Quando falamos em terapia de grupo, na maioria das vezes, nos vem à cabeça grupos de atendimentos como os de alcoólicos anônimos (AA), o MADA (Mulheres que amam demais anônimas) e outros existentes. Portanto, pode-se formar grupos bem parecidos quanto a sua formação, ou seja, o trabalho realizado com várias pessoas ao mesmo tempo vai depender de qual modelo e qual objetivo o criador do grupo está interessado. É possível formar grupos terapêuticos, grupos psicoeducativos e grupos de autoajuda que é o modelo mais conhecido do grande público. Ao considerar que o modelo de análise do comportamento no qual a interação entre as ações de um indivíduo e seu ambiente especialmente o social é muito importante, trabalhar com grupos terapêuticos parece ser bastante sensato (Banaco, 2008). Um indivíduo funciona como ambiente social para o outro indivíduo, ou seja, produz mudanças no responder do outro, e isso se parece com o modelo natural do funcionamento dos grupos na sociedade.
A psicoterapia de grupo é uma modalidade de atendimento dentro da psicologia que oferece aos indivíduos mais condições de interação da vida em sociedade. Podemos dizer que um grupo é formado de acordo com a demanda em comum entre os participantes do grupo ou com objetivos semelhantes. Para participar de um grupo terapêutico os participantes precisam se dispor a trocar opiniões sobre seus valores, atitudes e comportamentos e, realmente, expor-se a uma crítica construtiva (Delitti, 2008). Algumas pessoas podem não se beneficiar tanto do trabalho de grupo, ou podem obter benefícios somente após um certo período de terapia individual.
Então, a terapia de grupo pode ajudar o cliente? De acordo com Yalom (2006), a psicoterapia em grupo oferece benefícios significativos aos indivíduos, bem como a terapia individual. O terapeuta analítico-comportamental, assim como na terapia individual, utilizará princípios da análise do comportamento em suas observações e intervenções, irá estabelecer vínculos, ouvir relatos, observar e interpretar comportamentos emitidos durante as sessões a fim de fazer com que o cliente discrimine quais as variáveis ele está sob controle e que lhe traz sofrimento. Entre as técnicas utilizadas durante as sessões de terapia, estão o reforçamento, a extinção, o treino discriminativo, a modelagem, a modelação, o treino de auto-observação, além da utilização de recursos como fotos, textos, vídeos, exercícios, e etc.
Os benefícios do atendimento em grupo estão associados com a aproximação do ambiente social e natural dos participantes. Ou seja, existe uma procura em aproximar a terapia de grupo de uma situação natural, facilitando a aprendizagem de comportamentos exigidos em situações de interação e generalização do que foi aprendido (Kerbauy, 2008). A maior vantagem da terapia de grupo é se beneficiar de momentos onde situações como estas são reproduzidas, porém, de uma forma gradual e controlada, facilitando a aquisição e treino de comportamentos que não seriam emitidos em ambiente real (Derdyk, 2006).
Os grupos podem ser formados de maneira homogênea e heterogênea, com mulheres ou homens, com queixas semelhantes e diferentes, depende da função de cada grupo e qual o objetivo a ser alcançado. Encontra-se na literatura uma variação na quantidade recomendada de participantes, mas quando se estabelece esse número é preciso pensar na desistência de alguns membros no decorrer do grupo e mesmo em um número que facilite a participação individual de cada um. Podem ser criados grupos abertos, que não têm tempo determinado para encerrar, e grupos fechados, que já começam com a quantidade de sessões predeterminadas. As sessões em grupo, na maioria das vezes, variam entre 90 minutos e 2 horas.
Os objetivos do grupo terapêutico têm que ficar claro para cada participante, havendo a possibilidade de mudança no decorrer do grupo. Vale ressaltar, que assim como na terapia individual, o sigilo é algo a ser lembrado a fim de favorecer com que os indivíduos do grupo se sintam à vontade para exporem aquilo que sentem e fazem. A seleção dos membros para o grupo também é de grande importância. É preciso que o terapeuta faça entrevistas anteriores ao início do funcionamento do grupo para que os participantes interessados sejam avaliados e direcionados para o grupo que mais atende às suas demandas ou a princípio para uma terapia individual.
Durante o desenvolver de um grupo é possível observar as mudanças nas relações e a evolução comportamental dos participantes, na medida em que estão sendo modelados, reforçados e, muitas vezes, punidos pelos próprios membros do grupo, o comportamento vai respondendo às contingências em vigor e alterando muitas vezes a demanda ou a queixa da terapia. A maior parte do funcionamento do grupo, segundo Kerbauy (2008), é destinado a manutenção de alguns comportamentos já obtidos durante o processo terapêutico do grupo. Comportamentos estes que são evocados e modelados durante os encontros realizados, afim de que estes sejam generalizados para o ambiente natural do cliente.
