Este é o sexto artigo de uma série que discute a vida de Burrhus Frederic Skinner. Recomenda-se que o leitor interessado leia os artigos anteriores disponibilizados pelo Comporte-se, para que consiga compreender melhor o texto. Quem é o homem por trás da teoria que inspira tantas pessoas até hoje? O objetivo desta série é reconstruir o caminho percorrido por Skinner, apontando aspectos de sua vida pessoal que determinaram seu comportamento e, consequentemente, o de muitos outros. Espera-se que esta narrativa possa não apenas cativar o leitor, mas também tornar natural e humano aquilo que mais nos fascina.
Enquanto desenvolvia engenhosos experimentos na primeira metade da década de 30, ainda como aluno de doutorado e pós-doutorado em Harvard, sua vida social era relativamente limitada e encontros com mulheres eram ocasionais. Além de Fred Keller, havia poucos interlocutores que compartilhavam seu entusiasmo por um projeto behaviorista para a psicologia. A dedicação de Skinner não era restrita aos dias de semana, raramente deixava de coletar nos finais de semana, para que seus dados não fossem prejudicados – afinal, ratos não sabem o que é um final de semana.
Em 1933 conheceu Ruth Cook, apelidada de Nedda, a jovem era cinco anos nova e era aluna de mestrado em antropologia. Apesar de não compartilharem interesses intelectuais e círculos sociais em comum (diferentemente de romances anteriores), Skinner se apaixonou rápida e profundamente por Nedda. Os dois iam ao teatro a à opera, mas passavam a maior parte do tempo no apartamento de Nedda, aproveitando momentos íntimos e cozinhando juntos. Após três meses juntos, a jovem subitamente anunciou que teriam que se separar, pois ela estava comprometida com um homem que tinha uma doença crônica e iria voltar para ficar com ele.
O término deixou Skinner devastado, durante uma semana não conseguia fazer nenhuma tarefa sem muito custo, seu característico entusiasmo desapareceu completamente por uma semana. Tanto que, em uma tarde, dobrou um arame na forma da letra “N”, esquentou-o e queimou seu braço esquerdo, marca que ficou visível por muitos anos (Skinner, 1979, p.137).
Um mês depois Nedda retorna dizendo que estava grávida de Skinner e que precisava de dinheiro para fazer um aborto. O jovem disse que pagaria, mas que preferia que eles tivessem o filho e que depois Skinner poderia ficar com o filho e criá-lo sozinho – Nedda recusou, mas não explicou a razão. Skinner pegou o dinheiro emprestado de dois amigos e o deu a jovem que foi até Nova Iorque e fez. Contudo, Skinner soube posteriormente que Nedda havia se envolvido com um terceiro homem após o término do relacionamento, por isso ela não poderia deixá-lo ficar com um filho que não era seu. Skinner se sentiu traído, sua decepcionante vida amorosa contrastava, mais uma vez, com o sucesso na vida acadêmica.
Um desafio que Skinner teve que enfrentar foi arranjar seu primeiro emprego como psicólogo. A generosa bolsa de pós-doutorado estava chegando ao fim e o mercado após o período da Grande depressão não era animador, sua falta de experiência como docente também era outro empecilho (Cruz, 2013). Fred Keller, um pouco mais velho que Skinner, havia conseguido um emprego em Columbia, uma prestigiosa universidade com bom salário e boas condições de trabalho. Porém, Keller havia trabalhado em uma universidade menor durante boa parte do doutorado e pós-doutorado, um diferencial que Skinner não tinha.
Com auxílio da indicação do chefe de departamento de psicologia de Harvard, Edward Boring, e após algumas rejeições, Skinner conseguiu um emprego na Universidade de Minnesota. Antes de assumir seu emprego, o jovem iria conhecer alguém que ia mudar sua história de vida por completo.
Em 1936, seu último ano em Harvard, Skinner conheceu Yvonne Blue, apelidada de “Eve”. A jovem era a filha mais velha de uma família de classe média alta de um subúrbio de Chicago, tinha estudado literatura (assim como Skinner) na Universidade de Chicago e estava visitando amigos em Cambridge. Um desses amigos era Dan e Martha Smith, que o convidaram para um jantar no qual conheceu Yvonne. De início, Eve achou Skinner “a melhor pessoa que já conheci, e soube disso nos primeiros cinco minutos que passei com ele”. Ambos compartilhavam paixão pela literatura, gostavam de comer e beber bem, rejeitavam os valores tradicionais de seus pais e buscavam fazer algo de diferente e original.
No dia seguinte ao primeiro encontro, ambos passaram a tarde na lagoa de Walden (sim, a lagoa que inspirou Thoreau e ele mesmo a escreverem seus romances) e o anoitecer no quarto se conhecendo melhor… Eve foi embora para Chicago no ônibus noturno. O recém-formado casal continuou se escrevendo e Skinner a convenceu a passar um tempo em Harvard fazendo um trabalho como digitadora para a sociedade em que ele era membro, apenas uma desculpa para passarem mais tempo juntos. Entre shows de jazz e viagens de final de semana para o interior, ambos se apaixonavam cada vez mais.
Contudo, o início do período de Skinner na Universidade de Minnesota começava em breve, e ele precisava ir para lá. Felizmente, Eve morava com seus pais em um subúrbio de Chicago chamado Flossmore, que era caminho de Cambridge para Minnesota ver Eve e conhecer seus pais. Foi durante esta visita que eles decidiram se casar e agora Skinner rumava para seu primeiro emprego noivo.
Contudo Skinner encontrará um cenário diferente em Minnesota, sua vida pessoal e profissional tomará um rumo totalmente novo.
Não perca os próximos capítulos :)
Referências:
Cruz, R. N. (2013). B.F. Skinner e a vida científica: uma história da organização social da análise do comportamento.
Skinner, B. F. (1979). The shaping of a behaviorist: Part two of an autobiography.