser analista do comportamento?

Quando alguém escolhe se tornar psicólogo (a), geralmente desconhece diversas possibilidades de atuação que essa profissão proporciona, bem como sabe muito pouco do que realmente o aguarda na graduação. Uma das teorias mais difundidas no senso comum é a Psicanálise e é comum imaginar que se aprenderá basicamente sobre Freud e os mistérios do inconsciente. No entanto, a Psicologia é um curso muito amplo e complexo. Afinal, explicar e intervir sobre o comportamento humano não é uma missão nada simples. Ao longo do curso são apresentados diversos modelos e teorias e aos poucos o estudante começa a selecionar quais são mais interessantes para si e demonstram instrumentalizá-lo melhor em sua prática. Não se trata de certo ou errado, mas sim de uma escolha baseada no que é mais importante para cada um como profissional e pessoa.

Para aquele que opta pela Análise do Comportamento, o que significa essa decisão? A partir de então passará a usar nomenclaturas técnicas e observar atentamente o comportamento de todos que o rodeiam? Comparará a ação das pessoas com as dos ratinhos de laboratório? Aprenderá técnicas de manipulação comportamental? A resposta a essas perguntas é paradoxalmente afirmativa e negativa ao mesmo tempo. Por um lado, esse indivíduo utilizará os óculos da análise do comportamento para enxergar o mundo ao seu redor. É inegável que ao entrar em contato com tal paradigma, o mesmo poderá servir como guia em diversas ações, mesmo quando não estiver em seu horário de trabalho e estudo. Afinal, é justamente a interação com o ambiente que nos modifica e nós também o modificamos.

Contudo, as respostas a tais questões não adotam o caráter pejorativo que pode ser erroneamente atribuído. Ao ver uma criança fazendo birra em um supermercado, por exemplo, o analista do comportamento dificilmente se dirigirá aos responsáveis para sugerir que adotem o procedimento de extinção. Nem toda observação é seguida de intervenção, especialmente quando não se trata do contexto apropriado para tal. Quanto à polêmica questão dos ratos, já se sabe que os princípios do comportamento são semelhantes entre os homens e esses animais, não é necessário que um ser humano pressione uma barra ou que um camundongo fale para que comparações sejam feitas, inclusive, a fim de contribuir para o avanço da ciência do comportamento. Todavia, é claro que as devidas distinções são sempre consideradas com o rigor que merecem, respeitando a singularidade e a complexidade humana. No que se refere à manipulação comportamental, todos nós estamos manipulando, transformando, controlando o comportamento o tempo todo, tendo em vista que estamos em constante interação.

Engana-se quem confunde a visão Behaviorista Radical com uma atuação mecânica e fria, trata-se de um olhar sensível, que mesmo desmembrando o todo em partes, não deixa de visualizar o comportamento em sua versão completa e integrada. Independentemente de qual seja a área de atuação do analista do comportamento, o embasamento teórico o acompanhará, não como uma doutrina, mas sim como um norteador. Dessa forma, ser analista do comportamento significa que identificar antecedentes, respostas e consequências, de modo a poder manipular as variáveis e promover ou mediar a mudança de comportamentos é reforçador. Significa que o modelo explicativo de seleção pelas consequências – no qual se considera os níveis filogenético, ontogenético e cultural para a determinação do comportamento – contribui para sua compreensão da ação humana e certamente o ajuda em sua aplicação da Psicologia, assim como em sua leitura sobre o mundo e a humanidade.

Ser analista do comportamento significa ter a perspectiva de investir na promoção de contingências saudáveis para que comportamentos saudáveis sejam desenvolvidos. Significa acreditar que não basta construir novos presídios, mas sim escolas que ensinem repertórios comportamentais de autoconhecimento, autoestima, responsabilidade, tomada de decisões, resolução de problemas. Mais do que acreditar, ser analista do comportamento significa se comportar para que a mudança ocorra. Seja por meio de pesquisas conceituais, empíricas e aplicadas para buscar respostas aos problemas de nosso dia a dia; seja atuando em universidades, escolas, empresas, hospitais ou clínicas o papel do analista do comportamento é buscar a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Nesse caso, se pretende ser analista do comportamento, procure aprofundar seus estudos e gradualmente ir modelando sua análise. Lembre-se de que não somos uma ilha particular, o diálogo com profissionais de outras áreas e diferentes referenciais teóricos é muito valioso. O objetivo da abordagem não é afastar, mas sim oferecer condições para que se possa agregar ao saber psicológico, isso sem pender para o dogmatismo ou ecletismo. E para quem já se decidiu e já se considera analista do comportamento, também estude, há muito que aprender e ensinar. Há muito que descobrir. Tenha certeza de que sua função demanda compromisso com avanço da ciência do comportamento em prol do ser humano e do mundo em que vivemos.

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Escrito por Roberta Seles da Costa

Graduada em Psicologia na Universidade Estadual de Londrina e Mestra em Análise do Comportamento pela mesma instituição. Com formação em ACT e FAP pelo Instituto Continuum de Londrina. Atualmente atende como psicóloga na Clínica Primed e faz parte do grupo "Iluminar - Análise do Comportamento e Psicoterapia" em Ponta Grossa. Também atua como professora do ensino superior.

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