De acordo com alguns autores, ensinar análise funcional ao cliente é um dos melhores procedimentos terapêuticos. No grupo terapêutico a história de vida dos diferentes indivíduos pode ser evidenciada, questionada e utilizada como modelos para novos repertórios dos participantes do grupo, portanto, torna-se uma oportunidade de o indivíduo observar e refletir sobre suas próprias habilidades sociais e discriminar seus comportamentos, utilizando a análise funcional para adquirir autoconhecimento e, assim, beneficiando-se de suas próprias análises.
Outro ponto importante que deve ser analisado é que ao se propor ser um terapeuta de grupo, o profissional passa também a ser membro do grupo, com papel diferente, mas, parte do grupo, só que agora mais exposto, já que é alvo não só de um, mas de vários clientes. Para se tornar um terapeuta de grupo é preciso ficar atento aos dois aspectos que influenciam e determinam o seu desempenho: o conhecimento teórico e seu repertório de vida adquirido ao longo dos anos (Deryk & Sztamfater, 2008). A habilidade mais importante para quem quer ser um terapeuta de grupo, assim como na terapia individual, certamente é a audiência não punitiva. Muitas outras características são necessárias, como tentar favorecer a auto observação e autoconhecimento, o fornecimento de feedbacks. É preciso também que o terapeuta tenha uma postura segura para não produzir nos participantes sentimentos semelhantes ao que está sendo expressado. Porém, existem habilidades que são imprescindíveis ao terapeuta que irá conduzir o grupo como saber facilitar a participação e interação dos membros, fazer com que o grupo mantenha o foco, mediar conflitos e assegurar que as regras estabelecidas pelo grupo sejam cumpridas. Apesar de tantos “critérios” para assumir esse papel, na maioria das vezes, o próprio grupo se reforça, diferencialmente, de maneiras negativa, positivamente, natural e espontânea. O atendimento em grupo é um processo que torna o cliente ativo e participante, levando-se em conta que o próprio grupo movimenta o processo.
A coterapia acontece quando dois terapeutas atendem ao mesmo tempo, geralmente um conduz e outro observa e vice e versa, mas é possível que os dois façam intervenções durante a sessão, além disso, é necessário entrosamento e afinidade para que isso ocorra sem interferência no processo e no papel de cada um durante a sessão, um sempre vai conduzir e outro observar e fazer anotações sobre o grupo. A coterapia é algo que precisa ser decido antes que o grupo comece a trabalhar. A depender do tamanho do grupo, é possível conduzir um grupo sozinho, mas as vantagens em se ter uma coterapia são maiores, tendo em vista a quantidade de estímulos que o terapeuta está exposto numa sessão com muitos clientes. São muitos comportamentos verbais e não verbais para se ficar atento. Quando existe uma coterapia os papéis são divididos, enquanto um terapeuta conduz ou intervém, o outro fica sobre controle de outros estímulos do grupo e vice versa. Portanto, essa modalidade de atendimento promove muitos ganhos no grupo envolvido.
Vimos até agora como planejar, montar, conduzir, se tornar um terapeuta de grupos, mas não falamos das dificuldades existentes ou possíveis dentro desse processo. Na literatura se fala em muitas vantagens e desvantagens do atendimento em grupo e cita sempre como a única desvantagem a falta de acesso ao conteúdo individual de cada participante do grupo.
Algumas dificuldades podem acontecer na organização, na elaboração dos objetivos, na determinação dos temas, na seleção dos participantes, no relacionamento interpessoal do grupo, entre terapeutas e clientes, clientes e clientes e terapeutas e terapeutas. Talvez as dificuldades apresentadas sejam devidas à falta de experiência na organização e planejamento do grupo, à falta de exigências em alguns critérios para que aconteça o grupo e na falta de experiência e habilidade do (s) terapeuta (s). Por isso, são detalhes que precisam ser avaliados com muito critério e durante todo o processo. O terapeuta e o coterapeuta podem estabelecer que sejam feitas avaliações constantes sobre todo o processo, desde a captação de cliente até os ganhos obtidos pelos participantes. No entanto, não existe um formato pronto de uma condução adequada.
Então é de grande importância haver preparo para lidar com tantos estímulos que o atendimento em grupo coloca sob – responsabilidade do terapeuta. Preparo técnico e teórico, habilidade e disposição podem ser a chave para o sucesso dessa modalidade de atendimento.
Referências bibliográficas:
Banaco, R. A. (2008). A terapia Analítico Comportamental em um grupo especial: a terapia de famílias. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP: ESETec. Editores Associados
Delitti, M. (2008). Terapia Analítico Comportamental em Grupo. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP: ESETec Editores Associados
Derdyk, P. R. & Sztamfater, S. (2008). Tornando-se um terapeuta de grupos. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP: ESETec Editores Associados
Kerbauy, R. R. (2008). Terapia Comportamental de grupo. Em Terapia Analítico Comportamental de Grupos. Santo André, SP:ESETec Editores Associados
Yalow, I. D. (2006). Psicoterapia de grupo: teoria e prática. Porto Alegre : Artmed